O livro Meninos prodígios reúne dois contos de
Izabelle Souza Assis. “A história de Camila” e
“Os loucos sábios”
*
A “História de Camila” é um conto infantil, de
caráter urbano, de fundo psicológico e filosófico. Ao terminar a obra, em 2010,
a autora tinha apenas treze anos. Nascida e residente em um bairro industrial e
comercial de Belo Horizonte.
A narradora, Camila é também uma garota de
treze anos, mas mora no Rio de Janeiro. A escolha do Rio de Janeiro como palco
do episodio dá ao conto um caráter cosmopolita e amplia a significação do
mesmo.
No início a narradora se coloca em um morro
carioca, na condição de jovem, nascida de pais imaturos, ávidos de vida alegre
e festiva, mas sujeitos às dificuldades próprias das favelas. A autora
surpreende pela capacidade de tipificar os personagens; descrever o ambiente, a
sociedade e as tramas da vida. Fala do pai como elemento jovem, divorciado e farrista,
enquanto o avô era homem Inteligente, experiente e digno. A narradora, ainda
criança, tinha conhecimento de seus problemas sociais e existenciais, que
revela a sua precocidade. Presenciou o pai sendo assassinado por um traficante
de drogas e com a arma do morto foi capaz de matar o traficante. O dramático
acontecimento deixou a garota muito perturbada. Foi ai que, quase sozinha no
mundo começou a beber e a usar drogas.
Para adquirir as drogas Camila era capaz de
praticar ações ilícitas e delitos. Sentia-se prisioneira do vício e perdia a
estima pela vida. As convulsões e alucinações a levam à tentativa de suicídio.
Nos momentos de lucidez falava da existência humana como se tivesse uma vida
adulta muito conturbada.
Internada em uma clínica de recuperação Camila
surpreende o terapeuta com diálogo de alto nível. Revela a ele que acha a
clínica um lugar ascético, incapaz de proporcionar prazer o desgosto: Se eu fosse uma árvore, aqui seria o lugar
perfeito. Dependendo do momento e da
pessoa poderia ser considerado um inferno ou um paraíso. É certo que cada uma
faz seu próprio paraíso. Diz ainda que a injustiça existente no mundo era
em decorrência da sociedade dividida em classes. No debate com o terapeuta
Camila tem a ousadia de contrapor a ele o conceito de inveja que não é só o
desejo de ser e de ter as coisas, mas o desejo de destruir o outro. Reprova as
conclusões apriorísticas, pois não se
pode ter certeza mesmo depois do debate. Na verdade, sempre gostei de criticar.
A clínica não tem solução para meus problemas, de vez que eles são coisas que
se aprende com a vida. Confesso que tenho medo de não suportar as pessoas de
visão pequena
Se as drogas simbolizaram as algemas que
conduziram Camila à clínica, o sair de lá simbolizou sua libertação, porque se
desvencilhou dos grilhões que aprisionavam a consciência.
O renascimento de Camila começa com a reflexão
de que a passagem da fase infantil para a adolescência representou uma perda da
sensação de proteção e comodidade. Mas ao mesmo tempo se situa no mundo e
achava a vida bela. A autora nos faz lembra “A importância de viver” do autor
chinês Lin Yutang. Para apreciar as coisas simples da natureza é necessário ser
livre. A beleza do conto de Izabelle, A
história de Camila está no seu desfecho final: a descoberta da importância
de viver. Sou como o vento. Se você me
olhar, nada verá, mas poderá sentir. Quem não é livre não pode ver e nem
sentir.
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No conto “Os loucos sábios” a autora Isabelle
Souza Assis, de início dá a impressão de que a narrativa será na primeira
pessoa, mas já adiantada na escritura nomeia o personagem Benjamim como
narrador. Até o final do conto Benjamim é uma incógnita, quanto à sua idade e
quanto ao seu papel no grupo que se forma: Will, Felipe, Gabriel, João e Pedro
e Noely; Nesse conto há uma forte presença masculina.
A autora contempla a natureza de modo
privilegiado, de vez que a mesma é tratada com toda a reverência, contemplando
com prazer os elementos circundantes, como a cachoeira emoldurada por uma mata;
o sol nascente; o vento que sopra. Mas a alma humana ferve com os problemas da
vida e a dificuldade para entender a mente humana. Para superar as dificuldades
humanas a autora cria um discurso mágico como o realismo fantástico de Gabriel
Garcia Marques, em Cem anos de solidão;
Murilo Rubião, em o Ex-mágico da taberna
minhota, no qual o absurdo penetra na realidade e nos convida à reflexão;
Franz Kafka, com A metamorfose, que
nos comove com o sofrimento de um jovem que se transforma em uma barata. Como
no Romantismo do Século XIX, surgiu na Inglaterra e nos EUA uma tendência
literária sustentada pelo ambientalismo
e pelo aquecimento global, como nas obras de Ian McEwan e de Jonathan Franzem,
que tomam o sentimento ecológico como indicador de pureza de intenções. Não quero insinuar que Isabelle tenha
recorrido a qualquer uma dessas obras, mas afirmar que ela foi capaz de adotar
uma forma de expressão muito eficiente de expressão literária.
A sociedade contemporânea, com seus desvios e
mazelas, vem à tona com a morte e fuga dos adultos. Os adultos de meia idade
não são confiáveis de vez que é deles que vêm os vícios da embriaguês; uso do
ópio ilícito; da pedofilia, do latrocínio e de toda sorte de atrocidades
estampadas nas paginas diárias dos jornais. Para interpretar e compreender o
mundo contemporâneo o grupo de crianças prefere viver seu mundo à parte,
excursionando em cavernas distantes; investigando os fenômenos paranormais. É
isso que a autora quis dizer com o vocábulo loucura. Através da poesia do livre
pensar, tenta uma incursão na alma de cada personagem e na alma do ser humano
contemporâneo.
Antonio de Paiva Moura
Professor de história da arte da Escola
Guignard – UEMG
A autora, apresentada por Marlene de Moura Teixeira.
Izabelle de Souza Assis nascida em Belo Horizonte,
no dia 3 de agosto de 1997 é uma garota que consegue dar conta de sua
existência com rara força de expressão. Admirável é sua vocação para a
atividade literária. Conta a sua mãe que aos nove anos de idade, viajando de
trem de Belo Horizonte para Vitória esteve todo o tempo escrevendo poemas. Além
da prosa ela tem uma enorme quantidade poemas escritos. Onde Izabelle teria
encontrado tanta inspiração e aptidão para escrever.. O avô materno vive na
cidade de Bonfim, a 90 quilômetros de Belo Horizonte e é sitiante na comunidade
de Vargem Alegre, onde Izabelle passou algumas férias. Seus pais são pequenos
industriários na região metropolitana de Belo Horizonte. Os contos História de Camila e Os loucos sábios,
escritos em 2010, têm como personagens crianças em interação com os
adultos, sofrendo as pressões próprias da época contemporânea. Eles estão
atentos aos problemas existenciais e ecológicos. A jovem autora contempla a
natureza de modo privilegiado, tratando-a com toda a reverência e explicitando
a necessidade de preservá-la. Izabelle é uma autora de bem com a vida: Na
concepção dos seus personagens a escola é lugar prazeroso de se viver. É lugar
orientador do gosto estético, da iniciação científica e da boa convivência
social.
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