Tenho o prazer de apresentar hoje o autor mineiro Thiago Andrade Macedo, que acaba de publicar um romance que, conforme os comentários, promete ser bastante intrigante. A capa do livro é bem sugestiva! E, pelo visto, o cenário brasiliense anda fornecendo excelentes materiais para livros. Já publiquei aqui comentários sobre o romance da Carol Bonacim e o da Patricia Baikal. E este é o terceiro romance que adentra o Parlamento brasileiro.
Conheçam o autor e sua obra:
Thiago Andrade
Macedo, 39 anos, é natural de Viçosa (MG) e está radicado em João Pessoa (PB).
Formou-se em Direito, atuando depois da conclusão do curso em tribunais e na
área de segurança pública, mais especificamente no âmbito do Ministério da
Justiça (Polícia Federal).
Para ele, a
literatura, além de ser uma forma de
se expressar, é algo que o define, uma necessidade intimamente ligada ao seu
jeito de ser, bem como uma oportunidade de criar mundos; de ir além da vida
cotidiana, que, parafraseando o poeta Ferreira Gullar, “muitas vezes, é
mesquinha, arrastada e não basta”.
Na adolescência,
dedicou-se a escrever poesia e pequenas crônicas. Por essa época, leu bastante
literatura brasileira. Um pouco depois, passou a ler mais literatura
estrangeira e começou a escrever os primeiros contos, partindo, depois, para
uma empreitada maior: o romance.
A primeira
experiência literária, de fato, foi um livro que ele considera hoje uma espécie
de esboço de O silêncio das sombras.
Editado de forma artesanal, foi distribuído apenas entre os amigos. Já a ideia
de escrever O silêncio das sombras
partiu de um conto que produziu, chamado “O guarda-costas”.
Thiago escreveu
outros pequenos contos, estabelecendo um liame entre eles. Foi então que teve a
ideia de escrever um romance, dando voz a cada um dos personagens. Como, no
início, “parecia um quebra-cabeças a ser montado”, decidiu adotar o formato de
romance policial para o texto.
Ele confessa que
nunca foi muito metódico ao escrever, mas gostaria de poder escrever todos os
dias, o que a rotina profissional impede. Já o processo de escritura de O silêncio das sombras levou cerca de um
ano e meio, dois anos. A partir desse ponto, tinha um esboço do livro, que foi
reescrito várias vezes, visto que, como autor, não acredita em simples
inspiração, mas em muito trabalho.
SINOPSE
Em época de eleições e
efervescência política, três investigadores federais são lançados
repentinamente em uma zona de fronteira de um país, a fim de elucidar o
desaparecimento da filha de um Senador da República e do namorado dela, um caso
reaberto depois de dez anos.
Chegando ao local, Petrus Hammer,
um policial tomado por uma crise existencial, Ivan Brod, um tira à moda antiga,
e Jan Pollack, quase um novato na polícia, unem-se a Saul, um quarto agente
designado pela força policial local para acompanhar o caso.
Em
meio a um frio insuportável, os policiais começam a se mexer no teatro de
sombras de Grenze, a estranha capital do Estado Fronteiriço. A investigação
toma forma, mas, aos poucos, parece arrastar-se e não sair do lugar, pois novos
elementos elucidativos não vêm à tona. Uma atmosfera de jogo e pistas falsas
adensa-se então de forma vertiginosa, desencadeando um clima de suspense e
mistério quase que insuportável.
Revelações
bombásticas surgem, envolvendo um dos personagens, e a trama passa a tomar novo
rumo. Entretanto, novas reviravoltas ainda acontecerão, mudando novamente o
foco da ação dos investigadores.
Um
lugar sufocante, “terra de ninguém” moral, um crime a ser solucionado que
parece não ter lógica ou fazer sentido algum: o mundo ambíguo de Grenze remete
o leitor a avançar no texto cada vez mais. Personagens excêntricos, irônicos,
cínicos e intrigantes, que dizem muito de nós mesmos e sondam temas que vão
muito além da mera seara das estórias de detetive, surgem ao longa da trama.
Narrado sob o ponto de vista de
diversos personagens, O Silêncio das
Sombras é uma obsessiva epifania de signos e significados, um “caldo
cultural” que mistura blues, jazz, literatura, cinema, ocultismo e temas
macabros. Há um
caos provocativo por trás de uma insuspeitada ordem, em cada frase, em cada
diálogo, em cada palavra. Percorrendo
camadas de ficção policial e de mistério, o texto, com matizes de romance
psicológico e também marcado pelo tom filosófico, liberta-se da obviedade e
parece nos querer dizer algo mais.
Em
uma estranha cidade tomada pelo frio, uma velha foto de uma garota desaparecida
provocará vingança, discórdia, loucura. As pistas falsas tornam-se verdadeiras,
e as que eram supostamente verdadeiras mostram-se falsas, porque, em meio ao silêncio das sombras, nada é o
que parece ser...
CONSIDERAÇÕES
IMPORTANTES
Em seu
formato, o livro é um romance policial, uma ficção de suspense e mistério, como
qualquer leitor pode perceber. Existe um crime a ser investigado, encoberto,
evidentemente, por um mistério. A essência do livro, entretanto, não faz parte
do universo da tradicional ficção policial. Ao contrário dos romances de Agatha
Christie e Conan Doyle, não se busca apenas um criminoso, num esquema onde as
soluções da trama se dão através de processos dedutivos.
Ademais, por outro lado, o que se procura não é apenas mostrar o
que estaria submerso em um “mar de lama”, o que caracteriza a ficção
norte-americana posterior aos autores citados, como ocorre nos livros de
Dashiell Hammett ou Raymond Chandler. Na verdade, no que concerne ao conteúdo
do texto, há um vínculo mais forte com Rubem Fonseca ou Luiz Alfredo
Garcia-Roza, autores nacionais que têm muita substância e, na modesta opinião
deste signatário, suplantam em estilo, autores estrangeiros e “clássicos” do
gênero.
Com
efeito, a “casca” da obra seria mesmo a de um romance policial, mas os temas
lançados no texto são universais – angústia, medo, solidão, o absurdo da
condição existencial do homem moderno -, abordados em uma narrativa concebida
de forma roteirizada, com profunda influência da linguagem cinematográfica, onde
cada parte forma o todo como se fosse um quebra-cabeças.
O
texto, ao mesmo tempo que avança em sua narrativa, apresenta em cada capítulo
um ponto de vista de um personagem diferente, procurando criar um jogo de
tensão a ser experimentado pelo leitor, caracterizado
pelo embate psicológico no interior de cada personagem e na relação dele com os
demais.
Teceram comentários
elogiosos em ensaios profundos sobre a obra o escritor e crítico literário W. J. Solha, premiadíssimo Brasil afora por vários de seus livros;
o jornalista, cronista e crítico literário paraibano William Costa, editor do suplemento cultural Correio das Artes, o
mais antigo em circulação do país; o escritor, filósofo e crítico literário
gaúcho Nelson Hoffmann; o escritor
regionalista e jurista catarinense Enéas
Athanázio, igualmente muito premiado por diversos trabalhos. O maior poeta
paraibano vivo, Sérgio de Castro Pinto,
ganhador de vários prêmios nacionais, bem assim, endossa o livro, sendo um de
seus maiores incentivadores.
De mais a mais, a
experiência do autor como profissional da segurança pública reforça a
verossimilhança do que é abordado no livro, isto é, vários episódios da trama
têm fundamento na realidade policial.
Todos
esses fatores reunidos nos levam a crer que O Silêncio das Sombras é um livro para ser lido por todas as idades,
para encantar leitores mais críticos e experientes e para despertar em quem
está começando a ler romances o espírito aventureiro da ficção.
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