quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Experiências Tropicais de Angústia - meu comentário

A leitura de “Experiências tropicais de Angústia – Uma interpretação do romance Angústia de Graciliano Ramos”, escrita por Natália Fontes Rodrigues constituiu-se numa experiência única para este leitor.

Desde o princípio do trabalho de publicação, me envolvi com a autora e, por conseguinte, com o texto dela, mesmo não tendo um contato prévio, pois a descobri no Facebook, quando lançava a campanha para angariar fundos que possibilitassem que sua dissertação de mestrado se transformasse no livro que recentemente chegou aos leitores. Participei da campanha, contribuindo com alguns modestos reais para tornar o sonho da autora uma realidade. Sei como é difícil conseguir publicar trabalhos sérios, profundos como este.

Eis que recebo o exemplar a que fiz jus pela colaboração.



“Ricardo, que as angústias que fizeram cruzar nossos caminhos, nos inspirem mais e mais livros.
Carinhosamente, 
Natália Fontes Rodrigues.”

Esta a dedicatória. Prometi ler e divulgar. E é o que faço agora.

Não vou fazer uma resenha em moldes acadêmicos, já que tal não é o propósito deste blog. Vou fazer um comentário exatamente para falar com vocês do sentimento de angústia que me tocou ao ler.

Angústia por conhecer detalhes da vida de Graciliano Ramos. Apesar de saber da importância dele na literatura, mesmo tendo citado várias vezes em meus livros didáticos, não conhecia completamente sua trajetória de vida. E que foi angustiante em certos momentos, principalmente aqueles do período de Vargas, década de 1930. Momento angustiante não apenas para o autor, mas para toda a sociedade. Não por acaso, foi nessa década que surgiram obras sociológicas e históricas que procuraram um entendimento mais efetivo do país, como os livros de Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre, Caio Prado Jr.

Angústia ao ver a descrição da personagem principal, Luís da Silva, atormentado principalmente pela perda de seu amor – Marina – para Julião Tavares.

Angústia ao ver as outras personas que passeiam pelas páginas do livro Angústia e sua identificação com animais, no mais das vezes repugnantes: cobras, ratos, percevejos, coruja, gatos, lagartixas.

Angústia por ter me identificado com a angústia de Luís da Silva, que, no jornal, escrevia aquilo que o patrão desejava e não o que ele – jornalista – acreditava, sendo obrigado a violentar sua consciência em troca do salário que lhe era destinado.

Utilizo as palavras da autora:

“A angústia do romance de Graciliano Ramos expressa a desarmonia com o regime instaurado no país. É um sentimento em tensão com as formas dominantes no campo das instituições e ideologias.”

Por tudo isso, numa escala de 1 a 10, eu daria 10 ao trabalho de Natália. 10 com louvor. Recomendo sua leitura por todos aqueles que se interessam por trabalhos sérios a respeito de escritores e suas obras, notadamente escritores brasileiros.

E concluo com novas palavras da autora:


“O protagonista de Angústia é, por certo, uma representação paradigmática desse sentimento de atordoamento em uma sociedade em transmutação naquele período. O sertão e a cidade, o ‘coronel’ e o bacharel, a matrona e a melindrosa, o arcaico e o moderno são alguns dípticos presentes no romance Angústia que representam as mudanças nas formas de vida, nos exercícios políticos, nos espaços de atuação. Assim, emergem dores e sentimentos que há muito eram sufocados.”

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