quarta-feira, 14 de março de 2018

Lançamento: Assédio das águas, de Luiz Walter Furtado



Assédio das águas foi escrito como um quebra-cabeças, onde o autor foi encaixando cada poema que surgia, embora deva ser lido na ordem em que os poemas foram colocados pois a intenção é contar uma história de amor, de perda e de melancolia.

No primeiro capítulo- Reino vegetal- os poemas tratam das plantas e sua humanidade. O corpo falante- segundo capítulo- trata do corpo e suas contradições, do absurdo oculto no dia a dia e das diferenças do mundo real para com o "mundo interior" que muitas vezes vivem realidades diversas.

A partir daí há Forças da natureza, um livro dentro do livro. O autor vai contar uma história de amor, de perda e de melancolia através das forças da natureza que nada mais representam do que as etapas do luto por todas as perdas ao longo da vida, um narcisismo melancólico que não tem outro olhar senão para os dilúvios e desertos instalados na alma pela desilusão.

Como diz a poeta Adriane Garcia em seu belíssimo posfácio: "A imagética de Assédio das águas instaura em suas páginas um apocalipse, um novo dilúvio que, na verdade, se dá como uma forma de crise pessoal da qual não se sabe se haverá redenção. A terra, elemento de secura, representará a inércia e ainda é o mito de Narciso, pois quando não há o lago, há o desejo do lago. O homem de Assédio das águas é premido pela falta. Um Sísifo de ruínas cujo “descanso” é caminhar, um Ícaro de frustração, aprisionado na incapacidade do voo; estar demasiado perto do chão nos faz assemelhar mais com vermes do que com pássaros."

"Quando areia/ se faz lago,/ em espelhos,/ a aridez da paisagem/ se desfaz"

Assédio das águas será lançado em Belo horizonte durante o Psiu poético no Centro de Referência da Juventude, Praça da Estação (Rui Barbosa) número 50, centro, BH, no dia 16 de março de 2018 às 19:00.


O autor, Luiz Walter Furtado, também tem outro livro publicado:



Sobre este livro, veja dois comentários críticos, que ressaltam a beleza e a importância da obra.


"Luiz Walter é poeta. Não apenas sonha ou tenta ser poeta. Passou uma vida permitindo à poesia entranhar-se e ramificar, sem pressa, antes de pôr versos no papel. É poeta e médico, de frente com a dor e o alívio, as sombras e as luzes do humano, a resistência e a efemeridade da vida. É poeta porque tem o que dizer. É poeta mineiro, a lidar com pedras, polindo-as, sem escapar pelos atalhos, úmido de neblina e capaz de ver através dela, até que pedras e névoa se tornem poemas. É poeta em Ouro Preto, por certo useiro e vezeiro de serenatas, de encontrões repentinos com vultos, vozes, gemidos e suspiros de velhos vates árcades, num alto de ladeira, num vão de igreja, num largo com chafariz. Talvez por isso não teme palavras, ritmo, rima. Lida com eles preciosa e livremente. E seus poemas cantam."

Maria Valéria Rezende

A liberdade do pensamento em "Revelações" de Luiz Walter Furtado


Por Carolina Eulália


Há poesia no voo dos pássaros, há poesia nas dúvidas, há na existência enigmas, e estes enigmas o que são senão poesia? Luiz Walter Furtado traz em sua poética os temas da morte, que para ele enquanto médico, servem como uma afirmação e uma lembrança da brevidade da vida, da fragilidade da existência. Este mesmo lidar rotineiro com a morte o leva a aceitar a sua naturalidade, como no poema “A foice, / em mãos não menos desconhecidas, / segue seu rito / de renovar / a vida.”

Enquanto alma insaciável, o poeta também discorre sobre fatos cotidianos, a atividade do pensar, para ele, é graça concedida ao homem, como meio de libertação, pois nas suas divagações é quando ele se sente de fato inteiro, “são esses os meus momentos / da mais rara claridade / no rigor do pensamento / o sonho tem liberdade / de profundos devaneios”.

Sua poesia é construída por estrofes livres, que se flexibilizam quanto a estrutura, algumas contém três linhas, outras se estendem para cinco, seis linhas. Já a sua rima, segue entre palavras que se sonorizam similarmente, e outras que tem terminações idênticas. Estes casamentos entre palavras, são frequentes na sua poesia, que é lírica conquanto musical e rítmica “Parada numa esquina, sozinha ela me espera / vestida em trapos rotos, a rua tão deserta / na cor da sua face, me assusta a descoberta / A minha musa é magra, se bem que ainda bela”.

Com o tema do cotidiano, o poeta, cheio de perguntas e algumas respostas, as quais encontra no processo da escrita, compartilha com o leitor sua visão lírica sobre a morte, sobre a beleza, sobre o tempo. Suas poesias tão livres de regras, adaptam-se ao fluxo intuitivo do escritor, que ora formaliza a poesia, ora a liberta para encontrar na imagem poética e na lírica, um espaço de liberdade, no qual o pensamento pode-se moldar em belas formas. 

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