quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Arraial do Curral del Rei - comentário


Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! 
Florbela Espanca

Florbela disse tudo em dois versos. E se alguém aqui em Minas atualmente pode se considerar ser mais alta, ser maior, é Adriane Garcia.
Já a conhecia de outro livro que comentei há tempos “Garrafas ao mar”.
E agora termino de ler “Arraial do Curral del Rei”, o volume 34 da coleção “BH. A Cidade de cada um”.



E fico sensibilizado pela doçura dos versos, se bem alguns cáusticos, em que ela nos conta sobre a desconstrução do Arraial do Curral del Rei para a implantação da nova capital do Estado de Minas, a Cidade de Minas, a Poeirópolis e finalmente a Belo Horizonte.

Não, ela não louva os “grandes homens” que planejaram e comandaram a edificação de uma cidade à moda européia. Nomes de alguns até aparecem em certos momentos, mas as personagens fundamentais são aquelas cujos nomes os livros de História não escreveram: Seu Neco, Dona América, dona Odília e seus oito filhos, dona Cotinha, o menino marrom e empenado, o padre Chiquinho, Donana, Josina, Emerenciana e tantos outros e outras que tiveram de sair de onde viviam. Não eram bem-vindos...

E ela fala também do Acaba Mundo e do Arrudas que corriam em águas límpidas mas que foram escondidos para que os carros pudessem passar por cima deles.

A visão de História desta nossa grande poeta é bem de acordo com as tendências mais recentes da historiografia. Mas ela não escreve os ácidos textos acadêmicos e sim versos que incomodam, que fazem pensar, que nos sensibilizam.

Como estes:

Desocupe a sua casa
A sua casa
Desocupe 

Vou repetir:

Desocupe a sua casa
A sua
Casa

Você não está entendendo:
Não no dia que você quiser
Desocupe de agora
Até a data marcada.

Desocupe
A sua
Casa.

Obrigado, Adriane Garcia, por trazer este belo texto poético para nós, historiadores que, provavelmente, nunca falamos dessas personagens em nossas aulas mas que, agora, poderemos fazê-lo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário