A
FNAC pretende sair do Brasil e fechar suas lojas. O mix francês de
eletroeletrônicos e livros fez água. Os motivos serão muitos: todas as
suas lojas são em shoppings centers onde os aluguéis são altos; a crise;
a queda de vendas do mercado livreiro, concorrência com as plataformas
digitais, enfim… De acordo com os dados divulgados recentemente pelo
Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), no período de 05 de
dezembro de 2016 a 1º de janeiro de 2017, as livrarias faturaram R$
172.677.486,86 - queda de 0,8% comparado ao mesmo período do ano
anterior. Considerando a inflação, a queda acumulada bateu 9,02%. Em
volume, livrarias e supermercados brasileiros venderam 39.415.660
unidades versus as 44.206.542 contabilizados no ano anterior, queda de
10,84%. Sim, é a crise. Mas vejam: qual o percentual de vendas advindas
do livro determinaram a decisão da FNAC? Afinal, ali encontra-se de tudo
no mundo dos eletrônicos. E, afinal, todos sabemos que acontece ali a
venda de espaço nas gôndolas, como se fosse um supermercado. Existe até
uma tabela: vitrine, é tanto, pilha de livros na frente, tanto,
prateleira, é tanto. Supostamente, um mercado mais lucrativo que
aparenta. Qual o mistério, então?
Na
minha opinião, é falta de incentivo ao autor nacional. Perguntem às
editoras médias e pequenas se elas conseguem colocar um livro sequer de
seus autores nesta rede. Para que a FNAC se instalou em Brasília se não
vende livro de autor brasiliense? O mesmo em Belo Horizonte, Curitiba,
Goiânia, Porto Alegre, entre as doze no Brasil? Como se estabelecer em
uma cidade sem criar nenhum vínculo com o seu público direto que são os
escritores locais? Ou as editoras locais? O modelo da Megastore global,
associada à cultura do shopping está condenado. Ou pelo menos ameaçado,
do ponto de vista institucional, da relação com o público.
Mesmo
o modelo comercial, onde a sede, em São Paulo, coordena a compra e as
distribui para o resto do País. Como eles vão saber que Marcos Piangers,
de Porto Alegre, que já bateu um milhão de livros, tem o potencial de
vender muito em Campinas? Ou Ribeirão Preto? Mágica? Osmose? O Brasil
hoje tem, nas pequenas e médias editoras, um potencial imenso de
crescimento e qualidade. Veja a Scriptum Editora, de Belo Horizonte, que
lançou Jacques Fux, com “Antiterapias” e ganhou o Prêmio São Paulo, e a
poetisa Ana Martins Marques, com “A Vida Submarina”. Ela que ganhou o
3. lugar do Prêmio Oceanos, com “O Livro das Semelhanças”, editado pela
Companhia das Letras. Não existe mistério, nem mágica - as megastores
tem que mudar as relações comerciais e institucionais e passarem a apoiar o
autor brasileiro e a editora local. Ou veremos, no contraponto, um
fator muito positivo: o renascimento das livrarias de porta de rua. O
que já está acontecendo em Belo Horizonte: na Rua Fernandes Tourinho, na
Savassi, existem 3 livrarias tradicionais, a Ouvidor, a Quixote e a
Scriptum. A ideia de se fechar a rua e transformá-la em “Rua da
Literatura” muda o cenário. Para melhor. E o mais curioso é que, neste
sentido, o impacto do fechamento da FNAC para a literatura brasileira é
nulo. Nada vezes nada.
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