Nos belíssimos capítulos que escreveu para o volume 1 da
Enciclopédia Einaudi dedicado à Memória, Jacques le Goff conclui que “a memória
coletiva faz parte das grandes questões das sociedades desenvolvidas e das
sociedades em vias de desenvolvimento, das classes dominantes e das classes
dominadas, lutando todas pelo poder ou pela vida, pela sobrevivência e pela
promoção”.
E insiste na necessidade da democratização da memória
social, afirmando que cabe aos profissionais científicos da memória “fazer da
luta pela democratização da memória social, um dos imperativos prioritários da
sua objetividade científica”.
O capítulo sobre Memória se encerra com um parágrafo
lapidar: “A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta,
procura salvar o passado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar
de forma a que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a servidão
dos homens”.
No capítulo Documento/Monumento, esse mesmo autor nos diz
que “A palavra latina monumentum
remete para a raiz indo-europeia men,
que exprime uma das funções essenciais do espírito (mens), a memória (memini).
O monumentum é um sinal do passado
[...] Mas desde a Antiguidade romana o monumentum
tende a especializar-se em dois sentidos: 1) uma obra comemorativa de
arquitetura ou de escultura: arco de triunfo, coluna, troféu, pórtico etc.; 2)
um monumento funerário destinado a perpetuar a recordação de uma pessoa no
domínio em que a memória é particularmente valorizada: a morte”.
Essas falas de Le Goff me vieram à mente ao examinar dois
livros recentes, da mesma autora, filósofa e professora, com quem tive
oportunidade de trabalhar: Maria de Lourdes Caldas Gouveia.
Ela vem desenvolvendo um belo trabalho intitulado Matéria da Memória: a cidade e seus
símbolos. E tenho dois volumes já publicados, cujas capas mostro a seguir.
“O cemitério do Bonfim como símbolo da cidade” e “A praça da
Liberdade como símbolo da cidade”, nos revelam, em linguagem dinâmica e
apaixonante o que esses dois monumentos de Belo Horizonte significam para a
democratização da memória social de que fala Le Goff.
São dois belíssimos livros, de editoração excelente, com
amplas e portentosas imagens desses dois núcleos patrimoniais que se destacam
pela relevância histórica, simbólica, social e cultural da capital mineira.
Nem preciso dizer que recomendo a todos a leitura dos dois
volumes. E não apenas a leitura, mas, também, que deixem seus olhos brilhar
intensamente com as fotografias que os ilustram.
A publicação ficou a cargo da ONG Akala (www.akala.org.br)
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