segunda-feira, 5 de junho de 2017

Eduardo Frieiro e o “Mameluco Boaventura”





Antônio de Paiva Moura

O autor
Eduardo Frieiro nasceu em Matias Barbosa MG, em 5 de julho de 1889 e faleceu em Belo Horizonte, em 24 de março de 1962, filho de imigrantes espanhóis. Ainda menino deixou a escola para trabalhar como aprendiz de tipógrafo, na Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais. Alguns anos depois, conquistou por concurso, o lugar de revisor do “Minas Gerais”, órgão oficial, onde exerceu os cargos de revisor, redator, redator-secretário e assistente técnico do diretor da Imprensa Oficial.
 Foi professor catedrático de literatura hispano-americana. Foi fundador e primeiro diretor da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais. Além de muitos romances publicados, em 1924, escreveu três artigos de jornais e, no ano seguinte, o trabalho de encomenda feita pelo presidente do Estado, Fernando Mello Viana, intitulado “As artes do desenho em Minas Gerais”, publicado no livro “Minas Gerais em 1925”, impresso na Imprensa Oficial, em 1926.  Em 1927 imprimiu o primeiro livro, “O Clube dos Grafômanos”, romance que aborda a vida literária, tendo obtido crítica favorável. Em 1929 lançou o romance “O mameluco Boaventura”, de caráter histórico.
         Frieiro publicou diversos ensaios de critica literária. No campo antropológico destaca-se o livro intitulado “Feijão, Angu e Couve”, cuja primeira edição é do Centro de Estudos Mineiros da Universidade Federal de Minas Gerais, em 1966.  Em 1982, a Editora Itatiaia de Belo Horizonte e a Edusp de São Paulo, fizeram uma segunda edição da importante obra.



 
O mameluco Boaventura,
O romance teve sua primeira edição em 1929, pela Editora Pindorama. A segunda é da Coleção Saraiva. Em 1981, a Editora Itatiaia, de Belo Horizonte, em parceria com a Edusp, São Paulo, apresentou a última edição. Na primeira edição a apresentação do autor foi de Humberto de Campos. Na edição da Itatiaia, coube ao seu amigo e companheiro no movimento modernista em Belo Horizonte e Cataguases, o grande intelectual Guilhermino Cesar, que nessa época, já residia em Porto Alegre RS.
A trama começa com um mercador vendendo escravo a um rico comerciante de Mariana, nos primórdios da mineração. Um dos escravos escolhidos pelo comerciante foi vendido ao Mameluco Boaventura. Fernão Boaventura era homem ambicioso e logo entrou em conflito com outros potentados pelo domínio de datas auríferas, demarcação de terra às margens de córregos e ribeirões, para extração de outro. Por causa de seu escravo de estimação acabou batendo de frente com seu maior contendor, André Baracho, um rico português que explorava muitas datas auríferas. Nessa oportunidade, Boaventura ficou conhecendo Violante, filha única de Baracho e por ela se apaixonou. Baracho preferia ver a filha morta a casada com o mestiço Boaventura.
Em duas oportunidades Boaventura esteve próximo de Violante e a fez ter interesse por ele. A primeira foi em um sarau no palácio em Vila Rica, oferecido pelo Conde de Assumar, governador da Capitania. A segunda chance foi numa festa da padroeira em Mariana, onde houve uma festa de Cavalhada de Mouro e Cristãos. Em ambos os momentos a tônica das conversas era o estabelecimento da ordem, subvertida por nativos brancos, mestiços e escravos.
Como Boaventura nunca teve permissão para estar com Violante, acabou tramando o rapto dela. Dias depois Violante foi descoberta encontrada em casa de um nativo em Pitangui, onde morreu logo depois. Com a perseguição das forças oficiais, o bando de Boaventura acabou sendo dissolvido.
Voltando clandestinamente a Ouro Preto, doente e quase morrendo, Boaventura teve assistência medicinal e espiritual de um frade, muito amigo, desde sua infância. Depois de recuperado, o frade passou a usar princípios filosóficos para convencer Boaventura a mudar de vida. Para o frade, Deus queria os homens em ordem. Tudo na natureza corria conforme a ordem divina. Só os homens as descumpriam e se infelicitavam. Os colonizadores foram enviados à América para tirar os índios da preguiça e da desordem. “Viu-se o conquistador na necessidade de os escravizar e castigar”. Este e outros discursos do frade acabaram convencendo Boaventura a entrar para o seminário e seguir vocação sacerdotal.
         Frieiro mostra neste romance, como a religião se encontrava a serviço da colonização. Não havia escrúpulo no sentido de criar teologias afinadas com as ideologias do colonizador.
         Em “O mameluco Boaventura” o autor demonstra muita erudição, reconstituindo com fidelidade o cenário colonial brasileiro; contemplando a linguagem usual na época, sem se perder em sofisticações inacessíveis. Frieiro faz uma caminhada a pé pelas vilas que deram origem à civilização do ouro. O elemento estético de maior relevo é a trama amorosa que se desenvolve entre os personagens Boaventura e a donzela Violante.
         O mesmo clima histórico de Minas dos tempos coloniais que atraiu a atenção dos modernistas, como a Caravana de 1924, está presente em “O Mameluco Boaventura” de Eduardo Frieiro. Os modos de vidas de etnias diferentes, vindos de longínquos          continentes, se contrapondo e se interagindo ao mesmo tempo, formando um amalgama cultural sui generis.
        

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