“Egito” de
Kleber Garcia Campos
Em março de 2017 recebi das mãos de
Kleber Garcia Campos o livro Egito:
raízes perdidas da sabedoria cristã. Na mensagem de autógrafo ele determinou
imperativamente: Navegue neste barco de
papiro e descubra nas profundezas do Nilo mistérios ainda ocultos. Missão
impossível, para um humilde historiador das Minas Gerais. Na página seguinte
Kleber abre uma janela: Dedico esse
trabalho a todas as mentes lúcidas que têm sede de conhecimento e buscam a
verdade onde quer que elas estejam.
Duas palavras na dedicatória acima
norteiam esta resenha: mentes lúcidas e verdade. Lúcida vem de luz que, ao ser
projetada em um ambiente escuro. tornam-se visíveis os objetos localizados. Descobrir
significa remover o que impede a passagem da luz em direção ao objeto. O
trabalho do historiador é a busca do objeto e a explicitação do que ele
representou no passado, ao ser criado pelo homem. Os acontecimentos de tempos
remotos são verdadeiros por natureza. Mas no decorrer do tempo ganham valores
diferentes dos que motivaram seus aparecimentos. As interpretações dos novos
valores a eles atribuídos é que podem ser falsas ou verdadeiras. Quando
historiadores, arqueólogos ou paleontólogos não conseguem decifrar o sentido
original ou o significado de uma obra de arte, de uma inscrição ou de um poema,
eles os colocam na conta dos mistérios. Isto é, ainda não contam com meios
técnicos e científicos para decifrá-los.
Mika Voltaire, escritor finlandês,
em 1945 escreveu um romance intitulado “O Egípcio”, que interpreta a sociedade
egípcia antiga. Ao invés de uma vida sagrada do Faraó e de uma sociedade
mística, Mika Voltaire vê corrupção, guerra, ganância e luxúria naquela
civilização, sem, contudo, ser infiel aos fatos históricos. Acontece que com a
subjetividade da ficção, o autor pôde ir onde os historiadores, com a
objetividade científica não podem chegar.
Kleber Garcia Campos teve pleno
êxito na longa jornada que empreendeu no Egito e no Oriente Médio. Seu
propósito era mostrar a cultura egípcia e sua influência na civilização
ocidental. Ele encontrou sinais da colonização egípcia em Canaã, berço do
Cristianismo. Para tal o autor levou em sua bagagem uma fina e apurada
erudição: linguística, paleografia, historiografia, literatura, mitologia,
teologia e exegese. Para mim, só foi surpresa o interesse de Kleber pela
egiptologia, porque já o conhecia como intelectual, pois era apreciador de suas
publicações na revista acadêmica “Aula Magna” do UNI-BH e de suas palestras
sobre literatura. Além das riquezas dos relatos históricos Kleber Garcia faz
severa crítica a interpretações históricas rígidas que não levam em
consideração a subjetividade das narrativas míticas.
Enfim, um livro de leitura muito
prazerosa; muito bem ilustrado; linguagem limpa, sem sofisticação e sem
esnobismo científico. Gostei de tê-lo lido.
Belo Horizonte, 3 de dezembro de
2017.
Antônio de Paiva Moura
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