A leitura de “Experiências tropicais de Angústia – Uma
interpretação do romance Angústia de Graciliano Ramos”, escrita por Natália
Fontes Rodrigues constituiu-se numa experiência única para este leitor.
Desde o princípio do trabalho de publicação, me envolvi com
a autora e, por conseguinte, com o texto dela, mesmo não tendo um contato
prévio, pois a descobri no Facebook, quando lançava a campanha para angariar
fundos que possibilitassem que sua dissertação de mestrado se transformasse no
livro que recentemente chegou aos leitores. Participei da campanha,
contribuindo com alguns modestos reais para tornar o sonho da autora uma
realidade. Sei como é difícil conseguir publicar trabalhos sérios, profundos como
este.
Eis que recebo o exemplar a que fiz jus pela colaboração.
“Ricardo, que as
angústias que fizeram cruzar nossos caminhos, nos inspirem mais e mais livros.
Carinhosamente,
Natália Fontes Rodrigues.”
Esta a dedicatória. Prometi ler e divulgar. E é o que faço
agora.
Não vou fazer uma resenha em moldes acadêmicos, já que tal não
é o propósito deste blog. Vou fazer um comentário exatamente para falar com
vocês do sentimento de angústia que me tocou ao ler.
Angústia por conhecer detalhes da vida de Graciliano Ramos.
Apesar de saber da importância dele na literatura, mesmo tendo citado várias
vezes em meus livros didáticos, não conhecia completamente sua trajetória de vida. E que foi angustiante em certos momentos, principalmente aqueles do
período de Vargas, década de 1930. Momento angustiante não apenas para o autor,
mas para toda a sociedade. Não por acaso, foi nessa década que surgiram obras
sociológicas e históricas que procuraram um entendimento mais efetivo do país,
como os livros de Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre, Caio Prado Jr.
Angústia ao ver a descrição da personagem principal, Luís da
Silva, atormentado principalmente pela perda de seu amor – Marina – para Julião
Tavares.
Angústia ao ver as outras personas que passeiam pelas
páginas do livro Angústia e sua identificação com animais, no mais das vezes
repugnantes: cobras, ratos, percevejos, coruja, gatos, lagartixas.
Angústia por ter me identificado com a angústia de Luís da
Silva, que, no jornal, escrevia aquilo que o patrão desejava e não o que ele –
jornalista – acreditava, sendo obrigado a violentar sua consciência em troca do
salário que lhe era destinado.
Utilizo as palavras da autora:
“A angústia do romance de Graciliano Ramos expressa a
desarmonia com o regime instaurado no país. É um sentimento em tensão com as
formas dominantes no campo das instituições e ideologias.”
Por tudo isso, numa escala de 1 a 10, eu daria 10 ao
trabalho de Natália. 10 com louvor. Recomendo sua leitura por todos aqueles que
se interessam por trabalhos sérios a respeito de escritores e suas obras,
notadamente escritores brasileiros.
E concluo com novas palavras da autora:
“O protagonista de Angústia
é, por certo, uma representação paradigmática desse sentimento de atordoamento
em uma sociedade em transmutação naquele período. O sertão e a cidade, o
‘coronel’ e o bacharel, a matrona e a melindrosa, o arcaico e o moderno são
alguns dípticos presentes no romance Angústia
que representam as mudanças nas formas de vida, nos exercícios políticos, nos
espaços de atuação. Assim, emergem dores e sentimentos que há muito eram
sufocados.”
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