sexta-feira, 30 de junho de 2017

Erário Mineral de Luiz Gomes Ferreira





                                               Antônio de Paiva Moura

Livro que trata da medicina prática no Brasil Colônia. Diagnósticos, receituários e farmacopéia

            De 1712 a 1731 viveu em Ouro Preto o médico português, Luis Gomes Ferreira, que trouxe da Europa experiências e conhecimento científico empírico de medicina. Na região central de Minas continuou sua pesquisa nas terapias medicinais e farmacológicas. Conhecia o livro de medicina de Hipócrates, ao qual contrapunha muitas de suas práticas terapêuticas. Os conhecimentos de Luis Gomes Ferreira tiveram raiz no saber popular da Idade Média, especialmente no uso da sangria, associado ao aprendizado em escola de medicina de Portugal. Em 1735 foi publicado em Lisboa o livro de sua autoria, intitulado Erário Mineral, que registrou todas as suas experiências práticas. Como cientista de primeira ordem, na época levou em conta o clima da região; as propriedades do solo, as atividades dos pacientes garimpeiros, agricultores, brancos negros; formas de diagnosticar as doenças e as práticas terapêuticas. (BOXER, 1969: 169) O Arquivo Público Mineiro guarda um exemplar original do Erário Mineral de Luis Gomes Ferreira. Em 2002 a Fundação João Pinheiro, em Belo Horizonte realizou nova edição do referido livro.

            As dores agudas eram chamadas pontadas. A primeira parte do livro trata das dores nas diversas partes do corpo. Começa com as dores na bexiga e dificuldade de urinar. Recomenda sangria. Sinais de enchimento do estômago: amargor na boca, falta de apetite e vômitos. Vomitório de tártaro emético e depois purgante com resina de batata.  Sinas de haverem lombrigas: dor na altura do umbigo, podendo subir para a boca e nariz. Sumo de erva-de-santa-maria misturada com sumo de limão e uma colher de azeite de mamona, vinagre, uma pitada de pó de fumo. Tomar em jejum. Recomenda tomar uma colher de açúcar, meia hora antes para servir de isca pás lombrigas. Noutra receita adiciona à erva-de-santa-maria, pilada em almofariz, uma colher de fel de vaca, raiz de fedegoso pilada, hortelã e vinagre. Dor no peito e tosse: Xarope de avenca com cachaça queimada.  Pilar a avenca em almofariz e queimar a cachaça em um prato. Cozinhar até ficar grosso como doce de lamber. Tomar com colher. Para flatulência: uma dose (um dedal) de aguardente, em seguida tomar chá ou chocolate quente, pela manhã. Pontada com falta de ar: Emplasto de fubá de milho cozinhado com erva-de-santa-maria e aplicado ao peito do doente. Se a falta de ar persistir, dar um purgante. Como último recurso dar uma sangria.  Pontada no pulmão: tomar um sudorético (suador) de poejo com açúcar, bem quente, abafando a cama com cobertores. Escarros de sangue: Raiz de capeba cozida com açúcar até engrossar como melado. 

            Na segunda parte trata das obstruções. No fígado e no baço recomenda vomitório de tártaro e chá de raiz de capeba, associado a artemijo e funcho. Obstrução no intestino (mesentério): Recomenda vomitório de tártaro e purgante. Após descansar, tomar chá de capeba. Barriga inchada ou corrupção do bicho: Para detectar o incômodo, fazer toque de dedo no anus do paciente. Quanto mais largo estiver o reto, maior é o tamanho da corrupção. O tratamento é com um molho morno de erva-de-bicho pilada em almofariz, sal, pimenta e sumo de limão. Com esses mesmo elementos eram feitas pílulas para serem tomadas via oral. 

            Para resfriado: Duas peças de gengibre amassada em almofariz, colocadas em um tacho com aguardente de cana. Depois de quente ensopar um pano no caldo e passar no corpo da pessoa, levando a mão por baixo de suas vestes. Do caldo para compressa, fazer chá bem quente e dar para beber. Outro suador muito recomendado é um chá de alho com arruda, uma ou mais peças de gengibre, um pedaço de banha de porco. Depois de fervido colocar uma doze de aguardente. O doente deve estar bem alimentado com caldo de galinha ou de perdiz e miúdos de porco. Ferreira (2002) diz que essa terapia foi passada pelos carijós do Alto e Médio Paraopeba.

FERREIRA, Luis Gomes. Erário Mineral. Lisboa [1735]; Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 2002.

MOURA, Antônio de Paiva. Médio Paraopeba e seu saber viver. Bonfim: Prefeitura Municipal, 2013.



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