Antônio
de Paiva Moura
O
autor
Eduardo Frieiro nasceu em Matias Barbosa
MG, em 5 de julho de 1889 e faleceu em Belo Horizonte, em 24 de março de 1962,
filho de imigrantes espanhóis. Ainda menino deixou a escola para trabalhar como
aprendiz de tipógrafo, na Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais. Alguns
anos depois, conquistou por concurso, o lugar de revisor do “Minas Gerais”,
órgão oficial, onde exerceu os cargos de revisor, redator, redator-secretário e
assistente técnico do diretor da Imprensa Oficial.
Foi professor catedrático de literatura
hispano-americana. Foi fundador e primeiro diretor da Biblioteca Pública Estadual
de Minas Gerais. Além de muitos romances publicados, em 1924, escreveu três
artigos de jornais e, no ano seguinte, o trabalho de encomenda feita pelo
presidente do Estado, Fernando Mello Viana, intitulado “As artes do desenho em
Minas Gerais”, publicado no livro “Minas Gerais em 1925”, impresso na Imprensa
Oficial, em 1926. Em 1927 imprimiu o
primeiro livro, “O Clube dos Grafômanos”, romance que aborda a vida literária,
tendo obtido crítica favorável. Em 1929 lançou o romance “O mameluco Boaventura”,
de caráter histórico.
Frieiro
publicou diversos ensaios de critica literária. No campo antropológico
destaca-se o livro intitulado “Feijão, Angu e Couve”, cuja primeira edição é do
Centro de Estudos Mineiros da Universidade Federal de Minas Gerais, em
1966. Em 1982, a Editora Itatiaia de
Belo Horizonte e a Edusp de São Paulo, fizeram uma segunda edição da importante
obra.
O
mameluco Boaventura,
O romance teve sua primeira edição em
1929, pela Editora Pindorama. A segunda é da Coleção Saraiva. Em 1981, a
Editora Itatiaia, de Belo Horizonte, em parceria com a Edusp, São Paulo,
apresentou a última edição. Na primeira edição a apresentação do autor foi de
Humberto de Campos. Na edição da Itatiaia, coube ao seu amigo e companheiro no
movimento modernista em Belo Horizonte e Cataguases, o grande intelectual
Guilhermino Cesar, que nessa época, já residia em Porto Alegre RS.
A trama começa com um mercador vendendo
escravo a um rico comerciante de Mariana, nos primórdios da mineração. Um dos
escravos escolhidos pelo comerciante foi vendido ao Mameluco Boaventura. Fernão
Boaventura era homem ambicioso e logo entrou em conflito com outros potentados
pelo domínio de datas auríferas, demarcação de terra às margens de córregos e ribeirões,
para extração de outro. Por causa de seu escravo de estimação acabou batendo de
frente com seu maior contendor, André Baracho, um rico português que explorava
muitas datas auríferas. Nessa oportunidade, Boaventura ficou conhecendo
Violante, filha única de Baracho e por ela se apaixonou. Baracho preferia ver a
filha morta a casada com o mestiço Boaventura.
Em duas oportunidades Boaventura esteve
próximo de Violante e a fez ter interesse por ele. A primeira foi em um sarau
no palácio em Vila Rica, oferecido pelo Conde de Assumar, governador da
Capitania. A segunda chance foi numa festa da padroeira em Mariana, onde houve
uma festa de Cavalhada de Mouro e Cristãos. Em ambos os momentos a tônica das
conversas era o estabelecimento da ordem, subvertida por nativos brancos,
mestiços e escravos.
Como Boaventura nunca teve permissão
para estar com Violante, acabou tramando o rapto dela. Dias depois Violante foi
descoberta encontrada em casa de um nativo em Pitangui, onde morreu logo
depois. Com a perseguição das forças oficiais, o bando de Boaventura acabou
sendo dissolvido.
Voltando clandestinamente a Ouro Preto,
doente e quase morrendo, Boaventura teve assistência medicinal e espiritual de
um frade, muito amigo, desde sua infância. Depois de recuperado, o frade passou
a usar princípios filosóficos para convencer Boaventura a mudar de vida. Para o
frade, Deus queria os homens em ordem. Tudo na natureza corria conforme a ordem
divina. Só os homens as descumpriam e se infelicitavam. Os colonizadores foram
enviados à América para tirar os índios da preguiça e da desordem. “Viu-se o conquistador na necessidade de os
escravizar e castigar”. Este e outros discursos do frade acabaram
convencendo Boaventura a entrar para o seminário e seguir vocação sacerdotal.
Frieiro mostra neste romance, como a
religião se encontrava a serviço da colonização. Não havia escrúpulo no sentido
de criar teologias afinadas com as ideologias do colonizador.
Em “O mameluco Boaventura” o autor
demonstra muita erudição, reconstituindo com fidelidade o cenário colonial
brasileiro; contemplando a linguagem usual na época, sem se perder em
sofisticações inacessíveis. Frieiro faz uma caminhada a pé pelas vilas que
deram origem à civilização do ouro. O elemento estético de maior relevo é a
trama amorosa que se desenvolve entre os personagens Boaventura e a donzela
Violante.
O mesmo clima histórico de Minas dos
tempos coloniais que atraiu a atenção dos modernistas, como a Caravana de 1924,
está presente em “O Mameluco Boaventura” de Eduardo Frieiro. Os modos de vidas
de etnias diferentes, vindos de longínquos continentes,
se contrapondo e se interagindo ao mesmo tempo, formando um amalgama cultural sui generis.
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