José Ortega y Gasset nasceu em Madri, em 9 de maio de 1883. Estudou em Madrid, mas foi enviado logo cedo, pela família, para cursar o bacharelado em um colégio dos jesuítas de Málaga..
Graduou-se e doutorou-se em Filosofia na Universidade Central de Madri, em 1904
Teve vasta obra publicada, reunindo palestras e artigos diversos. Seus mais famosos livros são "A rebelião das massas" e "Meditaciones del Quijote". A resenha que nosso colaborador enviou é do livro "A rebelião das massas".
A mediocridade do homem-massa
Antônio de Paiva Moura
Há no mundo
contemporâneo, grandes e vários tipos de manifestações populares, que ocupam
espaços públicos levando inscrições e pronunciamentos em coro. A convocação de
grupos e pessoas com os mesmos ideais tornou-se fácil com o aparecimento da
Internet e da telefonia móvel. Um exemplo desses tipos de mobilizações foram os
chamados “rolezinhos”, reuniões de jovens em shopping Center, ocorridos em 2014, nas grandes cidades
brasileiras. Os principais tipos de manifestações são de cunho político,
religioso, esportivo e social.
O que me motivou a
escrever esta resenha foi o comportamento do atual presidente das Filipinas,
Rodrigo Duterte. Em 2016 ele disse que matava com as próprias mãos pessoas
suspeitas de crime. Com a ajuda e apoio de populares, mandou matar cerca de
cinco mil pessoas, envolvidas em tráfico e consumo de drogas, desde o início de
seu mandato como presidente.
Para Ortega Y Gasset o
homem-massa é uma forma de ver o mundo. Ele apresenta o século 20 como a era do
homem-massa, isto é, previamente esvaziado de sua própria história, sem
entranha de passado e, desta forma, dócil com seus exploradores, com seus novos
opressores. O homem-massa só tem desejo; pensa que só tem direito e não acha
que tem obrigações: É um sujeito sem
obrigações de nobreza. Ortega y Gasset só viveu até a primeira metade do
século XX, mas foi capaz de antever o que seria a atualidade e o grau de
mediocridade a que chegou o homem-massa. Este só participa de manifestações em
causa própria, movido a estímulos externos, como bonecão de bloco carnavalesco.
Recebe estímulos à prática de atos violentos e expressões de ódio e
preconceitos.
O homem-massa fustiga seus apetites que, em princípio, podem crescer
indefinidamente, não se preocupando com nada além de seu bem-estar. Para
satisfazer seus apetites o indivíduo contemporâneo passa por cima de qualquer
valor ou limite, como a carta deixada por Sidnei Ramis de Araújo, ao matar onze
familiares e se suicidar, na noite de 31 de dezembro de 2016, em Campinas. Ele
banaliza a morte dos outros e diz que morria por justiça. Considera que a
ex-mulher era uma vadia protegida pela justiça. Diz que a ex-presidente Dilma,
também é uma vadia por ter sancionado a Lei Maria da Penha. Percebe-se nas
palavras de Sidnei a intolerância aos limites.
O homem-massa se considera no direito de ser vulgar. Não dá razão
aos outros, mas se mostra decidido a dar sua opinião a todo instante e em
qualquer lugar que se encontre. Impossibilitado de formar idéias concretas e
razoáveis, apela para a violência como forma de solução. É comum ouvir-se
pronunciamentos como: “Se matássemos todos os gays, o problema da AIDS estaria
resolvido”. Sobre o controle da natalidade propõe esterilizar coercitivamente todas
as mulheres pobres. Bruno Júlio, filho do deputado Cabo Júlio (MG), foi nomeado
pelo presidente Temer ao cargo de secretário nacional da juventude, com um
salário mensal de R$ 14 mil reais, mesmo sabendo que ele era acusado de assédio
sexual a uma jovem e de ter tentado matar sua ex-mulher, porque esta não queria
mais o relacionamento. Em janeiro de 2017, no momento em que ocorriam as
chacinas nas penitenciárias do Norte do Brasil, o secretário Bruno Júlio disse:
“Tinha era que matar mais; fazer uma chacina por semana”. Continuando a conversa com jornalista de “O Globo” ele arremata:
“Eu sou meio coxinha sobre isso, pois sou filho de policial”. É, portanto, a
autêntica expressão da vulgaridade.
O homem massa jamais teria apelado para qualquer coisa fora dele, se a
circunstância não o tivesse forçado violentamente a isso. A massa é confusa em seus propósitos e não
sabe agir criticamente, dependendo sempre de autoridades externas que lhe dê
diretrizes, movidas pelo sentimento de ódio; pela maledicência; calúnias e
falsidades. Para silenciar as vozes que contestam as asneiras do homem-massa
este reivindica a volta da ditadura.
O homem-massa não conhece a civilização
em que nasceu e que nela vive. Com a ignorância, falta de conhecimento histórico e
o baixo nível cultural do cidadão contemporâneo, ele não está à altura de
resolver os problemas atuais. Os trabalhadores estão voltando ao status de
escravo; as conquistas das mulheres estão sendo rechaçadas com assassinatos e
agressões dolorosas; as penitenciárias não comportam tamanho volume de
prisioneiros que se digladiam entre si; as crianças estão sendo educadas para
serem autômatos, individualistas e narcisistas. Tudo isso redunda em destruição
da civilização.
Referência
ORTEGA Y GASSET, José. (1883-1955). A
rebelião das massas. [1930]. Tradução de Marylene Pinto Michel. São Paulo:
Martins Fontes, 2002.
Nenhum comentário:
Postar um comentário