Os novos autores brasileiros, grupo no qual me incluo, encontram, em alguns blogues, pessoas que, além de fazerem resenhas, também nos entrevistam, o que ajuda na consolidação de nossa imagem como escritores. Conheci, via Facebook, Daya Maciel, do blog Conchego das Letras, que me apresentou algumas questões que estão abaixo, com as respostas que formulei. Conheci Daya pessoalmente na Bienal de Brasilia, pessoa encantadora e da qual posso dizer que sou amigo.
Conchego: Quando
você percebeu que os mundos criados por você não cabiam mais dentro da sua
imaginação e precisavam ter “vida própria”?
R. Como
você sabe, eu era professor de História, já aposentei, mas até 2004 eu estava
em sala de aula. E a ideia de passar para o papel, ou dar “vida própria” para
não o mundo que eu criara, mas o mundo em que eu vivia, concretamente, surgiu
ao observar que as pessoas não estavam muito interessadas em conhecer o passado
recente. Parecia que, de tanta informação que surgia, as pessoas se cansavam e
já não davam o valor que precisava ser dado a um tempo recente, em que elas
eram crianças, não viveram o período e agora não pareciam interessadas em
conhecer. Isso aconteceu no século passado, na década de 1990 e foi daí que
surgiu a ideia do romance. E tive muito cuidado para deixar isso claro,
escolhendo como epígrafe um texto do Eduardo Galeano, que termina assim: “São as histórias que permitem transformar o
passado em presente, e também permitem transformar o distante em próximo. O que
está distante em algo próximo, possível e visível”. E completei com a
dedicatória: Este romance é dedicado à
juventude brasileira que não viveu o tempo da ditadura, mas que precisa
conhecê-lo para não desejar a volta de tempos tão sombrios. Para “transformar o
distante em algo próximo, possível e visível”.
Conchego: Dentro
da cultura, algumas manifestações são mais bem vistas que outras, assim como
alguns gêneros. Você já sofreu algum tipo de preconceito por conta do gênero
que escreve?
R. Eu
concordo com a afirmativa inicial. Acredito, até, que isso se pode ver com mais
clareza no que se refere à música, pois determinados gêneros provocam repulsa
em muitas pessoas.
No
tocante à literatura, eu não diria que já senti preconceito de alguém por
qualquer gênero. Há quem não goste de poesia, mas isso não significa que há um
pré-conceito. Dentro da poesia há quem não goste, por exemplo, do rigor de um
Olavo Bilac, mas aprecia o estilo mais leve de um Vinicius, de um Drummond. Não
se trata de preconceito.
Eu,
particularmente, não sofri qualquer tipo de preconceito – ainda, se é que
sentirei algum dia – pelo gênero do romance histórico que foi a minha opção
inicial. É meu primeiro livro, tenho um segundo no mesmo gênero...
Conchego: Quando
nasce o título? E mais importante, como ele surge? Pesquisa, de dentro do
livro, sugestão de alguém que está lendo?
R. Duas
respostas diferentes para essa questão. No caso do meu primeiro romance, o
título veio primeiro. Tão logo me surgiu a ideia de escrevê-lo, o título já
veio pronto. Pensei que poderia ser criticado por ser um título parecido com o
famoso “O amor nos tempos do cólera”. Tanto é que não li a obra do Marques,
para não ter nada mais parecido!
Já o
segundo, está pronto, e o título ainda não foi dado. Pensei em um, que faria a
ligação com este já pronto, mas já me criticaram que ele não ficou muito
“comercial”. Confesso que isso não me atrapalharia em nada, mas como as
editoras precisam vender o que publicam, talvez eu venha a substituir por um
outro.
Acredito
que, se não tivesse feito a opção pelo título desde o início, talvez ele
surgisse na medida em que eu estivesse escrevendo. Mas não posso garantir!
Conchego: De
todas as personagens que já escreveu, qual seu favorito e qual gostaria de
matar?
R. Com
sinceridade, eu adoro todas as personagens que criei, mas eu tinha pensado num
final em que um determinado senhor seria morto pelo “herói” do livro. Acabei
desistindo de matá-lo. Ele bem que merecia, mas precisava ficar vivo para
resolver uns problemas do segundo volume...
Conchego: Todo
mundo tem uma rotina, mesmo que seja não ter uma, nos conte um pouco sobre a
sua. Que horas é melhor para você escrever? Gosta de música ou prefere o
silêncio?
R. Eu
escrevo o dia inteiro, não tenho preferência de horário. Mas, é claro que
existem certas condições ambientais que favorecem a elaboração e o
desenvolvimento do texto. Gosto de trabalhar com música, mas nem sempre
trabalho. E prefiro música leve, orquestrada ou com foco em um instrumento.
Flauta de pan executada por Zamfir; piano de Richard Cleyderman; orquestras
variadas como as de Ray Connif (que, aliás, tem um LP citado e ouvido no
romance), André Rieu e outras. As vezes colocava um CD dos Três Tenores...
ajudam, mas, como eu disse, não eram presença constante.
A
música é a única autorizada a quebrar o silêncio que também é necessário. Por
isso, às vezes, o horário noturno se mostra bem adequado. O perigo é atravessar
a noite inteira escrevendo.
Conchego: Na hora
da criação é “papel e caneta”, software de criação ou que tiver mais acessível?
R. Se
aparece alguma ideia e não estou no computador, preciso encontrar uma forma
qualquer de registrá-la para poder desenvolvê-la. Não aconteceu muito na
elaboração de “O amor nos tempos do AI-5”, porque, como já sou aposentado,
ficava o tempo quase todo no escritório, escrevendo.
Conchego: Seus
livros nascem únicos ou séries? O que prefere, um livro único, mesmo que
grande, mas que conte toda a história de uma vez ou série?
R.
Sinceramente, eu não tinha pensado em criar uma série, uma trilogia ou algo
assim. Pensei em esgotar o assunto em apenas um volume, que, aliás, ficou
volumoso. No entanto, depois de concluir, reler, mandar para uma revisora,
corrigir o que ela sugeriu, tornar a ler... e encerrar o expediente, senti que
ficou faltando alguma coisa. O que aconteceria com as personagens, depois da
cena final, que é bem trágica? Não deu outra: comecei o segundo volume a partir
daquela cena e desenvolvi até as duas crianças se tornarem adultas, ou seja, o
volume 2 aborda a vida daquelas personagens de 1972 a 1982, também
correlacionando a história com a História.
Já um
outro livro que escrevi, está pronto e revisado, aguardando apenas o interesse
de uma editora, dependendo do possível sucesso, ele pode virar uma série, com
mais uns 5 ou 6 volumes. É um livro para o público infanto-juvenil, inspirado
em Monteiro Lobato e em um historiador francês, e busca narrar episódios da
História de uma forma mais lúdica do que aquela encontrada nos livros
didáticos. A ver...
Conchego: Qual
foi, até hoje, o momento de maior emoção, tanto positiva quanto negativa, que a
literatura já te trouxe?
R.
Falando do meu livro, a maior emoção foi recebê-lo, prontinho e bonito. Apesar
de não ser o primeiro livro que publiquei, pelo contrário, já tinha publicado
dezenas de outros, foi emocionante pegar, folhear... muito bacana mesmo. Ainda
com relação a ele, há uma emoção negativa, mas eu não gostaria de abordar esse
assunto por ora. Talvez um dia...
Já no
que se refere ao meu contato com a literatura, uma das coisas mais emocionantes
foi ver a versão cinematográfica do livro do Umberto Eco, “o nome da rosa”.
Apesar de o diretor do filme ter focado mais a questão “policial” do enredo,
fiquei fascinado, parecia que eu me transportava para as páginas do livro,
acompanhando cada uma das personagens.
Conchego: Com a
proximidade proporcionada pelas redes sociais e plataformas de
compartilhamento, como é a convivência com os fãs? Eles influenciam a confecção
de uma obra?
R.
Ainda não pude perceber, talvez porque o livro só está disponível há três
meses. Não obtive comentários que pudessem vir a me influenciar em mudanças no
já publicado ou inovações nos futuros. Também não recebi críticas negativas
que, tenho certeza, irão surgir na medida em que mais volumes forem adquiridos
e lidos.
Conchego: Todo
escritor gosta de ler, quais seus gêneros e autores prediletos?
R. Vale
dizer que tenho um gosto eclético? Pois tenho. Literatura policial eu gosto
muito: Sherlock Holmes, Hercule Poirot e Miss Marple são meus personagens
favoritos.
Poesia.
Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Emilio Moura são os que mais
aprecio. Neruda, claro...
Clássicos
da Literatura Brasileira: Machado de Assis, Jorge Amado, José de Alencar (mas
só o Iracema, os outros não curti muito não). Fernando Sabino, Antônio Callado
e muitos outros.
Clássicos
internacionais: Dostoieviski (Crime e Castigo, Os irmãos Karamazovi), Umberto
Eco, Eric Marie Remarque, Primo Levi, Albert Camus...
Nossa...
essa questão é impossível de ser respondida! São muitos autores, muitas obras
que já li, gostei e que poderia relacionar, mas ficaria uma resposta tão grande
que vou parar por aqui...
E tem
muito livro e muito autor que ainda não tive tempo de ler e pretendo, faço
questão de conhecer. Livros que até já comprei e, na medida do possível, irei
degustando...
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