terça-feira, 8 de outubro de 2019

Comentário sobre Pele de Jabuticaba, de Caio Junqueira Maciel


Pele de jabuticaba


Em livro de minha autoria juntamente com a professora Helena Guimarães Campos, “História de Minas Gerais”, publicado em 2005, abordamos uma revolta de escravos ocorrida em 1833, que passou à história com o nome de Revolta de Carrancas.

Em maio de 1833, diversas propriedades da família Junqueira foram ocupadas por escravos, que assassinaram vários membros da família. Essa revolta ficou conhecida pelo nome de Revolta de Carrancas, devido ao fato de ter sido iniciada no distrito com esse nome, na Comarca do Rio das Mortes, e é considerada a maior revolta de escravos ocorrida na província mineira. Apesar de ter  tido uma duração pequena, seu impacto foi enorme, devido ao prestígio e poder da família Junqueira. Dominados os escravos rebeldes, dezesseis deles foram condenados à morte na forca. (p. 99)

Esta revolta, tão pouco conhecida, tem agora uma “versão poética”, que nos é apresentada por Caio Junqueira Maciel.  “Pele de jabuticaba” é o título do livro que ele lançou no dia 21 de setembro, e que tive a oportunidade de ler semana passada.



Sei que não deve ter sido pretensão do Caio, mas não pude deixar de considerar que a Revolta de Carrancas teve o poeta à altura de Cecília Meireles em Romanceiro da Inconfidência. Não pelo volume de informações, claro que as duas revoltas tiveram dimensões bem diferentes, mas a beleza dos versos do Caio me fizeram lembrar o tempo todo de Cecília.

Escutem o galope daqueles cavalos
(e o golpe nas portas daqueles machados)
cortando o silêncio da noite gelada
– seus cascos produzem estes fogos-fátuos,
gemidos que brilham no dorso das pedras.
(...)
Os dentes rilhados, equino bruxismo,
bizarras risadas, cavalos que riem,
os negros nos troncos, os ranchos que rincham,
o sangue dos brancos coalhados de crimes,
o coice do ódio e a foice da inveja.  (p.9)

Não deixem de ler!

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