Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens!
Florbela Espanca
Florbela
disse tudo em dois versos. E se alguém aqui em Minas atualmente pode se
considerar ser mais alta, ser maior, é Adriane Garcia.
Já
a conhecia de outro livro que comentei há tempos “Garrafas ao mar”.
E
agora termino de ler “Arraial do Curral del Rei”, o volume 34 da coleção “BH. A
Cidade de cada um”.
E
fico sensibilizado pela doçura dos versos, se bem alguns cáusticos, em que ela
nos conta sobre a desconstrução do Arraial do Curral del Rei para a implantação
da nova capital do Estado de Minas, a Cidade de Minas, a Poeirópolis e
finalmente a Belo Horizonte.
Não,
ela não louva os “grandes homens” que planejaram e comandaram a edificação de
uma cidade à moda européia. Nomes de alguns até aparecem em certos momentos,
mas as personagens fundamentais são aquelas cujos nomes os livros de História
não escreveram: Seu Neco, Dona América, dona Odília e seus oito filhos, dona
Cotinha, o menino marrom e empenado, o padre Chiquinho, Donana, Josina,
Emerenciana e tantos outros e outras que tiveram de sair de onde viviam. Não
eram bem-vindos...
E
ela fala também do Acaba Mundo e do Arrudas que corriam em águas límpidas mas
que foram escondidos para que os carros pudessem passar por cima deles.
A
visão de História desta nossa grande poeta é bem de acordo com as tendências
mais recentes da historiografia. Mas ela não escreve os ácidos textos
acadêmicos e sim versos que incomodam, que fazem pensar, que nos sensibilizam.
Como
estes:
Desocupe
a sua casa
A
sua casa
Desocupe
Vou
repetir:
Desocupe
a sua casa
A
sua
Casa
Você
não está entendendo:
Não
no dia que você quiser
Desocupe
de agora
Até
a data marcada.
Desocupe
A
sua
Casa.
Obrigado, Adriane Garcia, por trazer este belo texto poético
para nós, historiadores que, provavelmente, nunca falamos dessas personagens em
nossas aulas mas que, agora, poderemos fazê-lo.
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