quarta-feira, 9 de novembro de 2016

A primeira resenha

Esta foi a primeira resenha do meu romance, feita pelo Fernando Nery, do blog Filósofo dos Livros.

Olá pessoinhas do Mundo Literário!
Principio a resenha de "Amor nos Tempos do AI-5", de Ricardo de Moura Faria, com um de seus trechos que vocês podem encontrar na orelha da capa do livro:
- Ando pensando muito no que já aconteceu conosco este ano. Não sei se o que penso caminha na direção do psicológico, aliás, você sabe que não gosto nem um pouco  de psicólogos, mas ando pensando que essa nossa ânsia de viver uma liberdade sexual tão ampla está relacionada com a repressão política em que vivemos. Quanto mais somos reprimidos em nossa possibilidade de participação na política, mais nos liberamos naquilo que o sistema não pode nos impedir, que é a nossa sexualidade. E quando falo nossa, eu me refiro a mim, a você, a Haydée e ao Toninho. O sistema político é moralista? Pois quebremos isto, dentro de nossas casas, de motéis ou de hotéis: quebremos essa moralidade da tradicional família mineira.
Com o decorrer da resenha, vocês irão entender porque foi propício citar o trecho acima. A História do livro começa no dia 28 de fevereiro de 1971, um domingo. Mas sabemos que os fatos que permeiam o panorama histórico contidos nesta obra são frutos da Ditadura Militar que começou no dia 31 de março de 1964.
Esse período foi marcado por grandes repressões e torturas. O regime pôs em prática vários Atos Institucionais que culminaram com o AI-5. Para quem não sabe, os Atos Institucionais foram normas e decretos elaborados no período de 1964 a 1969, durante o regime militar no Brasil. Os Atos Institucionais foram utilizados como mecanismos de legitimação e legalização das ações políticas dos militares, estabelecendo para eles próprios diversos poderes extra constitucionais. Os Atos Institucionais eram um mecanismo para manter na legalidade o domínio dos militares.
O AI-5 foi o mais duro golpe da Ditadura Militar, pois ele deu ao regime uma série de poderes para reprimir seus opositores: fechar o Congresso Nacional e outros legislativos, cassar mandatos eletivos, suspender por dez anos os direitos políticos de qualquer cidadão, intervir em Estados e Municípios, decretar confiscos dos bens por enriquecimento ilícito e suspender o direito de habeas corpus para crimes políticos. 
Não foi a toa que o autor Ricardo de Moura Faria fez a seguinte dedicatória em seu livro: "Este romance é dedicado à juventude brasileira que não viveu o tempo da ditadura, mas que precisa conhecê-lo  para não desejar a volta de tempos tão sombrios. Para 'transformar o distante em algo próximo, possível e visível'.
Adentrando no romance, iremos encontrar Afonso, um professor de 42 anos. Ele é casado com Celina, também professora, sete anos mais jovem que ele. Na faculdade onde ele trabalhava, percebe-se os sinais da repressão a ponto de existirem livros proibidos para o estudo dos alunos. Um exemplo é o livro Nação e Nacionalismo, do Joseph Comblin. E foi graças a essa proibição que Afonso acabou tendo um contato maior com sua aluna Haydée:
- Estou ótima, " fessô"! Estava na biblioteca procurando uns livros que você indicou sobre o Nacionalismo. Meu pai me disse que este aqui, Nação e Nacionalismo, do Joseph Comblin, é ótimo. Mas não tem na biblioteca.
- Tinha...
- Hum... saquei. Ele é de esquerda, né?
- É. Então, deve ter sido guardado em lugar seguro, para quando os tempo ficarem menos complicados.
- Como é que vamos ser bons professores se não podemos ler os bons autores?
- Se serve como consolo, você tem em seu caderno uma relação de bons livros que poderá ler um dia, quando eles voltarem as prateleiras.
- E isso vai demorar muito?
- Pode ser que demore, pode ser que não. O fato é que a história nos ensina que ditaduras não são eternas. Elas não conseguem dominar as mentes de... espera!
Diante do "sumiço" do livro na biblioteca, Haydée deduziu que o Professor Afonso teria esse livro em sua casa e pede-lhe emprestado. Porém, ele pensando na sua própria segurança e na dela, propõe que ela vá lê-lo em sua casa. Haydée fica preocupada com o fato da esposa de seu professor não gostar dessas visitas. Entretanto, ele garante que isso não seria um problema.
Durante uma dessas visitas para realizar a leitura do livro, rolou um clima entre os dois:
Criando coragem, ele levou a mão direita até a cabeça dela, sentindo a maciez dos cabelos. Fez um pequeno cafuné, que ela curtiu fechando os olhos e respirando de forma lenta. Abriu os olhos fixou-os nos olhos de Afonso, levantou o corpo, chegou seus lábios bem próximos dos deles. Ficaram assim alguns segundos que pareceram uma eternidade e finalmente ele a segurou, levantou-a e lhe deu um beijo. Ela retribuiu com a mesma intensidade e, esquecidos de que Conceição poderia entrar a qualquer momento, beijaram-se com sofreguidão.
 
 Para prosseguir com a resenha, esclareço que Conceição é a empregada de Afonso. Após essa primeira cena de amor, os dois ficam confusos se devem ou não continuar o romance. Haydée se sente confusa e diante dos sentimentos dela, Afonso declara: - Semestre passado, eu andava pelo corredor, cheio de alunos e vi um rapaz paquerando uma aluna. Ele disse uma frase divertidíssima. Não precisa ficar com essa cara de interrogação... você já vai entender. Ele disse para a garota: "Faz de conta que sou uma gaveta, me desarrume todo". Engraçado, não é? Pois vou lhe dizer uma coisa. Você fez exatamente isso, desarrumou minha gaveta completamente. Tudo o que eu acreditava em termos de casamento, relacionamentos, você jogou por água abaixo num piscar de olhos. Fiquei o fim de semana amarrotado como as roupas que alguém joga em uma gaveta. E você quer que eu diga que você está louca? Não, Haydée, você não está louca. Você me pede para dizer que nunca mais quero vê-la? Nem pense nisso! Você pode voltar lá em casa, terminar de ler o livro, ler quantos mais quiser. Eu digo mais, e não lamento dizer isso... também amo você!
Apesar da declaração de amor, eles não ficaram certos se deveriam investir na relação. Entretanto, alguns fatos fomentaram para que esse relacionamento prosseguisse. Diga-se de passagem que tais fatos me surpreenderam. O Pai de Haydée, "Seu" Virgílio, viúvo na casa dos 70 anos, não se opõe ao relacionamento:
- Espera, espera, não fale nada ainda, deixa eu terminar o meu raciocínio. Se você não está disposta a isso, é melhor desistir. E desistir já! Agora, se o que você quer é desfrutar alguns bons momentos com ele, agir hedonisticamente, sem pensar no futuro, viver o presente... então, filha, carpe diem!
- Como? O que isso quer dizer?
- Carpe Diem quer dizer aproveite o agora, não pense no futuro. É uma expressão do poeta latino Horácio. A vida é breve, Haydée, aproveite-a da forma que achar melhor. Só tome preocupações para não sair ferida, o que é muito comum acontecer. Não ame demais, pois você não será nunca a mesma depois de um amor exagerado!
A aceitação da esposa de Afonso foi outro fato que colaborou para que ele mantivesse seu relacionamento com Haydée:
- Você diz que ainda não aconteceu nada entre vocês dois. Se vier acontecer, que não seja lá em casa. Que seja na casa dela, na faculdade, num motel, mas lá em casa não! Combinado?
Como vocês estão vendo, tudo foi favorável para a relação de Afonso com sua aluna. Desse ponto em diante, a história segue falando das repressões ocasionadas pelo regime militar e com narrações de muitas cenas de sexo. 
Vejam um trecho do livro que fala a respeito da violência daquele tempo:
- Celina, você está sabendo do lance da colega nossa que desapareceu e que tinha sido presa e ia ser solta hoje?
- Sim, o Afonso me falou.
- Então... uma colega de sala dela foi até o prédio onde ela mora e de lá me telefonou, aos prantos também. Ela foi torturada! Estupraram ela com um cabo de vassoura! A garota está parecendo um zumbi!
- Nossa! Que horror!
Quem permaneceu atento à resenha até aqui, já deve ter aclarado em sua mente o motivo da citação colocada no início dessa resenha. O livro nos revela que em tempos de repressão política, o sexo surge como forma de contestação aos poderes opressores. Por esse motivo, o livro é carregado de belas cenas de sexo. Eis um pequeno exemplo:
- Venha, minha amazona... cavalgue-me!
Sem pensar duas vezes, ela sentou-se, de frente para ele, começou a subir e descer com o corpo, que ele segurava pela cintura, ajudando-a a pular. Ela só parou quando sentiu que ele inundava suas entranhas. Rindo e gemendo ao mesmo tempo, deixou seu corpo cair sobre o dele. Cansados, deixaram-se ficar por alguns minutos com a água molhando seus corpos. Silenciosamente, levantaram-se, terminaram o banho. Ele a enxugou e carregou para a cama. Colocou-a deitada de bruços e ficou admirando por alguns instantes o belo corpo de sua esposa, em que se destacavam as nádegas. Passou a mão nelas.
Mesmo tendo uma amante, Afonso continua tendo relações quentes com sua esposa Celina. O livro sempre mostra Afonso transando com Haydée (amante) e Afonso transando com Celina (esposa). Mas não é só isso. Celina também arrumou um amante chamado Toninho.
Creio que vocês já entenderam o sentido da história, pois já foi dito de forma elucidativa anteriormente: O sexo é a força de contestação ao sistema político repressor e moralista. Por esse motivo, eu posso falar sobre minhas impressões a respeito da obra.
Sem dúvida alguma, o livro é fantástico! No geral, a história me lembra minisséries como "Anos Dourados" "Anos Rebeldes".  Também me lembrou o filme "Dona da História"
O livro contém cenas de sexo picantes que me lembraram os filmes "Nove e Meia Semanas de Amor" e "Cinquenta Tons de Cinza". Trata-se de uma leitura saborosa que merece uma degustação lenta. Não é um prato que deve ser devorado com sofreguidão. O leitor deve prestar atenção na riqueza dos detalhes referentes ao início da década de 70 para entender melhor o panorama histórico desse período no Brasil.
Os personagens principais do livro são bem interessantes, especialmente quando falamos a respeito de suas posturas libertadoras frente às forças coercitivas.
A obra me deixou fascinado. A narração do autor é perfeita. Parece que ele deu um tratamento estético à sua linguagem. De maneira notória, percebemos que o livro "O Amor nos Tempos do AI-5" cumpre plenamente as três funções da Literatura: cognitiva, estética e catártica. Tais funções, vocês podem encontrar no livro "Poética", do filósofo Aristóteles.
Seguindo as definições aristotélicas, "O Amor nos tempos do AI-5", cumpre a função cognitiva, porque, através de seu enredo bem elaborado, corrobora o conhecimento. Quem lê a obra, aprende muito sobre os tempos da ditadura.
O livro também cumpre a função estética da Literatura, porque a linguagem perfeita do autor nos remete à nossa capacidade de apreciar o belo, o bonito, ao prazer que sentimos diante de coisas agradáveis, que tocam os nossos sentidos, as nossas emoções, o nosso intelecto. Essa função estética ficou mais visível nas cenas de sexo do livro.
Por fim, temos a função catártica que também é a realizada por esse livro de Ricardo de Moura Faria. Ao vivenciarmos as emoções e tensões dos personagens como Afonso, Celina, Haydée e Toninho, descarregamos nossas próprias tensões, medos, frustrações, etc.
Por esses motivos, "O Amor nos Tempos do AI-5", de Ricardo de Moura Faria, se revela como um livro de genialidade suprema e merece a classificação de Cinco Estrelas no Skoob.
 
(fonte: https://filosofodoslivros.blogspot.com.br/2016/02/resenha-o-amor-nos-tempos-do-ai-5-de.html)

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