Joaquim Cardozo, nascido em
Recife em 1897, foi engenheiro, poeta, contista, dramaturgo e tradutor, mas
parece nunca ter escrito um romance em seus 81 anos de vida. Até recentemente,
eu não conhecia nenhum engenheiro brasileiro romancista. Hoje acabei de ler
“Nós nos nós – joias em jogo”, romance de estreia do engenheiro mineiro
Gilberto Scheffer. Calhamaço de mais de 680 páginas, o livro foi publicado pela
editora mineira Ramalhete e pago, possivelmente, pelo próprio autor.
Lançado em dezembro passado
no Minas Tênis Clube, do qual Gilberto é conselheiro e cantor no coral do
clube, o livro não mereceu até agora, pelo que pude verificar, nenhuma resenha.
Desconfio que resenhistas não se animem a ler um livro de 687 páginas escrito
por autor estreante. Eu, que não sou resenhista, li porque minha mulher leu e
gostou muito.
Confesso que também tive
alguma dificuldade até para sustentar nas mãos enfraquecidas o peso do livro,
dificuldade que fui superando com a leitura dinâmica feita em numerosos
parágrafos, técnica aprendida em muitos anos de jornalismo. Foi com essa
habilidade que pude escrever duas páginas do Jornal do Brasil sobre o livro da
historiadora mineira Heloísa Starling que recebi às 11 da manhã na redação
mineira da sucursal. À meia-noite, o texto já estava no Rio, por telex, para
ser publicado daí a três dias, num domingo, na edição especial “31 de março – A
revolução dos empresários”.
É verdade que “Os Senhores
das Gerais – os Novos Inconfidentes e o Golpe de 1964”, de Heloísa Starling,
tem 378 páginas, pouco mais da metade do calhamaço de que estou tratando. Eu
lamentava, ao longo da leitura, que Gilberto Scheffer, nesses nossos tempos
apressados, tenha ultrapassado em muito esse número.
Seu romance estaria mais
apropriado, pelo volume, aos romances dos séculos 18 ou 19, quando os
leitores tinham mais tempo e disposição. “Nós nos nós” se parece com esses
antigos romances. Não propriamente pelo primoroso estilo, mas pelo intricado da
trama – os nós –, os mistérios e o desfecho, quando, nos capítulos finais, tudo
vai sendo esclarecido, como nos livros de Agata Christie do século passado.
O bom é que nesses últimos
capítulos eu pude dispensar, com muito gosto, a leitura dinâmica. Mereceram
atenção maior de um leitor que, a essa altura, já estava conciliado com tantas
traições de casais, com descrições meticulosas de exposições de joalherias e
pinturas, em Bruxelas e Hong Kong, e no cotidiano de uma grande fábrica de
joias localizada nessa ilha chinesa.
Reconheço que há quem goste
de ler sobre o mundo dos ricos – o que não é o meu caso. Assim, talvez de boca
em boca, o romance de Gilberto (ou Otreblig) será divulgado e lido a ponto de
satisfazer o autor.
Teremos então um inédito
romancista mineiro reconhecido. Como reconhecido é esse engenheiro sócio principal
e administrador da Alpes Engenharia Ltda, de Belo Horizonte.
É esperar também que em seu
próximo romance ele esteja tão seguro que possa ambientar sua trama no Brasil,
com nomes brasileiros. Como fez o médico mineiro Guimarães Rosa, que, como
diplomata e escritor, foi um cidadão do mundo, sem esquecer suas raízes
mineiras.
Na estreia, faltou ao autor
aquela ajuda que pode proporcionar uma boa editora. Quem sabe, numa segunda
edição deste livro, Gilberto Scheffer encontre alguém que não se limite a receber
um bom dinheiro pela encomenda.
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