quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Entrevista com o escritor Wagner Torres de Araujo.

Por Shirley M. Cavalcante (SMC)
Wagner Torres de Araujo, carioca da Zona Norte, não adaptado à formação de técnico de nível médio e ao trabalho em indústrias. Na verdade, sempre ansiou pelo conhecimento e cultura mais amplos. Por isso abraçou a formação em História, e com ela, exerce o magistério no ensino básico. Araujo tem trabalhado em cursos e colégios, públicos e privados, em vários locais do Rio de Janeiro.
Atualmente atua no tradicional Colégio Pedro II. Além disso, participa também de um laboratório pedagógico dedicado à formação continuada do professor, administra dois blogs direcionados aos estudantes de ensino básico (Engenho da História e Com o Tempo) e uma página do Facebook com sugestões de leituras (Wagner Comenta Livros) que também é apresentada como blog.
“A ficção se aproxima tanto da realidade, que alguns pensam que os contos sejam relatos de experiências. Não são. Gosto da expressão “realidade ficcional”.”

Boa Leitura!

Escritor Wagner Torres de Araujo, é um prazer contarmos com a sua participação na Revista Divulga Escritor. Conte-nos,em que momento se sentiu preparado para publicar “Memórias Dispersas”?
Wagner Torres - Este trabalho estava latente havia anos. Desde criança escrevia versos que imaginava que fossem poesia. Um ou outro podia não ser de todo ruim. Em 2013, uma de minhas crônicas, “Questão Política”, foi publicada na coletânea feita pelo Prêmio UFF de Literatura. Isso me animou bastante. Nos últimos anos fui muito incentivado por minha mulher e resolvi transformar alguns dos contos escritos em um livro. Assim surgiu  “Memórias Dispersas”.

Apresente-nos a obra.
Wagner Torres - Não é tarefa simples fazero que você pede. Este livro conta com 29 histórias bastante diferentes. Mesmo assim, há relações entre todas elas. São situações predominantemente urbanas, mas bastante variadas. Acima de tudo, os contos mostram os sentimentos dos personagens. Mostram as pessoas de forma tão natural e suave, que todos os leitores se identificam com algum personagem ou situação.

Quais temáticas estão sendo abordadas por meio dos textos que compõem a obra?
Wagner Torres - As temáticas são bastante variadas, como são diversas as situações e os ambientes onde se passam. Algumas são bem curtas e outras um pouco mais longas. As histórias estão ligadas a ocorrências cotidianas, humanas, onde os sentimentos dos personagens são mostrados intensamente. Os personagens estão sempre ligados ao Rio de Janeiro por viverem na cidade, mas nem sempre são cariocas, nem todos os eventos acontecem no Rio de Janeiro. Se os locais fossem alterados, não mexeríamos com as ideias básicas, pois as situações são humanas. Tudo é fruto das observações do autor e da imaginação. A ficção se aproxima tanto da realidade, que alguns pensam que os contos sejam relatos de experiências. Não são. Gosto da expressão “realidade ficcional”.

Quais critérios foram utilizados para escolha do título que compõe a obra?
Wagner Torres - A ideia do título do livro brotou em minha mente quando estava fazendo a revisão de um dos contos, que recebeu o mesmo título. Imaginei naquele momento que muita gente apostaria que essa e as outras fossem histórias vividas. Entendi que todos os contos causam a impressão realista, como se fossem memórias. Ao mesmo tempo, tudo resulta de fragmentos de observações que faço às pessoas com quem convivo, que observo nas ruas, casos que me contaram, que li nos jornais. Esses fragmentos são misturados, processados, ressignificados e transformados em criação ficcional. Portanto, são memórias, sim, embora dispersas nas vivências humanas em geral.

Qual o conto que mais o marcou no momento da escrita?
Wagner Torres - Cada conto me emociona de forma diferente, mas todos são intensos para mim. Eles me emocionaram quando escrevi, me tocaram em cada revisão que fiz e tornam a me emocionar a cada nova leitura que faço.

O que mais o encanta nos contos?
Wagner Torres - Eles são expressão literária, portanto, são minhas construções artísticas. Assim sendo, a emoção dos personagens é o ponto alto. Alguns dos leitores já me deram retorno nesse sentido, dizendo que se emocionaram. Essa é a minha maior alegria.


Leia entrevista completa clicando no link abaixo:


Sabedoria e conhecimento andam juntos em "Nego véio"


Por Shirley M. Cavalcante(SMC)
José Carlos Barbosa nasceu em 2 de setembro de 1948 em Serra Azul (SP), na Fazenda Belo Horizonte. Radicou em Ribeirão Preto desde 1955, terra que o adotou como se fosse sua terra natal. Sempre estudou em escolas públicas, mas ao ingressar na universidade não chegou a terminar o curso de administração.

Tem outros cursos com certificados extracurriculares:
IBTF – Instituto Brasileiro de Educação e Tecnologia de Formação a Distância, Cooperativismo e Auto Emprego a Distância, Habilidade Específica em: Negociação e Resolução de Conflitos e A Gestão de Equipes do Programa Auto Emprego, com carga horária de 200 horas. Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho dezembro de 2006; Certificado:IBTF – Instituto Brasileiro de Educação e Tecnologia de Formação a Distância, Cooperativismo e Auto Emprego a Distância, com Habilidade Específica em: Como Elaborar um Plano de Empresa I e II, do Programa de Auto Emprego, com carga horária de 200 horas, Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho dezembro de 2006; Certificado –IBTF: Instituto Brasileiro de Educação e Tecnologia de Formação a Distância Cooperativismo e Auto Emprego a Distância, com Habilidade em: Plano de Marketing Estratégico, do Programa de Auto Emprego, com carga Horária de 145 horas, Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho, dezembro de 2006. Foi caminhoneiro por algum tempo,  fundador do primeiro jornal no norte de Mato Grosso “Negócios e Negócios do Notão”, microempresário no ramo atacadista e representante comercial. Aposentado, hoje é presidente da Ordem dos Jornalistas de Ribeirão Preto e Região, membro da Casa do Poeta de Ribeirão Preto; UEI “União dos Escritores Independentes” de Ribeirão Preto; Grupo Médicos Escritores e Convidados. Barbosa é autor da Mostra dos Escritores de Ribeirão Preto e Região e Diretor do Sarau de Todas as Tribos.
Boa Leitura!

Escritor Barbosa, é um prazer contarmos com a sua participação na Revista Divulga Escritor. Conte-nos, o que mais o atrai na arte de escrever?
Barbosa - Quero dizer que se falar José Carlos, não vai encontrar viv’alma que me identifica; agora se falar “o Barbosa escritor”, como sou conhecido em minha cidade e região... Para mim, escrever é como se estivesse viajando. Quando o tema chega, esqueço de tudo ao meu redor, então sento e as horas se vão, e chego a escrever um livro em uma noite, como tenho o mais recente escrito, ainda no prelo.

Como surgiu inspiração para o seu livro “Nego Véio”?
Barbosa - Desde a juventude eu gostava de escrever. Quase todo fim de tarde sentava e escrevia alguma coisa; era como se transferisse para o papel as confidências do dia a dia, mas acabava de escrever, acho que o estresse estava ali depositado, então jogava fora. O livro “Nego Véio” começou a ser escrito em um maço de cigarros desmanchado; guardei no bolso e depois criou vida, então guardei. Isto foi na década de 70, no entanto, foi publicado só agora em 2013.

Apresente-nos a obra.
Barbosa -“Nego Véio” nasceu em algum lugar da África, e quando estava atingindo o Kafo,foi capturado, como todos os escravos; foi comprado e viveu em uma fazenda. Era um exemplo e conselheiro dos escravos, era um iluminado que foi chamado para ser acompanhante e conselheiro do patrão, mesmo a contragosto dos seus.

Quais os principais objetivos a serem alcançados por meio do enredo que compõe “Nego Véio”?
Barbosa - Transmitir aos demais que, mesmo sendo escravo, ele parecia ter um conhecimento que não se sabe o porquê, e como uma mente àquela época tão distante poderia ser iluminada.

Quais os principais desafios para a escrita desta obra literária?
Barbosa - Esta obra foi escrita em 1974, e é a única obra publicada pela FUNPEC –Editora. Em 2013, um editor me fez um desafio:disse que publicaria um livro meu se eu entregasse os originais no prazo oito dias e me daria de graça 500 livros. Esse foi o tempo suficiente para remontar o livro e assim foi. Ele perdeu a aposta e cumpriu com o prometido.

Qual o momento que mais o marcou enquanto escrevia o enredo que compõe o livro?
Barbosa - O ponto crucial deste livro foi o pranto no seu final, mas foi a minha maior felicidade, porque a maioria dos que o leram chorou ao ler o final. Então, foi um livro que causou comoção em todos os meus leitores.

Além de “Nego Véio”, você tem outros livros publicados. Apresente-nos os títulos e segmento.
Barbosa -
01 - Coisas de Boteco 1- Trocando o Divã pela mesa dos bares (3ª edição, esgotado)
02 - Coisas de boteco 2- A Caneta Etílica(esgotado)
03 - Coisas de boteco 3 - Verdades e mentiras
04 - Coisas de Boteco 4 - Essas mulheres
05 - Zumbi dos Palmares - O Rei Negro do Brasil 
06 - Luiz Gama - Precursor abolicionista (1ª biografia)
07 - Serra Azul - Oitenta anos de causos e prosa
08 - Nego Véio
09 - Organizador de uma Antologia da Ordem dos Velhos Jornalistas de Ribeirão Preto.
Aguardem, vem aí, para início do ano, “Quem matou o Mortalha?”

Leia entrevista completa clicando no link ou imagem abaixo:


As obras de Thaïs de Mendonça Jorge


Autora de vários livros, um, em especial que interessa a todas as pessoas que utilizam a internet para informação, enviou-nos material para divulgação. Temos uma pequena entrevista, capas e resenhas. Apreciem, sem moderação!

Entrevista
Thaïs de Mendonça Jorge
"Cheiro de lenha queimada, gosto da vida na roça: mineiridade em tudo"

Thaïs de Mendonça Jorge é doutora em Comunicação e mestra em Ciência Política pela Universidade de Brasília. Jornalista profissional, formou-se pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, e trabalhou em órgãos como o Jornal do Brasil, O Globo, Jornal da Tarde, O Tempo, Hoje em Dia; revistas Istoé, Desfile, Pais e Filhos, Ele/Ela, Manchete e na TV Brasil.
Atual Secretária de Comunicação da UnB, tem ainda longa experiência em assessoria: Banco Interamericano de Desenvolvimento, Banco Mundial,  ministérios do Meio Ambiente e de Planejamento, Orçamento e Gestão, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Foi assessora de assuntos internacionais nos ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e de Relações Exteriores e consultora da Unesco para assuntos de comunicação.
Na Universidade de Brasília, é professora na área de Jornalismo. Seu sexto livro está no prelo: "Viver o Jornalismo. A entrevista no dia a dia da profissão".

- Você nasceu em Congonhas, antiga Congonhas do Campo (MG). O que ficou de Minas em suas obras e em você?

Thaïs de Mendonça: - Ficou o cheiro de fumaça de lenha queimada, nos fogões do interior, que eu tanto aprecio; ficou o gosto pela vida tranquila da roça, embora nunca tenha vivido na roça, mas pelo tanto que andei nos rincões de Minas Gerais. Ficou a mineiridade, o "espírito de Minas" de que falava Drummond, em tudo: na sinceridade, às vezes na rudeza; no sentido de justiça, de procurar ver sempre o lado do outro; no jeito de encarar a vida de peito aberto, para o que der e vier. E também no senso de economia, de saber poupar e guardar, que, acho, veio de meus avós italianos, refugiados de guerra. Eu ainda não escrevi ficção, mas se você procurar bem verá que um certo ar mineiro está nos meus seis livros.

- Em 10 anos, você escreveu seis livros. Como é sua rotina diária?

TM: - Sou meio workaholic. Sempre fui. Comecei a estagiar no Diário de Minas, na década de 1970, por intermédio de meu tio Cyro Mendonça. E gostei da coisa. Nessa época, ainda nos primeiros anos de faculdade, eu estagiava à tarde e estudava de manhã. Com o tempo, fui fazer frilas para o Estado de Minas. Meu chefe era o Roberto Drummond, que dava a maior força para os meus textos, influenciados pelo Jornal da Tarde, por João Antônio e pelo que - nem sabíamos - foi batizado como "Novo Jornalismo". Atualmente, divido meu tempo entre a Secom da UnB e as aulas. Sou viciada em noticiário, escuto rádio, leio jornal (de papel) todos os dias. Na minha casa não tem Netflix e só há um ritual sagrado: assistir ao Jornal Nacional. Vejo todos os noticiários da noite. Nas horas vagas, pesquiso, escrevo. Tenho planos de encarar um romance.

- O romance já tem título?

TM: - Tem escopo, resumo e um começo. Ainda não me decidi quanto ao título. Uma parte da história é passada em Belo Horizonte. A personagem principal é uma jornalista.

- Você vai lançar um livro de entrevistas ainda este ano. "Viver o Jornalismo. A entrevista no dia a dia da profissão" é autobiográfico?

TM: - Não é uma autobiografia, embora tenha elementos da minha história como jornalista. Reúne entrevistas que fiz ao longo da vida, com famosos e não-famosos: Darcy Ribeiro, Caetano Veloso, Elis Regina e seu filho, Marcello Bôscoli, Sônia Braga e algumas reportagens, uma delas sobre a morte de Carlos Drummond de Andrade. É um livro para estudantes e explica como fazer uma entrevista, quais são os requisitos, como se preparar. E quais são as armadilhas, as esparrelas que o jornalista enfrenta, os erros que comete. Nesse sentido é autobiográfico: ali estão os erros que cometi, as cascas de banana em que escorreguei e que, acho, podem ser úteis (ou engraçadas).

Livros da autora

Manual do Foca. Guia de sobrevivência para jornalistas. São Paulo: Editora Contexto, 2008.

UnB 50 anos: história contada (org.) Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2012.

Mutação no Jornalismo: como a notícia chega à internet. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2013.

Notícia em fragmentos. Análise de conteúdo no Jornalismo (org.). Florianópolis: Editora Insular, 2015.

A verdadeira Dieta da Mente. 101 perguntas e respostas inteligentes para emagrecer. Com: Márcia de Mendonça Jorge e Maria Luisa de Oliveira Salomon. Brasília: Editora Casa das Musas, 2015.

Viver o Jornalismo: a entrevista no dia a dia da profissão. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2018. (no prelo)




Resenha

Mutação no dia a dia das pessoas


A notícia é um dos elementos da transformação cultural que está ocorrendo hoje no mundo. O livro “Mutação no jornalismo. Como a notícia chega à internet” coloca em discussão o tema da notícia como um objeto cambiante, no panorama das mudanças sociais que a sociedade descortina, e que envolvem a comunicação. O relato noticioso, feito de fragmentos da vida cotidiana das pessoas, é influenciado e influencia a maneira como nós nos situamos no universo.

A hipótese do livro é a de que a notícia enfrenta hoje um novo processo de mutação, com as Tecnologias da Informação e da Comunicação, e mais uma vez procura se adaptar às transformações da sociedade. As informações ganharam novas plataformas eletrônicas para se exibir, espraiando-se por terrenos com som e imagem, permitindo mensagens simultâneas e instantâneas e convocando à participação do leitor/ usuário.

Ao conquistar novos públicos na rapidez dos tweets, o relato dos fatos, interpretado pelo jornalista com a contribuição da audiência, muta: sua linguagem passa a ser curta, condensada no visor de cristal líquido do celular ou do tablet; ou longa, incrementada com muitos adereços: infográficos animados, áudios variados, e links para outros materiais. Ubíqua, a comunicação alcança as pessoas onde quer que estejam e assim ela se naturaliza e se torna parte indistinguível do mundo da vida pós-moderna.

Segundo a autora, a mutação no jornalismo é um fenômeno que se manifesta de forma súbita, porém precisa de um fator detonador. Além de ser um processo de transformação em si mesma, leva a uma série de outras mudanças que afetam o fazer jornalístico, os valores dos jornalistas, das organizações de mídia e da sociedade, e o produto: a representação social da notícia, sua apresentação gráfica e a forma de ser absorvida.

A autora trouxe o conceito de mutação da Biologia, na qual a mutação é uma repentina e aleatória mudança no material genético de uma célula, que provoca uma revolução nela mesma e em outras células dela derivadas - seja na aparência, seja no comportamento. A analogia que Thaïs de Mendonça faz é a de que, em decorrência da tecnologia, a notícia, como produto posto a serviço do público; como resultado da linha de produção das empresas midiáticas, o que envolve a própria organização e a cultura dos produtores-jornalistas; como fenômeno que lê, interpreta e informa a sociedade, sofre várias mutações.

Ela consegue identificar mutações gênica, cromossômica, somática, supressora e até pontual na história do jornalismo. "Alteração de base que ocorre dentro da sequência que carrega a informação genética", um tipo de mutação nos genes da notícia teria ocorrido, por exemplo, quando a humanidade aprendeu a falar e o conhecimento pôde ser difundido. A mutação cromossômica, no caso, poderia ser vista quando a notícia tomou a forma escrita: mudanças "invisíveis" no DNA afetaram, depois da prensa de Gutenberg, o formato como os fatos seriam comunicados.

Já uma mutação somática teria acontecido no momento em que, abandonando um passado de opinião misturada com informação, a máxima do jornalismo seria "only news, no comments" (só notícias, nenhum comentário), e bateu-se o martelo na sacralidade dos fatos. A mutação supressora teria propiciado a diferenciação entre os gêneros jornalísticos, definindo o que seria nota, notícia, reportagem, em contraposição a artigo, editorial, análise, opinião. E a mutação pontual, mais recente, propiciou a implantação do estilo pirâmide invertida que, no jornalismo, consiste em selecionar os fatos por ordem de importância e relevância.

Para mostrar como a notícias vem transformando as redações jornalísticas, a pesquisadora realizou pesquisa no UOL/ Folha de S. Paulo e no Clarín (Buenos Aires).  Com riqueza de detalhes, ela mostra como funciona um ambiente digital de elaboração noticiosa, de onde saem os conteúdos que chegarão à casa ou ao celular dos usuários sob a forma de página de site, chamada de celular ou mensagem nas redes sociais. A obra originou-se da tese de doutorado da autora, defendida no Programa de Pós-Graduação da Universidade de Brasília, e foi publicada em 2013, quando as mídias sociais estavam apenas se afirmando, mas serve para prever o que vem por aí: uma mutação ampla e generalizada em nossas vidas, com robôs trabalhando ao nosso lado e uma naturalização da tecnologia que nem conseguimos imaginar.

Casa Grande e Senzala em quadrinhos!

Uma das obras mestras da sociologia e da historiografia brasileiras mereceu uma adaptação em quadrinhos. Trata-se de Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre.

Esta versão quadrinizada foi publicada pela primeira vez em 1981 com adaptação feita pelo antropólogo e historiador pernambucano Estevão Pinto. O texto em quadrinhos, como notarão aqueles que conhecem o teor da obra-mestra de Freyre, procurou manter-se o mais próximo possível do texto original. As ilustrações da edição original foram feitas por Ivan Wasth Rodrigues e foram publicadas em preto e branco, a fim de que a obra tivesse preço acessível. Mas a partir da segunda edição, em 2000, para comemorar o centenário de nascimento de Freyre, os desenhos originais foram colorizados por Noguchi.



Para quem já conhece a obra, vale a pena conferir esta edição quadrinizada. E para quem nunca se atreveu a ler o trabalho original, esta adaptação dá uma boa ideia do que Freyre pesquisou e publicou.
Como ele mesmo afirma na introdução deste livro: "Ivan Wasth Rodrigues soube fazer de Casa Grande & Senzala, do modo o mais fiel ao livro, um regalo para os olhos e a inteligência da criança brasileira.. Da criança brasileira, do adolescente e do adulto".

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

'A memória é uma espécie de cravo ferrando a estranheza das coisas'

por Shirley M. Cavalcante (SMC)

Lau Siqueira nasceu em Jaguarão (RS), mas atualmente reside na Paraíba. Siqueira publicou 7 livros, quais sejam: “O Comício das Veias”, Editora Ideia, 1993; “O Guardador de Sorrisos”, Editora Trema, 1998; “Sem Meias Palavras”, Editora Ideia, 2002 e “Texto Sentido”, Editora Bagaço, 2007, todos esgotados.
Pela Editora Casa Verde, de Porto Alegre, publicou “Poesia Sem Pele”, 2011, “Livro Arbítrio”, 2015 e “A memória é uma espécie de cravo ferrando a estranheza das coisas”, lançado em dezembro de 2017 em Jaguarão e Porto Alegre (RS). Teve poemas incluídos em importantes antologias no Brasil, Portugal, Argentina e Moçambique. Tem poemas traduzidos para outros idiomas e escreve para jornais, blogs, portais e revistas.
“Em João Pessoa será no dia 2 de fevereiro, a partir das 19 horas, na Budega Arte Café, um lugar onde tem acontecido muita coisa importante na arte contemporânea da Paraíba.”
Boa Leitura!

Escritor Lau Siqueira, é um prazer contarmos com a sua participação na Revista Divulga Escritor. Conte-nos, o que mais o encanta na arte poética?
Lau Siqueira - Definitivamente, são os estranhamentos. As provocações que muitas vezes encontramos num único verso. Muitas vezes, até mesmo o que eu não entendo direito e de certa forma nem sei como me ganhou,provoca um imenso prazer estético. A emoção inesperada é indescritível para um leitor. Um prazer sem parâmetros fora da leitura. Tem texto que desafia o leitor, e isso é o que mais me interessa na poesia. Isso não significa que esse encantamento venha de uma imensa complexidade. Algumas vezes vem da simplicidade, ainda que a simplicidade seja exatamente o que há de mais complexo. Mas, observe por exemplo esses dois versos de James Joyce: “O vento indomável que passa não vai mais/ Voltar, não vai voltar.” Há um tipo de deslumbramento aí que leva você a pensar que ele não está falando exatamente do vento. E realmente não está. O vento é só o motivo. Esses versos estão como epígrafe no meu livro.

Apresente-nos o processo para seleção dos textos que compõem o seu livro “A memória é uma espécie de cravo ferrando a estranheza das coisas”.
Lau Siqueira - Na verdade nunca levo muito a sério qualquer critério para a seleção dos textos nos meus livros. Escrevo de forma quase compulsiva com silêncios absurdos, às vezes. Quando escrevo um poema e sinto que ele não se completou, não tenho o menor pudor em rasgar ou deletar. Trabalho num poema enquanto vejo nele uma possibilidade. Quando não, tanto faz o tempo que tenha investido na criação. Elimino imediatamente. Acredito que em todos os meus livros aconteceu praticamente o mesmo processo. No mais, não tenho compromisso com temáticas e apenas vou escrevendo. O desafio é a linguagem. As domas da palavra. A forma é o conteúdo. É como se eu estivesse escrevendo um único livro publicado em capítulos. Assim, quando vou finalizar o livro me importo menos com isso. É como se cada poema tivesse vida própria. Como se cada poema justificasse o livro. Um processo, aliás, que se dá quase que naturalmente, com poucas intervenções mais objetivas.

Como foi a escolha do título?
Lau Siqueira - Eis a parte mais difícil. Até porque comecei a escrever esse livro com outro propósito. Seria outro livro, bem diferente. Era para atender o convite de outra editora com uma proposta muito específica. No meio do caminho mudei tudo, e o título que eu tinha para o outro livro perdeu o sentido. Então comecei a recompor tudo, escrever outros poemas, até decidir colocar um ponto-final. Mas, e o título? Eu tinha ficado sem perspectiva de título com as mudanças. Essa, talvez, tenha sido a parte mais difícil. Foi então que percebi o quanto a estrofe de um poema completava o meu olhar sobre o conjunto da obra. Daí, resolvi bater o martelo e a editora topou.

Quais temáticas estão sendo abordadas nesta obra literária?
Lau Siqueira - Na verdade, a minha preocupação maior é com a forma. Gosto de desconstruir meus próprios motivos. Os temas abordados são o que menos importa. No entanto, parece que tem sido uma tendência nos meus últimos livros. Vou realizando rupturas sequenciais, mas sempre com um pé na filosofia, no minimalismo, abordando o tempo, a condição humana, a vida contemporânea. Os temas realmente dialogam com o momento vivido. Ah, também, este talvez seja o meu livro com o maior número de poemas eróticos. Ainda escrevo um livro apenas com poemas eróticos ou mesmo pornográficos. Acho desafiador demais. Difícil demais não cair na mesmice e na vulgarização da própria linguagem poética.

Como foi a escolha da imagem para capa?
Lau Siqueira - A Editora Casa Verde cuida muito bem disso para mim, mesmo me consultando sempre. Por isso as escolhas não são difíceis. O projeto gráfico e a capa são assinados pelo poeta Roberto Schmitt-Prym, um dos mais competentes profissionais da área que conheço. Ele convocou a artista plástica Bianca Santini para fazer um desenho abstrato, conforme eu tinha solicitado e, particularmente, adorei o resultado. As três capas dos meus livros pela Casa Verde são excelentes. Criativas, diferenciadas. Portanto, o contato com esses profissionais me tranquiliza. A editora Laís Chaffe cuida de tudo com muito profissionalismo.

O que mais o encanta em “A memória é uma espécie de cravo ferrando a estranheza das coisas”?
Lau Siqueira -O que mais me encanta é conseguir fazer um livro viável, do ponto de vista do custo da edição.Mesmo estando radicalmente fora dos grandes esquemas de distribuição e das grandes editoras. Mesmo sem grandes atenções da mídia. Temos vendido por e-mail, e sempre existe a possibilidade de um novo lançamento. Essa “sustentabilidade” é desafiadora, mas me encanta. Ou seja: sem patrocínio, meus livros vão sendo pagos pelos leitores e leitoras aos quais sou sempre muito grato.

Leia entrevista completa clicando no link ou imagem abaixo:


Romance histórico 'La Casa Amarilla' busca interação crítica do leitor


Por Shirley M. Cavalcante (SMC)

Iara Ladvig Budelon nasceu em 1965 em Porto Alegre (RS). Aos 16 anos escreveu o primeiro romance “Areias Escaldantes”, não publicado. Na escola de Ensino Fundamental Visconde de Pelotas participou de concursos literários promovidos pelo Grêmio Estudantil, onde foi incentivada pela orientadora educacional Vânia Mendes e a professora de língua portuguesa Maria Teresinha Sentinger.
Em 1982, participou deconcurso literário promovido pela LBA/Sul Brasileiro, no Ano Nacional do Idoso na categoria conto, obtendo menção honrosa. Graduada em Serviço Social (1994), com extensão em Gestão do Desenvolvimento Humano pela ULBRA-RS, trabalhou na Gestão de projetos governamentais em prefeituras do interior. Graduanda em Direito, blogueira e escritora freelance, Iaraescreve emtodos os gêneros: poesia, crônica, contos, romance e artigos de opinião. É autora do livro “Nós Desfeitos de Nós – Desafios”, no gênero autoajuda, em 2011 pela Editora Alcance.
“Por se tratar de um romance histórico, equilibrar na ficção a verossimilhança com a historiografia, criando um espaço de diálogo coeso entre realidade ficcional e empírica, buscando e despertando a interação crítica do leitor.”
Boa Leitura!

Escritora Iara Ladvig Budelon, é um prazer contarmos com a sua participação na Revista Divulga Escritor. Conte-nos, o que a inspirou a escrever o romance “La Casa Amarilla”?
Iara Budelon - Primeiramente, agradeço a oportunidade de participação e divulgação do meu livro. A inspiração para escrever o romance “La Casa Amarilla” se deve a sonhos recorrentes entre a fase da adolescência e a idade adulta. Costumava sonhar com uma casa amarela, me sentindo íntima daquele ambiente, como se realmente morasse ali. O sonho gerava um déjà vu. Um dia, ouvindo a trilha sonora de Gypsy King, tive vontade de escrever um romance, e a casa amarela seria o cenário perfeito, envolvendo descendentes de espanhóis, um amor quase impossível pelos ditames morais impostos à época, uma mulher forte e destemida lutando para sobreviver em tempos difíceis marcados pelo jugo do coronelismo, a cultura machista segregadora de direitos, ganância e preconceitos de gênero, raça e social, revelando aspectos desumanos da história da humanidade;aspectos esses, que se prolongam no tempo, com uma acuidade deficitária da percepção do outro. Iniciei a escrever o romance em 2010, e terminei em 2011, quando fiz o registro da obra no Escritório de Direitos Autorais – EDA. Na época, encaminhei em arquivo Word para algumas editoras em São Paulo, para fins de avaliação da obra. Somente esse ano foi possível a publicação.

Como foi a escolha do título?
Iara Budelon - O título surgiu em decorrência do sonho com a casa amarela, ambientando o enredo em torno dela.

Apresente-nos a obra.
Iara Budelon - O romance histórico é ambientado em 1927, na cidade fictícia de Pinedos. Uma família de descendentes espanhóis, os Saavedra, é dizimada por doenças mortais, restando apenas mãe e filho, Teresa e Alejandro.Com pouco dinheiro e muitos hectares de terras férteis, recomeçam praticamente do zero. Com a escassez de recursos, reconstroem o casario amarelo, bastante desgastado pelas ações do tempo, e investem na cultura do café.
Em um passeio pela cidade, Teresa conheceu o vizinho lindeiro. E após anos de viuvez, entregou-se a uma paixão, entre uma série de encontros e desencontros amorosos. O bucólico se manifesta em cenas inquietantes, ou mesmo mornas, instigando o leitor a um quebra-cabeça de indagações.
Teresa, soberana em suas decisões, tornou-se a própria vilã ao entregar-se ao claustro dos ditames morais da época.

Quais os principais personagens que compõem a trama?
Iara Budelon -Teresa, protagonista; Esteban, fazendeiro de origem hispânica e lindeiro de Teresa; e Antônio, administrador da Fazenda Saavedra.

Quais os principais desafios para escrita do romance?
Iara Budelon - Por se tratar de um romance histórico, equilibrar na ficção a verossimilhança com a historiografia, criando um espaço de diálogo coeso entre realidade ficcional e empírica, buscando e despertando a interação crítica do leitor.

Leia entrevista completa clicando no link ou imagem abaixo:


E por falar em poetas... Dai Taffarel!

Dia desses, vendo o Facebook, me deparei com uma pessoa falando que iria fazer poesia com fotos enviadas pelos amigos.
Resolvi participar do desafio e mandei a ela esta foto que tirei há bem tempo...



A primeira reação dela foi de dúvida: que diabos era isso?
Expliquei: era a fonte luminosa da Praça da Liberdade. Esses efeitos multicoloridos se deviam a um filtro especial que utilizei.
E aguardei.
E a poesia chegou:

Sou uma fonte luminosa,
Mas confesso, roubei a Liberdade da praça,
Pois sou o que sua imaginação criar.
Uma mistura de cores, desenhos e luzes a encantar.
Para sentir, venha me visitar. 

Verá além de um Belo Horizonte, pode acreditar.

Não tive dúvidas em entrar em contato com ela para divulgar seu trabalho aqui no blog.
Ela tem já publicadas várias poesias nesta Antologia:


O livro Antologia Encontro Poético, publicado pela UNY Editora, tem participação de 11 poetas e poetisas (Albano Luiz; Daiane Taffarel; Emery Sheell, Jullie Veiga; Liviane Matos; Luciana Marques; Manueli Dias; Paulo Roberto Silva; Pedro Pereira; Rafaela Justi; Robson Lima). São poetas iniciantes que nas 148 páginas do livro abordam temáticas variadas, e trazem para suas linhas vivências e representam um pouco da diversidade do Brasil.

Onde comprar:
O livro foi feito em tiragens pequenas, aos interessados, o contato será direto com os escritores, e-mail: daianettur@hotmail.com .

Quem é esta poeta?

Daiane Taffarel, que fez parte do livro, pode ser acompanhada na página: Poesia, mosaicos meus (facebook). Além de escrever, também é servidora pública, nascida em Sorriso - Mato Grosso, em 1985, e residindo atualmente em Santarém - Pará. Sempre gostou muito de ler, escreveu alguns versos em sua época de colégio, porém somente em 2016, retomou a escrita e divulga seus escritos em sua página.
A internet possibilita uma rica troca de experiências entre escrito e leitores, e o livro foi um passo inicial, que aconteceu nesse meio virtual, e acabou mostrando que sonhos são possíveis.

Você é poeta? Isso te interessa!



Está no ar a Coletânea “Poesias de Amor” (tema sugerido por Marcelo de Azevedo Tojal; Gercimar Martins e Evelyn Monique), e dia 16 de fevereiro, daqui a três semanas.

Para esta Coletânea buscamos Poesias de todos os tipos e métricas que abordem o Amor. O Amor em todas as suas faces e formas... o Amor Fraternal; o Amor Platônico; o Amor Rasgado; o Amor Bandido; a Paixão e até mesmo o Desamor.
Veja mais detalhes no link  https://goo.gl/V2fKjx

Nessa Coletânea os Artistas Plásticos e Designers de capa também podem participar enviando sugestões de Capa para a Coletânea. Veja detalhes no link https://goo.gl/27tWHD
      
Já recebemos várias inscrições e ainda estamos aguardando ansiosamente a sua! Importante lembrar que sua participação é Gratuita.

Após recebermos os Textos, faremos uma seleção/avaliação das melhores e publicaremos um livro com os melhores textos. Essa Coletânea ficará à venda na Loja Online da PerSe, com impressão sob demanda, para quem quiser adquiri-la.

Como dissemos, sua participação não terá nenhum custo!

Você encontra todos os detalhes para sua inscrição nos links abaixo:

  1. Quero enviar meu texto: https://goo.gl/9JCMX2
  2. Quero enviar sugestão de capa: https://goo.gl/bemgDQ       

Venha participar da Coletânea “Poesias de Amor”!
Forte abraço,

Equipe Apparere

Os ingleses - eles resistiram ao Nazismo



Em 1940, a Alemanha parecia invencível. Praticamente toda a Europa se dobrava ante Hitler. Apenas a Inglaterra resistia, mesmo abaixo de bombardeios incendiários por parte da artilharia aérea alemã. Quando líderes europeus já defendiam um acordo que evitaria o conflito, mas que faria do nazismo uma grande força mundial, Churchill fez um discurso forte, que inspirou a nação e entrou para a História: “We shall never surrender!” - 

Conheça o povo que não parou diante das tropas militares alemãs: os ingleses.

Editora Contexto. 
Em promoção: de 69,90 por 52,40

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segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Uma resenha para meus dois romances

Maria Cristina Vilela me enviou uma lúcida resenha de meus dois romances, e sua visão focou nas personagens femininas. Confiram:



A leitura do romance de Ricardo Faria – O amor nos tempos de A.I.5 - me proporcionou um turbilhão de sensações: alegria, prazer, ansiedade, curiosidade, inquietude, medo, e sobretudo ternura, pois é de um amigo pelo qual tenho enorme carinho. É um carinho destes recheados de respeito, admiração, amizade, encantamento e tantos outros sentimentos com os quais só as pessoas especiais podem nos presentear.

Confesso que até a metade da leitura, a narrativa me causou um certo tédio, uma inquietação angustiante. Dava-me a impressão de que a vida daquelas pessoas se resumiria num cotidiano sem fim, tramado sob um dia a dia sem surpresas, sem novidades, num levantar, comer e dormir. Senti-me como lendo “Cem anos de solidão”. Contudo, à medida que a leitura avançava, comecei a perceber como aqueles personagens, que à primeira vista pareciam tão previsíveis, tinham uma riqueza psíquica profunda, que os permitiu tecerem uma vida nada convencional diante de um contexto histórico tão sombrio. Em tempos obscuros, afinal a ficção se passa sob a ditadura militar, viver de forma tão rotineira e pachorrenta, parecia ser a medida possível da existência.  No entanto, Afonso, Celina e Haydée se esgueiraram pelos becos e curvas da vida e moldaram uma existência deliciosamente transgressora, recheada de erotismo, de sexo e de gozos intermináveis. Assim, em seus corpos totalmente sexualizados, subverteram toda uma ordem marcadamente opressora em um rito de experiências absolutamente libertadoras.

Naqueles tempos quando tudo era proibido e nada parecia possível, este trio usou seus corpos como vias, como lugares da subversão. O corpo como objeto em si, aquele que recebe e faz a transgressão, talvez seja um dos atos mais revolucionários que se possa imaginar naqueles tristes dias de chumbo. E assim, ao longo da narrativa, fomos nos aproximando, aprendendo a amar aquelas pessoas, que ousadamente criaram uma surpreendente e deliciosa forma de resistir a tanta opressão.

Com isso, aquela trama foi ganhando novos contornos. Comecei a perceber a riqueza psíquica de cada um, manifestada em atos que só podem ocorrer em pessoas cujas subjetividades são insondáveis, são vastas, indomáveis, e mesmo assim, apenas podemos supor.

O trio que vai protagonizar a narrativa, Afonso, Celina e Haydée é cativante e único. Afonso, sem dúvida, é um homem brilhante e sensível. Como professor universitário de História, espera-se que suas atitudes sejam mais progressistas, moldadas por ações mais abertas ao diálogo. Catalisa em si um espirito de liberdade. Haydée, uma jovem universitária, voltada ao debate das esquerdas, filha do movimento hippie, é protótipo de uma boa parcela da juventude da época. Impregnada pela recente liberdade conquistada pelos movimentos da contracultura dos anos sessenta, é encantadoramente livre e fiel aos seus princípios, a ponto de morrer por eles. Assim viveu e assim morreu, devotada aos seus princípios.

Contudo, foi Celina a personagem surpresa desta trama. Mulher moldada para ser nada mais que a mulher de Afonso, nos surpreendeu de tal forma que foi impossível não se apaixonar por ela. Celina me inquietava a cada página lida. Todos os traços da sua previsibilidade foram rompidos de forma, diria eu, abrupta, mas serena. Foi capaz de romper com leveza e ternura com toda a bagagem triste e sombria que até então tinha recebido.

 Como uma mulher oriunda de uma família absolutamente conservadora, de um pai militar, que se manteve virgem até o casamento, e até então, havia experimentado sua sexualidade apenas com Afonso, conseguiu mudar de forma tão radical sua vida afetiva e amorosa? Como ela refez sua subjetividade a ponto de romper com aquela mulher tímida, insegura e submissa, cujas experiências sexuais se restringiam a seu casamento, levando-a a experimentar e a viver sua sexualidade de forma tão intensa e livre?

Para entender Celina, e assim, as rupturas que ela própria se impôs, de forma tão serena, é preciso traçar um pouco de sua trajetória. Ora, em tempos de opressão, quando a palavra de ordem é proibir, censurar, Celina buscou em si todas as formas de rupturas. Foi uma travessia consigo mesma, de idas e vindas num intenso refazer, que lhe permitiu tamanha inflexão.  Mas afinal quem era Celina?

Celina é oriunda de uma família bem ao estilo das famílias mineiras. Foi educada sob as regras de uma família patriarcal. O pai além de conservador, machista e opressor, era militar partidário da linha dura do exército. A mãe nunca se viu como agente de sua vida. Viveu sujeitada sob os mandos do marido, como uma sombra que acabou por morrer de tristeza diante do descaso vivido no casamento.

Assim, Celina se casa com Afonso, ainda muito jovem e virgem. Portanto, seu mundo erótico e sexual se restringe a Afonso e as aprendizagens, se é que assim podemos chamar, daquela família. Diante de tão reduzidas experiências, era possível esperar que Celina reproduzisse aquela realidade vivida. Entretanto, esta mulher nos surpreende de forma inequívoca. Em meio a questionamentos e incertezas, o que era natural dado sua formação, ela dá conta de reinventar-se como mulher, mãe, companheira, amiga e amante. Suas inflexões sexuais ao participar de um trio e depois de um quarteto amoroso, nos colocam o quanto, apesar de nossas primeiras formações, sobretudo de nossos grupos familiares, podem ser rompidas e o quanto devemos estar abertos aos movimentos que a vida nos proporciona. A ela atribuo toda a grandeza deste romance.

O final do volume I me deixou inquieta e temerosa por Celina. A morte de Afonso e Haydée de forma trágica me deixou apreensiva, pois me perguntava se aquela mulher, embora tivesse passado por tantas transformações, daria conta de sobreviver sem a presença daquelas pessoas que foram determinantes em suas rupturas pessoais.

Mas, já no início do volume II - Amor, opressão e liberdade -, ao lidar com as demandas cotidianas impostas pela morte de Afonso, de forma fluída e desembaraçada, Celina navegou nestes novos tempos que a vida lhe impôs com muita maturidade, equilíbrio e tranquilidade. Mais uma vez esta mulher me surpreendeu. 

A tarefa de criar filhos, mesmo que a dois, nunca é pequena. Sem Afonso, cuja figura paterna era inequívoca, Celina apesar dos momentos conturbados, terminou por transformar Nelson e Bia em seres humanos de primeira grandeza.

Com a desenvoltura de Celina ao longo do volume II, diante das demandas profissionais e pessoais, percebe-se o quanto aquela mulher produto de uma sociedade conservadora e castradora foi capaz de refazer-se brilhantemente, construindo tanto para si como para seus filhos, um modo de vida permeado pelo carinho, compreensão, liberdade e muita sensibilidade.

Diria que este romance pode ser lido sob várias nuances. Uma delas sob a ótica do universo feminino. Foi capaz de trazer, fazer emergir, com Haydée e Celina o mundo feminino em tempos de repressão e ainda, de muita opressão sobre as mulheres. Ora, nos anos de 1960 e 70, ser mulher era estar às voltas em lutas ainda braçais com nosso corpo, nossa sexualidade, nossos desejos, enfim nosso lugar no mundo como sujeitos e não mais como sombras, tanto de pais, companheiros ou irmãos.

Assim, essas personagens, um misto de ficção e realidade, nos dão de presente um retrato fiel de como as mulheres naquele período tramaram suas vidas na resistência e, por conseguinte, na transformação da condição da mulher.

Uma outra, que aliás é a tônica da narrativa, nos mostra como podemos ser criativos e sobrevivermos com dignidade e alegria sob os mais árduos tempos. Quando as correntes da repressão nos atormentavam, no auge da ditadura militar, Afonso, Celina e Haydée nos mostraram soberbamente que somos capazes de inventar saídas, ainda que vividas em caminhos silenciosos e velados, as mais transgressoras, prazerosas e ternas possíveis.  Subverter aquela ordem, para além das ações mais convencionais as quais já estamos habituados, como a luta armada, corajosamente levada a cabo por Haydée, também pode ocorrer diretamente sob nossos corpos. Afinal o corpo como posse de si mesmo, como o lugar do gozo, da alegria, pode representar e objetificar o mais profundo sentido da subversão, pois como disse Galeano, o corpo é uma festa.   

Assim, a literatura como instrumento explicativo da realidade, mais uma vez tem o poder de conectar os caminhos trilhados por aqueles que vieram antes de nós, e deste modo, torna-se condição indispensável para compreendermos as questões socialmente vivas, e neste caso em particular, a condição das mulheres, o que, ainda, há muito por fazer. Nada está acabado.