Vamos conhecer hoje uma autora mineira que conheci na Bienal de São Paulo.
Bruna Longobucco é mineira de Belo Horizonte. Escritora independente há
13 anos e com 16 livros publicados. Tem obras para o público adulto,
juvenil e infantil. Apaixonada por Literatura começou a escrever ainda na
infância. É graduada em Comunicação Social e Direito e pós-graduada em Revisão
de Texto, entre seus originais há poesias, contos, crônicas, músicas e
romances.
Fanpage: https://www.facebook.com/blongobucco/
1.
Fale um pouco
sobre sua trajetória de vida, antes de se dedicar à literatura.
A Literatura faz parte da minha vida desde que me
entendo por gente, então é difícil falar sobre minha vida antes de me dedicar a
ela. Aos 8 anos já era uma leitora assídua. Apaixonei-me por livros muito cedo
e comecei a versificar aos 9. Depois vieram textos, contos e aos 16 escrevi meu
primeiro romance. Enquanto eu vivia lendo e escrevendo, estudei, fiz duas
faculdades, tirei minha OAB, mas os livros sempre me chamavam. Publicar foi
outra história.
2.
Quando descobriu
sua “vocação” para escrever?
A vocação eu descobri bem cedo, como eu disse, aos 9
anos já versificava. Do nada me inspirava. Mas só entendi como isso era
essencial pra mim, quando prestei concursos públicos. Já num cargo jurídico, eu
entendi que não podia viver sem me dedicar aos livros. Muita gente me julgou
quando pedi exoneração. Não me importei e fui em frente.
3.
Fale um pouco
sobre os livros que já publicou.
São 16 livros publicados. Contos, crônicas e
romances. Os romances são os que me dão mais alegria.
O menino que tecia sonhos, 2004;
Além das nuvens,
2005;
Luz do sol, 2006;
O vale da liberdade, 2007;
Um outro olhar,
2008;
Sem destino, 2009;
Meu caminho de lua, 2010;
Centúrias, 2010;
Duas
Luas, 2011;
Uma nova chance, 2012;
O enigma da estrela, 2015;
Mais que
uma escolha, 2016;
O outro lado do não, 2016;
Um motivo pra sorrir, 2016;
O novo mundo das letrinhas, 2016;
O meu
melhor amigo, 2017.
4.
Existe um que
você gosta mais? Por quê?
Sem destino. Porque traz um
universo rural que vivenciei boa parte de minha vida. E a personagem é forte,
ela representa busca e reencontro, o que é parte de todos nós.
5.
Comente sobre
sua experiência com editoras. Ou
você é adepta de produção independente?
Sim, posso dizer que sou adepta da produção
independente. Vou explicar o motivo. Sobre as editoras, existem duas formas de
publicação: As que não cobram para
publicar e as que cobram para publicar. No início, quando ainda não sabia
nada sobre autopublicação, a primeira e maior dificuldade que encontrei foi
obter uma avaliação dos originais. O que muito se ouve é que as editoras que
não cobram para publicar recebem pilhas e pilhas de livros e muitos são
descartados sem análise. Eu cheguei a enviar alguns trabalhos, mas logo recebi de
volta e me deu a impressão que estavam intocados. Naquele tempo eles ainda
devolviam. Um dia recebi uma carta com a recusa da editora para outro autor. Ou
seja, não era pra mim, mas veio no meu endereço. Nossa, isso marcou o começo da
minha carreira como autora independente. Acabei desistindo das editoras não
pagas, pois percebi que nem sempre existe um tratamento adequado na análise dos
originais. Claro que devem existir exceções. Estou falando de uma experiência.
Fato é que a partir daí decidi seguir em frente sozinha.
Antes vou falar
brevemente sobre as editoras que cobram para publicar, os custos são altos. Eu já recebi
orçamento que chegou a R$ 160 reais por custo unitário de um livro, acredite.
Várias editoras hoje abrem espaço para publicação sob demanda, ou seja, o autor
paga e publica sob um determinado selo editorial, mas os contratos para novos
autores custam aproximadamente 14 mil reais, sem nenhuma divulgação e
distribuição que realmente dê um retorno para o autor. Daí, você investe muito e o livro se torna um
desconhecido na última prateleira de uma livraria qualquer sem nenhuma chance
de chegar ao leitor. Já passei por isso e fiquei na mesma.
Então, apesar de ter realizado alguns
contratos com editoras, pequenas e grandes, acabei chegando à conclusão de que
o melhor era seguir meu caminho como autora independente. Terceirizar os
serviços e publicar por minha conta, sempre buscando o melhor preço e
qualidade.
6.
Nas entrevistas
e bate-papos que acompanhamos pela internet, verificamos que existe uma
preocupação muito grande com a revisão. Há livros sendo publicados sem revisão
de espécie alguma, nem a técnica (própria da editora) nem a
ortográfica/gramatical. O que você pode nos dizer a respeito? No seu caso
particular, você contrata um(a) revisor(a)? Ou a editora se encarrega disso?
Hoje a gente percebe que angariar autores virou o
foco de muitas editoras, porque eles pagam para publicar, trata-se de um
público enorme, mas e a qualidade do que se publica, como fica?
Eu sou autora independente, repito, mas não abro mão
da qualidade do que faço, seja no miolo do livro ou na impressão. Eu sou
revisora de texto há 9 anos. Fiz inclusive especialização. E mesmo assim hoje
faço questão de submeter meus livros à revisão. E olha que faço isso depois de reler
atentamente, mesmo minha revisora sendo muito competente. Não vou dizer que
criatividade depende da técnica, não depende, mas para oferecermos nossos
livros com qualidade precisamos sim nos importar com nosso texto. Vejo com
tristeza essa postura de não revisar, essa despreocupação por parte das
editoras e de alguns autores, muitos na verdade. Já ouvi autor falando que não
revisa para economizar nos gastos de edição. É uma economia que só traz
prejuízo.
7.
Outro ponto
chave para os novos autores é a divulgação de suas obras. Pode nos dizer de sua
experiência a respeito?
Sim, o autor quando começa nesse meio pensa que
imprimir o livro é a parte mais difícil por causa dos custos de edição, mas não
é. Depois vem a distribuição. Hoje quase não há distribuição de autores
independentes. Então, você gastou, se envolveu e não tem como chegar às
gôndolas de uma livraria. E não bastasse a dificuldade de distribuir, vem a
divulgação, que também tem alto custo. E é outra barreira. Como apresentar o
livro para o leitor? Sabemos que estatisticamente o Brasil é um país de não
leitores. Ora, se somos um país de não leitores, imagine como é difícil um novo
autor independente cativar um leitor? Porque infelizmente tanto o autor
independente quanto a Literatura Nacional ainda sofrem preconceito. O que eu fiz e faço? Conquistar um
leitor de cada vez. Divulgo nas redes sociais, tento ir às feiras e bienais,
faço parcerias com blogueiros, e principalmente, vendo meus livros por
indicação. O retorno e o carinho do leitor é a razão pela qual persisto há 13
anos como autora independente.
8.
Bienais e feiras
de livros – são importantes para os novos autores?
Muito. Não importa o lugar e o público estimado, se
você tem como ir vá. Eu demorei anos para interagir pessoalmente com o público.
Publicava mais virtualmente e fazia lançamento para os parentes, amigos,
colegas, conhecidos. Precisamos ir além do que nos é confortável. E já que não
estamos na mídia, ta humildade é requisito fundamental. É no contato direto com
o leitor que você vai ouvir a verdade sobre o seu livro, doa a quem doer. Não
adianta eu falar sobre o que eu escrevo, mas sim a opinião de quem lê, de quem
pega o livro impresso, de quem analisa a capa. Além disso, só nas feiras e
bienais conseguimos esgotar nossas tiragens. Algumas não dão retorno, outras
dão, não desanime, é assim que funciona.
9.
Ouvem-se muitos
comentários depreciativos sobre a literatura brasileira contemporânea. É comum
ouvir-se algo do tipo “não gosto, não leio autores nacionais”. Em seu
entendimento o que explicaria tal tipo de assertiva?
Só quem não lê a nossa nova literatura pode falar
assim. Existe muita coisa boa chegando, mas a maioria dos poucos leitores
assíduos em nosso país ainda não dão chance para a novidade, justamente por
esse preconceito em relação ao que é Nacional, ou simplesmente pela adoração do que
vem de fora. Gostar de livro nacional, conhecer o que é novo, não desabona a
literatura estrangeira. Cada uma tem seu lugar e é importante. Mas também não
podemos esquecer que alguns leitores estão calejados por livros ruins e mal
escritos que comprometem os excelentes livros recém-lançados.
10. A partir de sua experiência pessoal, o que poderia
dizer para aqueles e aquelas que pretendem publicar livros?
Se você ama o que faz e não se imagina vivendo sem a
escrita, vá em frente e seja persistente. Porém, cuidado com promessas
editoriais enganosas, gastos desnecessários, da mesma forma, aprimore seu
texto, leia, estude, leia mais e busque dar sempre o melhor de si no que faz.
Obrigada pela entrevista e sucesso pra nós!!!
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