domingo, 20 de novembro de 2016

Entrevista para o blog Conchego das Letras

Os novos autores brasileiros, grupo no qual me incluo, encontram, em alguns blogues, pessoas que, além de fazerem resenhas, também nos entrevistam, o que ajuda na consolidação de nossa imagem como escritores. Conheci, via Facebook, Daya Maciel, do blog Conchego das Letras, que me apresentou algumas questões que estão abaixo, com as respostas que formulei. Conheci Daya pessoalmente na Bienal de Brasilia, pessoa encantadora e da qual posso dizer que sou amigo.



Conchego: Quando você percebeu que os mundos criados por você não cabiam mais dentro da sua imaginação e precisavam ter “vida própria”?

R. Como você sabe, eu era professor de História, já aposentei, mas até 2004 eu estava em sala de aula. E a ideia de passar para o papel, ou dar “vida própria” para não o mundo que eu criara, mas o mundo em que eu vivia, concretamente, surgiu ao observar que as pessoas não estavam muito interessadas em conhecer o passado recente. Parecia que, de tanta informação que surgia, as pessoas se cansavam e já não davam o valor que precisava ser dado a um tempo recente, em que elas eram crianças, não viveram o período e agora não pareciam interessadas em conhecer. Isso aconteceu no século passado, na década de 1990 e foi daí que surgiu a ideia do romance. E tive muito cuidado para deixar isso claro, escolhendo como epígrafe um texto do Eduardo Galeano, que termina assim: “São as histórias que permitem transformar o passado em presente, e também permitem transformar o distante em próximo. O que está distante em algo próximo, possível e visível”. E completei com a dedicatória: Este romance é dedicado à juventude brasileira que não viveu o tempo da ditadura, mas que precisa conhecê-lo para não desejar a volta de tempos tão sombrios. Para “transformar o distante em algo próximo, possível e visível”.

Conchego: Dentro da cultura, algumas manifestações são mais bem vistas que outras, assim como alguns gêneros. Você já sofreu algum tipo de preconceito por conta do gênero que escreve? 

R. Eu concordo com a afirmativa inicial. Acredito, até, que isso se pode ver com mais clareza no que se refere à música, pois determinados gêneros provocam repulsa em muitas pessoas.
No tocante à literatura, eu não diria que já senti preconceito de alguém por qualquer gênero. Há quem não goste de poesia, mas isso não significa que há um pré-conceito. Dentro da poesia há quem não goste, por exemplo, do rigor de um Olavo Bilac, mas aprecia o estilo mais leve de um Vinicius, de um Drummond. Não se trata de preconceito.
Eu, particularmente, não sofri qualquer tipo de preconceito – ainda, se é que sentirei algum dia – pelo gênero do romance histórico que foi a minha opção inicial. É meu primeiro livro, tenho um segundo no mesmo gênero...

Conchego: Quando nasce o título? E mais importante, como ele surge? Pesquisa, de dentro do livro, sugestão de alguém que está lendo? 

R. Duas respostas diferentes para essa questão. No caso do meu primeiro romance, o título veio primeiro. Tão logo me surgiu a ideia de escrevê-lo, o título já veio pronto. Pensei que poderia ser criticado por ser um título parecido com o famoso “O amor nos tempos do cólera”. Tanto é que não li a obra do Marques, para não ter nada mais parecido!
Já o segundo, está pronto, e o título ainda não foi dado. Pensei em um, que faria a ligação com este já pronto, mas já me criticaram que ele não ficou muito “comercial”. Confesso que isso não me atrapalharia em nada, mas como as editoras precisam vender o que publicam, talvez eu venha a substituir por um outro.
Acredito que, se não tivesse feito a opção pelo título desde o início, talvez ele surgisse na medida em que eu estivesse escrevendo. Mas não posso garantir!

Conchego: De todas as personagens que já escreveu, qual seu favorito e qual gostaria de matar? 

R. Com sinceridade, eu adoro todas as personagens que criei, mas eu tinha pensado num final em que um determinado senhor seria morto pelo “herói” do livro. Acabei desistindo de matá-lo. Ele bem que merecia, mas precisava ficar vivo para resolver uns problemas do segundo volume...


Conchego: Todo mundo tem uma rotina, mesmo que seja não ter uma, nos conte um pouco sobre a sua. Que horas é melhor para você escrever? Gosta de música ou prefere o silêncio? 

R. Eu escrevo o dia inteiro, não tenho preferência de horário. Mas, é claro que existem certas condições ambientais que favorecem a elaboração e o desenvolvimento do texto. Gosto de trabalhar com música, mas nem sempre trabalho. E prefiro música leve, orquestrada ou com foco em um instrumento. Flauta de pan executada por Zamfir; piano de Richard Cleyderman; orquestras variadas como as de Ray Connif (que, aliás, tem um LP citado e ouvido no romance), André Rieu e outras. As vezes colocava um CD dos Três Tenores... ajudam, mas, como eu disse, não eram presença constante.
A música é a única autorizada a quebrar o silêncio que também é necessário. Por isso, às vezes, o horário noturno se mostra bem adequado. O perigo é atravessar a noite inteira escrevendo.

Conchego: Na hora da criação é “papel e caneta”, software de criação ou que tiver mais acessível?

R. Se aparece alguma ideia e não estou no computador, preciso encontrar uma forma qualquer de registrá-la para poder desenvolvê-la. Não aconteceu muito na elaboração de “O amor nos tempos do AI-5”, porque, como já sou aposentado, ficava o tempo quase todo no escritório, escrevendo.


Conchego: Seus livros nascem únicos ou séries? O que prefere, um livro único, mesmo que grande, mas que conte toda a história de uma vez ou série?

R. Sinceramente, eu não tinha pensado em criar uma série, uma trilogia ou algo assim. Pensei em esgotar o assunto em apenas um volume, que, aliás, ficou volumoso. No entanto, depois de concluir, reler, mandar para uma revisora, corrigir o que ela sugeriu, tornar a ler... e encerrar o expediente, senti que ficou faltando alguma coisa. O que aconteceria com as personagens, depois da cena final, que é bem trágica? Não deu outra: comecei o segundo volume a partir daquela cena e desenvolvi até as duas crianças se tornarem adultas, ou seja, o volume 2 aborda a vida daquelas personagens de 1972 a 1982, também correlacionando a história com a História.
Já um outro livro que escrevi, está pronto e revisado, aguardando apenas o interesse de uma editora, dependendo do possível sucesso, ele pode virar uma série, com mais uns 5 ou 6 volumes. É um livro para o público infanto-juvenil, inspirado em Monteiro Lobato e em um historiador francês, e busca narrar episódios da História de uma forma mais lúdica do que aquela encontrada nos livros didáticos. A ver...


Conchego: Qual foi, até hoje, o momento de maior emoção, tanto positiva quanto negativa, que a literatura já te trouxe?
R. Falando do meu livro, a maior emoção foi recebê-lo, prontinho e bonito. Apesar de não ser o primeiro livro que publiquei, pelo contrário, já tinha publicado dezenas de outros, foi emocionante pegar, folhear... muito bacana mesmo. Ainda com relação a ele, há uma emoção negativa, mas eu não gostaria de abordar esse assunto por ora. Talvez um dia...
Já no que se refere ao meu contato com a literatura, uma das coisas mais emocionantes foi ver a versão cinematográfica do livro do Umberto Eco, “o nome da rosa”. Apesar de o diretor do filme ter focado mais a questão “policial” do enredo, fiquei fascinado, parecia que eu me transportava para as páginas do livro, acompanhando cada uma das personagens.

Conchego: Com a proximidade proporcionada pelas redes sociais e plataformas de compartilhamento, como é a convivência com os fãs? Eles influenciam a confecção de uma obra? 
R. Ainda não pude perceber, talvez porque o livro só está disponível há três meses. Não obtive comentários que pudessem vir a me influenciar em mudanças no já publicado ou inovações nos futuros. Também não recebi críticas negativas que, tenho certeza, irão surgir na medida em que mais volumes forem adquiridos e lidos.

Conchego: Todo escritor gosta de ler, quais seus gêneros e autores prediletos?
R. Vale dizer que tenho um gosto eclético? Pois tenho. Literatura policial eu gosto muito: Sherlock Holmes, Hercule Poirot e Miss Marple são meus personagens favoritos.
Poesia. Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Emilio Moura são os que mais aprecio. Neruda, claro...
Clássicos da Literatura Brasileira: Machado de Assis, Jorge Amado, José de Alencar (mas só o Iracema, os outros não curti muito não). Fernando Sabino, Antônio Callado e muitos outros.
Clássicos internacionais: Dostoieviski (Crime e Castigo, Os irmãos Karamazovi), Umberto Eco, Eric Marie Remarque, Primo Levi, Albert Camus...
Nossa... essa questão é impossível de ser respondida! São muitos autores, muitas obras que já li, gostei e que poderia relacionar, mas ficaria uma resposta tão grande que vou parar por aqui...
E tem muito livro e muito autor que ainda não tive tempo de ler e pretendo, faço questão de conhecer. Livros que até já comprei e, na medida do possível, irei degustando...

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