Abro o espaço do blog para uma reflexão da escritora Nell Morato, residente no Rio Grande do Sul e uma das organizadoras do FLAL - Festival de Literatura e Artes Literárias - que acontece on-line e já está em sua quarta edição.
Há uns dois ou três anos, eu encontrava nas ruas do centro de Porto Alegre, junto à Praça da Alfândega ou em frente ao Shopping Total, pessoas vendendo livros, editados de maneira rústica, em cópia xerográfica e com as páginas grampeadas.
Ao ser abordada pelo escritor, que me oferecia seu livro com uma breve sinopse falada, eu sequer parava para ouvir, muito menos mostrar o mínimo interesse.
Estava
sempre correndo. O assunto não me interessava. Imagine se eu iria
comprar um livreto na rua? Nem pensar. Na verdade, o vendedor do livro
rústico, o escritor, dispunha apenas daquele meio para divulgar o seu
trabalho, num corpo a corpo com os seus futuros leitores.
Quando
escrevi meu livro e procurei editoras para a publicação, eu percebi que
não conhecia o mercado editorial. Percorri um longo caminho em busca de
uma editora ou um patrocínio para custear a edição. Ao final de nove
meses, optei pela autopublicação e criar contas nas redes sociais para
me apresentar como escritora e mostrar o meu livro.
No
final de 2013, eu invadi o Facebook e o Twitter. Aprendi muito, e a
cada dia uma nova lição para enriquecer meu currículo. E o mercado
mudou? Muito pouco ou quase nada. A minha visão, antes muito crítica e
contestadora, é que mudou.
As
editoras não são entidades assistenciais. São empresas com fins
lucrativos, que precisam manter seus funcionários e o seu faturamento
para continuar operando no mercado. Precisam de bons escritores com bons
manuscritos para obter lucro. E assim, para atender o público leitor e
dar continuidade ao seu negócio, os editores preferem traduzir títulos
estrangeiros. Os quais costumam ter um custo mais baixo que os de nossos
escritores e a venda é praticamente certa.
É
uma situação absurda. Como que um livro feito no país, por um escritor
brasileiro pode ter o custo acima do livro estrangeiro, levando-se em
conta todas as implicações de um importado? De quem é a culpa? Das
normas que regem o mercado. É a lei da oferta e da procura, do risco de
prejuízo... Então, algumas editoras trabalham como gráficas, é uma
alternativa para se manter em atividade. O escritor assume todos os
custos de produção e distribuição.
Outra
forma de sobrevivência das editoras são as coletâneas. Contos, crônicas
ou poesias, reunindo vários escritores que, para participar, devem
comprar antecipadamente um número determinado de exemplares. Aqui é
critério pessoal do escritor, se vale a pena participar ou não. É
preciso lembrar que são vários autores inseridos na coletânea e sem
lucro algum, a não ser que você venda os exemplares que comprou. Nesse
caso, eu recomendo a autopublicação. Permite ao escritor fazer a sua
própria coletânea, reunindo contos ou poesias de sua autoria e sem custo
algum.
O
Ministério da Cultura, responsável pelas políticas públicas, não
oferece condições de valorização da literatura nacional. O incentivo é
ínfimo se comparado às necessidades do país. Museus e bibliotecas
fechando as portas por não dispor de verba para a manutenção. Acervos
riquíssimos de nossa história se deteriorando por falta de cuidado, de
boa vontade, de competência. Editoras encerrando atividades para não ir à
falência. Bibliotecas de escolas públicas desativadas, por falta de
pessoas qualificadas ou até sem experiência para, pelo menos, mantê-las
abertas, para que os alunos possam fazer suas pesquisas ou apenas ler um
bom livro. Como adquirir o gosto pela leitura se falta incentivo, falta
estímulo nas classes mais necessitadas?
Ainda
bem que existe a internet. São sites, redes sociais com grupos
específicos de literatura. Temos saraus e concursos. Temos festivais com
distribuição de livros. Temos revistas e jornais virtuais. E temos
leitores!
O
poeta Augusto de Campos, de 84 anos, um dos criadores da “poesia
concreta”, disse em uma entrevista que “a Internet democratizou a
literatura com seus sites e blogs e a poesia nunca teve tanto espaço
como no ciberespaço, vingando-se da escassez da mídia impressa, que se
fechou para a poesia. Eu mesmo há anos quase só publico na Web”.
É
a realidade da literatura brasileira. E não adianta publicar um livro
ou participar de uma coletânea se seu nome não for constantemente
divulgado no meio literário. Se não dispuser de tempo para a divulgação -
porque são poucos que podem viver da literatura hoje em dia - contrate
uma assessoria que divulgará seu nome e seu trabalho.
Eu
estou em busca do aperfeiçoamento, e quando olho para trás, para o
caminho que percorri em dois anos... Dou-me conta de que nada sou e
nada tenho e ainda me encontro distante do que quero e desejo realizar.
Nell Morato
28/12/2015
(publicado originalmente em http://portalliterario.com/categoria-educacao/53-como-vejo-a-literatura-brasileira)
As editoras não precisam de bons manuscritos, precisam de livros que vendam, então se amanhã o goleiro Bruno, aquele assassino esquartejador de mulheres, quiser publicar um livro, não faltará editora para ele.
ResponderExcluirOs livros gringos ocupam o mercado através dos contratos que desfrutam com os players do mercado nacional, lembre-se que nosso dinheiro vale menos, portanto é barato publicar aqui: uma lógica que vale pra tudo que vem de fora.
Por fim, o que realmente há de bom é a Internet conforme descrito no post.