Antônio de Paiva Moura
O livro “Pelo Sertão” foi
publicado pela primeira vez, no Rio de Janeiro, pela Laemmert, em 1888. Reúne
doze contos escritos quando o autor tinha de 19 a 26 anos de idade.
O autor – Afonso Arinos de Mello
Franco era filho do senador Virgílio de Mello Franco e Dona Anna de Mello
Francos. Nasceu em Paracatu MG, no dia 1º de maio de 1868 e faleceu em
Barcelona, em 19 de fevereiro de 1916. Completou
estudo primário em Vila Boa do Anhanguera, antiga capital de Goiás. Em 1881 foi
para São João Del Rei, onde fez o curso secundário, no Colégio Cônego Machado.
Em 1889 concluiu o curso de Direito em São Paulo. Em seguida volta a morar em
Outro Preto, onde passa a lecionar no Liceu Mineiro, viajar e escrever. Em 1881
escreveu o conto “Joaquim Mironga” e “Assombramento”, cujos personagens, como o
autor, estão sempre em viagem. Já no início do século XX escreve a bela página
“Buriti Perdido” e deixa inédito o romance historio do século XVII e “Ouro, ouro”.
(OLIVEIRA MELLO, 1994)
Pedro Barqueiro – Quase chegando a Pedra de
Maria da Cruz, Norte de Minas, o tropeiro Flor começou a contar a seu patrão,
um caso de valentia, habilidade e esperteza. Seu antigo patrão o incumbe de
prender um perigoso foragido de nome Pedro Barqueiro. Começa assim: Naquele tempo eu era franzininho, maneiro de
corpo, ligeiro de braços e de pernas. Meu patrão tinha sempre em casa uns vinte
capangas, rapaziada de ponto de dedo. Pedro Barqueiro tinha fama de ser
muito valente. Continuando o Flor: Estou
com ele diante dos olhos, com aquela roupa tingida de barro preto: atravessado
à cinta um ferro comprido, afiado, alumiando sempre; maior que um facão, menor
que uma espada. Tratava-se de negro fugido dos lados do Carinhanha, que
havia escapado a um cerco de tropa regular e não havia quem o pegasse. Flor e
seu companheiro Pascoal conseguiram descobrir que Pedro Barqueiro morava
sozinho em um rancho à beira do São Francisco. Os dois conseguiram aproximar-se dele e depois
de muito custo, passá-lo a preso e levá-lo à presença do patrão. Enquanto os
moradores do lugar comentavam a proeza de Flor e Pascoal, Pedro Barqueiro
conseguiu desabar-se das cordas e desapareceu. Segundo a crença, Pedro
Barqueiro contava com proteção sobrenatural. O personagem narrador ficou
frustrado porque desejava que sua vitória impressionasse Emília, com quem
pretendia se casar.
Joaquim Mironga - Com esse título Affonso Arinos conta a
história de vaqueiro que desde a infância acompanhava um grande e velho fazendeiro.
Joaquim Mironga relata que viu o patrão novo nascer e crescer na fazenda.
Mironga era excelente cavaleiro: andava armado com ferrão e clavinote. Em 1842, por ocasião da revolta liberal, as
forças dos potentados regionais entraram em conflitos. Moronga, juntamente com
o patrão novo fez tudo para dar fuga ao patrão velho na travessia do Rio São
Francisco. De volta da missão, em confronto com uma hoste adversária, o patrão
novo foi ferido e faleceu. Muito significativa a forma como Arinos revela a
fidelidade de Mironga ao velho e ao novo patrão. Fica clara a identidade dos
personagens com senhores, cavaleiros e vassalos medievais.
Buriti Perdido – Trata-se de uma crônica
sobre a devastação dos sertões mineiros e goianos. A redação é em forma de
prosa, porém com estética de poesia. Predomina a elegância na colocação das
palavras, o que revela alta erudição do autor. No final do século XIX havia um
surto migratório em busca de novas terras para lavoura e criação de gado. Uma
palmeira buriti escapou-se dos golpes dos machados e sobreviveu solitária,
sentindo todos os brados da natureza em seu entorno. Setenta anos antes do
surgimento de Brasília no Planalto Central, Arinos reserva na cidade um lugar
para o buriti perdido. Se algum dia a
civilização ganhar essa paragem longínqua, talvez uma grande cidade se levante
na campina, a soca do buriti perdido. Possivelmente, na leitura dessa bela
oração de Arinos, o construtor de Brasília deu à residência oficial do
governador do Distrito Federal o nome de “Palácio Buriti”.
Como
diz Amoroso Lima (1968) “Pelos Sertões” é uma obra de absoluta sintonização com
o autor; de investigação pessoal completa sobre o ambiente, os costumes, a
paisagem e os personagens dos contos nele contidos. Era a realidade que o
interessava, era a consideração do mundo exterior que o prendia, mas era o
sonho que se continha no âmago dessa verossimilhança. Foi por isso, que além de
animador de tipos reais e de diálogos flagrantes de verdade, um descritivo, um
apaixonado da natureza.
Na
trilha aberta por Bernardo Guimarães veio Afonso Arinos que com ele se
identifica no conhecimento dos sertões do Triângulo Mineiro e de Goiás. Ambos
tinham o gosto por viagens e por ouvir viajantes nas pousadas. Os contos
“Assombramento” de Arinos e “A filha do fazendeiro” de Bernardo Guimarães, além
da identidade de enredo, ambos foram colhidos em pousos de tropeiros. Na
sucessão de Afonso Arinos veio João Guimarães Rosa, apreciador das viagens a
cavalo e do convívio com os sertanejos. Como Arinos, Rosa não emprega em sua
escrita o linguajar caipira ou roceiro, com acentuada corrupção da gramática e
do léxico português.
Referências
LIMA, Alceu Amoroso. Verdade e idealismo em Afonso Arinos.
Minas Gerais (Suplemento Literário) Belo Horizonte, 27 abril de
1968.
OLIVEIRA
MELLO, Antônio de. De volta ao sertão:
Afonso Arinos e o regionalismo brasileiro. Paracatu: Buriti, 1994.
Nenhum comentário:
Postar um comentário