Semana passada, apresentamos os livros de Marli Dias Hernandez Fernandes. Hoje ela nos fala um pouco de sua vida, de sua obra, de suas ideias. Vamos curtir?
1. Fale um pouco sobre sua trajetória de vida antes de se dedicar à literatura.
Sou professora de ensino fundamental, formada no antigo
curso de magistério, mas não exerço a função desde o ano 2.000. Mãe de três
filhos e avó de três netos, dediquei minha vida ao lar. O gosto pela leitura
veio através de minha mãe, que desde muito jovem, por amar livros e histórias,
incentivou a mim, e a minha irmã a ler, com isto, e minha personalidade voltada
aos mistérios que rondam a vida e a morte, comecei a escrever histórias, sendo
sempre a número 1 em redação. Na adolescência, no ensino médio, criei muitas
histórias, que hoje sei serem fanfic’s, sendo sempre sucesso entre os alunos. No
ano de 2014, percebendo o fascínio de minha filha mais nova pelos livros de
fantasia, com um pouco mais de tempo sobrando, escrevi meu primeiro livro: A
Saga de Luma/Do Éter ao Desconhecido, e, após concluir a escrita, muitas
pessoas que leram, me incentivaram a buscar uma editora para publicá-lo. Sem a
menor ideia do que era o mercado editorial, comecei a buscar editoras e enviar
meu original, logo tive a resposta da Editora Multifoco, que fez a publicação
de forma completamente gratuita, este foi o gatilho para que dedicasse minha
vida ao que sempre mais amei fazer, escrever. De lá, até agora, são 12 livros
escritos, sempre com gêneros que passeiam entre o suspense, drama, fantasia e
terror. Tenho três livros publicados por Editoras, dois pela editora Multifoco:
A Saga de Luma, e A Colina das Almas Perdidas, que agora, devido ao término do
contrato, estou lançando de forma independente, e Miranda/Um Crime Quase
Perfeito, pela Editora Livros Prontos, um romance policial que foi lançado na
Bienal Internacional de São Paulo, ano passado. Este ano, resolvi investir na
independência, e estou lançando livros físicos por minha própria conta, entre
eles: O Padre de Compostela e, um livro infantil: As Aventuras de Zac, Gu e
Alice, que escrevi e ilustrei em homenagem a meus netos.
2.
Quando descobriu sua “vocação” para a
literatura?
Desde muito cedo, incentivada por minha mãe, veio o amor
pela leitura. Quando aprendi a escrever, imediatamente, com uma imaginação
muito fértil, comecei a criar pequenas histórias, isso teve continuidade
durante toda a adolescência. Com as dificuldades da vida, durante muito tempo
este meu lado criativo ficou adormecido, voltando com força total no ano de
2014. Acredito que algo que é nato do ser, apenas adormece durante um tempo,
mas jamais morre, então, a vocação para a escrita, nasceu comigo, adormeceu
durante um tempo, e acordou louca para preencher folhas e folhas que até então,
estavam em branco.
3.
Apesar de termos conhecido seus livros, fale um
pouco sobre eles.
Meus livros são carregados de suspense, os leitores nunca
vão encontrar respostas nas primeiras páginas, geralmente, depois de tentarem
encaixar mil peças, ao final encontram as respostas. Adoro provocar arrepios na
espinha. A mente humana também exerce sobre mim muito fascínio, e isto vai em
minhas obras, as lutas mais difíceis de serem vencidas: as internas. Retalhos
de Vida; O Padre de Compostela; Súbito; A Colina das Almas Perdidas; Matt; A
Saga de Luma/ Do Éter ao Desconhecido e O Livro dos Sete Selos; Coletânea de
Contos de Terror; Miranda/Um Crime Quase Perfeito; Maria’s Carvalho; Amor ao
Acaso, são obras que permeiam a mente, os mistérios que a rondam, os desafios
comuns a todos nós, os medos, erros e acertos, mas principalmente os mistérios
que envolvem as descobertas sobre nós mesmos, e sobre o mundo sutil e invisível
que nos rodeia.
4.
Existe algum que seja o preferido? Por que?
Difícil...rsrsrsrs. Cada um deles tem algo preferido. São
como filhos, que apesar de diferentes, são capazes de nos fazer amá-los cada
vez mais, justamente por suas diferenças. Minhas obras são mais ou menos assim,
amo cada uma delas, de uma maneira bem peculiar.
5.
Você baseia seus textos em fatos da vida real,
ou são mera ficção?
Alguns de meus livros têm como ideia central, ou “premissa”,
algum fato real, que me chamou a atenção, mas não costumo relatar histórias
verídicas, apenas uso ideias reais para criar as páginas que vão compor a trama
central. Pessoas e suas personalidades também são objetos de meu interesse
quando escrevo, sendo assim, alguém, com uma personalidade marcante, pode ser
um dos personagens de meus livros. Acredito que minhas obras estão entre ficção
e realidade, as duas se fundem e dão vida às minhas ideias.
6.
Queria saber sobre sua experiência com editoras,
pois vi que agora você parece estar caminhando na direção da produção
independente. Pode nos contar o motivo dessa “virada”?
Durante minha trajetória no caminho literário, adquiri certo
conhecimento e experiência, a cada dia me profissionalizo, e o que começou como
uma brincadeira, acabou tornando-se mais sério. Esta experiência me fez ver
muitas coisas, inclusive, como os autores acabam sendo prejudicados por assinar
um contrato, movido pela ânsia de ver seu livro publicado. Isso me fez parar,
aprender e fazer meus próprios livros, desde a escrita, até a diagramação e
capa, apenas a revisão, entrego a um profissional. Não digo que não publicarei
mais por editoras, mas agora, sou muito mais seletiva.
7.
Nas
entrevistas e bate-papos que acompanhamos pela internet, verificamos que existe
uma preocupação muito grande com a revisão. Há livros sendo publicados sem revisão
de espécie alguma, nem a técnica (própria da editora) nem a
ortográfica/gramatical. O que você pode nos dizer a respeito? No seu caso
particular, você contrata um(a) revisor(a)? Ou a editora se encarrega disso?
No início, eu mesma fazia minhas revisões, pois a falta de
experiência no meio literário, me fazia achar que era o suficiente, mas com o
passar dos anos, verifiquei o quanto uma revisão é importante, não apenas pelas
palavras, supostamente escritas de maneira incorreta, mas por furos que a história
acaba apresentando, pois nós, escritores, por já sabermos a história do início
ao fim, ao escrever, nos empolgamos e esquecemos que o leitor não sabe, isso
algumas vezes acaba deixando buracos na história, por isso, a revisão é tão
importante. Costumo dizer que a primeira escrita é apenas um rascunho, somente
na segunda leitura e após uma boa revisão, o livro está apto a ser vendido,
mesmo porque, acredito ser uma completa falta de respeito com quem está
adquirindo a obra, vende-lo sem o carinho necessário.
8.
Outro
ponto chave para os novos autores é a divulgação de suas obras. Pode nos dizer
de sua experiência a respeito?
A divulgação é fundamental. Hoje, as redes sociais são uma
ferramenta muito importante e eficaz, tanto na divulgação, quanto na
aproximação do autor com o leitor, então, se você deseja iniciar no mundo
literário, deve saber que boa parte de seu tempo será dedicado à divulgação do
seu trabalho nas redes sociais, e na interação com seus leitores. Existem
pessoas que cobram por este serviço, mas muitos escritores iniciantes não tem
como pagar por este serviço, então, meu conselho é de que se aventure na descoberta,
que procure aprender como fazer banners, vídeos, para que faça sua própria
divulgação. Hoje em dia existem muitos aplicativos que auxiliam de forma bem
simples e de forma gratuita. O que não se pode fazer é deixar de divulgar.
Grupos de leitores e páginas voltadas à literatura, também são de grande ajuda.
Investir em marcadores de texto e mimos para as pessoas que adquirem suas
obras, também é imprescindível.
9.
Algo que muito me espanta são os comentários
depreciativos sobre a literatura brasileira contemporânea. É comum ouvir-se
algo do tipo “não gosto, não leio autores nacionais”. Em seu entendimento o que
explicaria tal tipo de comentário?
Isso é um estigma ruim... Muito ruim! Os brasileiros,
infelizmente, foram doutrinados pela mídia a gostar apenas do que vem de fora.
Não somos educados para a leitura, não temos aulas de literatura nas escolas de
ensino fundamental, não aprendemos a identificar o quão rica é a cultura
brasileira, e os grandes mestres da escrita nacional. A leitura é imposta e vista
como “chata”, pois não somos ensinados a pensar no que há por trás de cada
palavra escrita. Temos grandes escritores em nosso país. Alguns autores
brasileiros não deixam nada a dever para um Stephen King, ou uma J K Rowlling.
Assim, como em todas as partes do planeta, existe o bom e o ruim. Podemos
encontrar autores internacionais péssimos, mas também podemos encontrar autores
nacionais maravilhosos. Acredito que é chegada a hora de valorizarmos o que é
nosso, e a única maneira de os leitores descobrirem como há autores bons, é
lendo. Tenho certeza que muitos irão se surpreender.
10. A partir de sua experiência pessoal, o que poderia
dizer para aqueles e aquelas que pretendem publicar livros?
Se você ama escrever, saiba que além da escrita, ser autor
no Brasil exige paciência. Não é um caminho fácil, mas é muito prazeroso.
Dedique-se, aprenda a cada dia mais, empenhe-se em fazer o seu melhor, tenha em
mente que uma pessoa estará lendo o que você escreve, dê a ela o melhor de si.
Escrever exige a alma em cada parágrafo, e depois disso, todo um trabalho de
revisão, diagramação, divulgação... Não imaginem que é glamoroso estar sentado
atrás de um teclado durante dez ou doze horas por dia, dando vida às ideias, é
exaustivo, mas como em todo o trabalho, extremamente compensador, quando
alguém, emocionado com sua história, te chama para agradecer pela gama de
emoções causadas durante a leitura. Não ganhamos muito dinheiro... O que torna
o trabalho feito basicamente por amor! Então, só embarque nessa se realmente
amar de verdade. Os frutos colhidos serão maravilhosos, mesmo que poucos, pois
garanto a cada um de vocês que escrever é algo transcendental!
Minha gratidão pelo espaço, e pela gentileza!
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