Antônio
de Paiva Moura
Livro que
trata da medicina prática no Brasil Colônia. Diagnósticos, receituários e
farmacopéia
De
1712 a 1731 viveu em Ouro Preto o médico português, Luis Gomes Ferreira, que
trouxe da Europa experiências e conhecimento científico empírico de medicina.
Na região central de Minas continuou sua pesquisa nas terapias medicinais e
farmacológicas. Conhecia o livro de medicina de Hipócrates, ao qual contrapunha
muitas de suas práticas terapêuticas. Os conhecimentos de Luis Gomes Ferreira
tiveram raiz no saber popular da Idade Média, especialmente no uso da sangria,
associado ao aprendizado em escola de medicina de Portugal. Em 1735 foi
publicado em Lisboa o livro de sua autoria, intitulado Erário Mineral, que registrou todas as suas experiências práticas.
Como cientista de primeira ordem, na época levou em conta o clima da região; as
propriedades do solo, as atividades dos pacientes garimpeiros, agricultores,
brancos negros; formas de diagnosticar as doenças e as práticas terapêuticas.
(BOXER, 1969: 169) O Arquivo Público Mineiro guarda um exemplar original do Erário Mineral de Luis Gomes Ferreira.
Em 2002 a Fundação João Pinheiro, em Belo Horizonte realizou nova edição do
referido livro.
As
dores agudas eram chamadas pontadas. A primeira parte do livro trata das dores
nas diversas partes do corpo. Começa com as dores na bexiga e dificuldade de
urinar. Recomenda sangria. Sinais de enchimento do estômago: amargor na boca,
falta de apetite e vômitos. Vomitório de tártaro emético e depois purgante com
resina de batata. Sinas de haverem
lombrigas: dor na altura do umbigo, podendo subir para a boca e nariz. Sumo de
erva-de-santa-maria misturada com sumo de limão e uma colher de azeite de
mamona, vinagre, uma pitada de pó de fumo. Tomar em jejum. Recomenda tomar uma
colher de açúcar, meia hora antes para servir de isca pás lombrigas. Noutra
receita adiciona à erva-de-santa-maria, pilada em almofariz, uma colher de fel
de vaca, raiz de fedegoso pilada, hortelã e vinagre. Dor no peito e tosse:
Xarope de avenca com cachaça queimada.
Pilar a avenca em almofariz e queimar a cachaça em um prato. Cozinhar
até ficar grosso como doce de lamber. Tomar com colher. Para flatulência: uma
dose (um dedal) de aguardente, em seguida tomar chá ou chocolate quente, pela
manhã. Pontada com falta de ar: Emplasto de fubá de milho cozinhado com
erva-de-santa-maria e aplicado ao peito do doente. Se a falta de ar persistir,
dar um purgante. Como último recurso dar uma sangria. Pontada no pulmão: tomar um sudorético
(suador) de poejo com açúcar, bem quente, abafando a cama com cobertores.
Escarros de sangue: Raiz de capeba cozida com açúcar até engrossar como melado.
Na
segunda parte trata das obstruções. No fígado e no baço recomenda vomitório de
tártaro e chá de raiz de capeba, associado a artemijo e funcho. Obstrução no
intestino (mesentério): Recomenda vomitório de tártaro e purgante. Após
descansar, tomar chá de capeba. Barriga inchada ou corrupção do bicho: Para
detectar o incômodo, fazer toque de dedo no anus do paciente. Quanto mais largo
estiver o reto, maior é o tamanho da corrupção. O tratamento é com um molho
morno de erva-de-bicho pilada em almofariz, sal, pimenta e sumo de limão. Com
esses mesmo elementos eram feitas pílulas para serem tomadas via oral.
Para
resfriado: Duas peças de gengibre amassada em almofariz, colocadas em um tacho
com aguardente de cana. Depois de quente ensopar um pano no caldo e passar no
corpo da pessoa, levando a mão por baixo de suas vestes. Do caldo para
compressa, fazer chá bem quente e dar para beber. Outro suador muito
recomendado é um chá de alho com arruda, uma ou mais peças de gengibre, um pedaço
de banha de porco. Depois de fervido colocar uma doze de aguardente. O doente
deve estar bem alimentado com caldo de galinha ou de perdiz e miúdos de porco.
Ferreira (2002) diz que essa terapia foi passada pelos carijós do Alto e Médio
Paraopeba.
FERREIRA, Luis Gomes. Erário Mineral. Lisboa [1735]; Belo
Horizonte: Fundação João Pinheiro, 2002.
MOURA, Antônio de Paiva. Médio Paraopeba e seu saber viver.
Bonfim: Prefeitura Municipal, 2013.
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