quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Egito: raízes perdidas da sabedoria cristã - resenha



                                   “Egito” de Kleber Garcia Campos




            Em março de 2017 recebi das mãos de Kleber Garcia Campos o livro Egito: raízes perdidas da sabedoria cristã. Na mensagem de autógrafo ele determinou imperativamente: Navegue neste barco de papiro e descubra nas profundezas do Nilo mistérios ainda ocultos. Missão impossível, para um humilde historiador das Minas Gerais. Na página seguinte Kleber abre uma janela: Dedico esse trabalho a todas as mentes lúcidas que têm sede de conhecimento e buscam a verdade onde quer que elas estejam.
      Duas palavras na dedicatória acima norteiam esta resenha: mentes lúcidas e verdade. Lúcida vem de luz que, ao ser projetada em um ambiente escuro. tornam-se visíveis os objetos localizados. Descobrir significa remover o que impede a passagem da luz em direção ao objeto. O trabalho do historiador é a busca do objeto e a explicitação do que ele representou no passado, ao ser criado pelo homem. Os acontecimentos de tempos remotos são verdadeiros por natureza. Mas no decorrer do tempo ganham valores diferentes dos que motivaram seus aparecimentos. As interpretações dos novos valores a eles atribuídos é que podem ser falsas ou verdadeiras. Quando historiadores, arqueólogos ou paleontólogos não conseguem decifrar o sentido original ou o significado de uma obra de arte, de uma inscrição ou de um poema, eles os colocam na conta dos mistérios. Isto é, ainda não contam com meios técnicos e científicos para decifrá-los.
     Mika Voltaire, escritor finlandês, em 1945 escreveu um romance intitulado “O Egípcio”, que interpreta a sociedade egípcia antiga. Ao invés de uma vida sagrada do Faraó e de uma sociedade mística, Mika Voltaire vê corrupção, guerra, ganância e luxúria naquela civilização, sem, contudo, ser infiel aos fatos históricos. Acontece que com a subjetividade da ficção, o autor pôde ir onde os historiadores, com a objetividade científica não podem chegar.
      Kleber Garcia Campos teve pleno êxito na longa jornada que empreendeu no Egito e no Oriente Médio. Seu propósito era mostrar a cultura egípcia e sua influência na civilização ocidental. Ele encontrou sinais da colonização egípcia em Canaã, berço do Cristianismo. Para tal o autor levou em sua bagagem uma fina e apurada erudição: linguística, paleografia, historiografia, literatura, mitologia, teologia e exegese. Para mim, só foi surpresa o interesse de Kleber pela egiptologia, porque já o conhecia como intelectual, pois era apreciador de suas publicações na revista acadêmica “Aula Magna” do UNI-BH e de suas palestras sobre literatura. Além das riquezas dos relatos históricos Kleber Garcia faz severa crítica a interpretações históricas rígidas que não levam em consideração a subjetividade das narrativas míticas.
   Enfim, um livro de leitura muito prazerosa; muito bem ilustrado; linguagem limpa, sem sofisticação e sem esnobismo científico. Gostei de tê-lo lido.
     Belo Horizonte, 3 de dezembro de 2017.

            Antônio de Paiva Moura

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