Autora de vários livros, um, em especial que interessa a todas as pessoas que utilizam a internet para informação, enviou-nos material para divulgação. Temos uma pequena entrevista, capas e resenhas. Apreciem, sem moderação!
Entrevista
Thaïs de Mendonça Jorge
"Cheiro de lenha queimada,
gosto da vida na roça: mineiridade em tudo"
Thaïs
de Mendonça Jorge é doutora em Comunicação e mestra
em Ciência Política pela Universidade de Brasília. Jornalista
profissional, formou-se pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG,
e trabalhou em órgãos como o Jornal do
Brasil, O Globo, Jornal da Tarde, O Tempo, Hoje em Dia; revistas Istoé, Desfile, Pais e Filhos, Ele/Ela,
Manchete e na TV Brasil.
Atual
Secretária de Comunicação da UnB, tem ainda longa experiência em assessoria:
Banco Interamericano de Desenvolvimento, Banco Mundial, ministérios do Meio Ambiente e de
Planejamento, Orçamento e Gestão, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (Inep). Foi assessora de assuntos internacionais nos
ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e de Relações Exteriores e consultora da Unesco para
assuntos de comunicação.
Na Universidade de Brasília, é professora na área de
Jornalismo. Seu sexto livro está no prelo: "Viver o Jornalismo. A
entrevista no dia a dia da profissão".
- Você nasceu em Congonhas,
antiga Congonhas do Campo (MG). O que ficou de Minas em suas obras e em você?
Thaïs de Mendonça: - Ficou o
cheiro de fumaça de lenha queimada, nos fogões do interior, que eu tanto
aprecio; ficou o gosto pela vida tranquila da roça, embora nunca tenha vivido
na roça, mas pelo tanto que andei nos rincões de Minas Gerais. Ficou a
mineiridade, o "espírito de Minas" de que falava Drummond, em tudo:
na sinceridade, às vezes na rudeza; no sentido de justiça, de procurar ver
sempre o lado do outro; no jeito de encarar a vida de peito aberto, para o que
der e vier. E também no senso de economia, de saber poupar e guardar, que, acho,
veio de meus avós italianos, refugiados de guerra. Eu ainda não escrevi ficção,
mas se você procurar bem verá que um certo ar mineiro está nos meus seis
livros.
- Em 10 anos, você escreveu seis
livros. Como é sua rotina diária?
TM: - Sou meio workaholic. Sempre fui. Comecei a
estagiar no Diário de Minas, na década de 1970, por intermédio de meu tio Cyro
Mendonça. E gostei da coisa. Nessa época, ainda nos primeiros anos de
faculdade, eu estagiava à tarde e estudava de manhã. Com o tempo, fui fazer
frilas para o Estado de Minas. Meu chefe era o Roberto Drummond, que dava a
maior força para os meus textos, influenciados pelo Jornal da Tarde, por João Antônio e pelo que - nem sabíamos - foi
batizado como "Novo Jornalismo". Atualmente, divido meu tempo entre a
Secom da UnB e as aulas. Sou viciada em noticiário, escuto rádio, leio jornal
(de papel) todos os dias. Na minha casa não tem Netflix e só há um ritual
sagrado: assistir ao Jornal Nacional. Vejo todos os noticiários da noite. Nas
horas vagas, pesquiso, escrevo. Tenho planos de encarar um romance.
- O romance já tem título?
TM: - Tem escopo, resumo e um
começo. Ainda não me decidi quanto ao título. Uma parte da história é passada
em Belo Horizonte. A personagem principal é uma jornalista.
-
Você vai lançar um livro de entrevistas ainda este ano. "Viver o Jornalismo. A entrevista no dia a dia da profissão" é
autobiográfico?
TM: - Não é uma autobiografia,
embora tenha elementos da minha história como jornalista. Reúne entrevistas que
fiz ao longo da vida, com famosos e não-famosos: Darcy Ribeiro, Caetano Veloso,
Elis Regina e seu filho, Marcello Bôscoli, Sônia Braga e algumas reportagens,
uma delas sobre a morte de Carlos Drummond de Andrade. É um livro para
estudantes e explica como fazer uma entrevista, quais são os requisitos, como
se preparar. E quais são as armadilhas, as esparrelas que o jornalista
enfrenta, os erros que comete. Nesse sentido é autobiográfico: ali estão os
erros que cometi, as cascas de banana em que escorreguei e que, acho, podem ser
úteis (ou engraçadas).
Livros da autora
Manual do Foca. Guia
de sobrevivência para jornalistas. São Paulo: Editora Contexto, 2008.
UnB 50 anos: história
contada (org.) Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2012.
Mutação no
Jornalismo: como a notícia chega à internet. Brasília: Editora Universidade
de Brasília, 2013.
Notícia em
fragmentos. Análise de conteúdo no Jornalismo (org.). Florianópolis:
Editora Insular, 2015.
A verdadeira Dieta da
Mente. 101 perguntas e respostas inteligentes para emagrecer. Com: Márcia
de Mendonça Jorge e Maria Luisa de Oliveira Salomon. Brasília: Editora Casa das
Musas, 2015.
Viver o Jornalismo: a
entrevista no dia a dia da profissão. Brasília: Editora Universidade de
Brasília, 2018. (no prelo)
Resenha
Mutação
no dia a dia das pessoas
A
notícia é um dos elementos da transformação cultural que está ocorrendo hoje no
mundo. O livro “Mutação no jornalismo. Como a notícia chega à internet” coloca
em discussão o tema da notícia como um objeto cambiante, no panorama das
mudanças sociais que a sociedade descortina, e que envolvem a comunicação. O
relato noticioso, feito de fragmentos da vida cotidiana das pessoas, é
influenciado e influencia a maneira como nós nos situamos no universo.
A
hipótese do livro é a de que a notícia enfrenta hoje um novo processo de
mutação, com as Tecnologias da Informação e da Comunicação, e mais uma vez
procura se adaptar às transformações da sociedade. As informações ganharam
novas plataformas eletrônicas para se exibir, espraiando-se por terrenos com
som e imagem, permitindo mensagens simultâneas e instantâneas e convocando à
participação do leitor/ usuário.
Ao
conquistar novos públicos na rapidez dos tweets, o relato dos fatos,
interpretado pelo jornalista com a contribuição da audiência, muta: sua linguagem passa a ser curta,
condensada no visor de cristal líquido do celular ou do tablet; ou longa,
incrementada com muitos adereços: infográficos animados, áudios variados, e
links para outros materiais. Ubíqua, a comunicação alcança as pessoas onde quer
que estejam e assim ela se naturaliza e se torna parte indistinguível do mundo
da vida pós-moderna.
Segundo
a autora, a mutação no jornalismo é um fenômeno que se manifesta de forma
súbita, porém precisa de um fator detonador. Além de ser um processo de
transformação em si mesma, leva a uma série de outras mudanças que afetam o
fazer jornalístico, os valores dos jornalistas, das organizações de mídia e da
sociedade, e o produto: a representação social da notícia, sua apresentação
gráfica e a forma de ser absorvida.
A autora
trouxe o conceito de mutação da Biologia, na qual a mutação é uma repentina e
aleatória mudança no material genético de uma célula, que provoca uma revolução
nela mesma e em outras células dela derivadas - seja na aparência, seja no
comportamento. A analogia que Thaïs de Mendonça faz é a de que, em decorrência
da tecnologia, a notícia, como produto posto a serviço do público; como
resultado da linha de produção das empresas midiáticas, o que envolve a própria
organização e a cultura dos produtores-jornalistas; como fenômeno que lê,
interpreta e informa a sociedade, sofre várias mutações.
Ela
consegue identificar mutações gênica, cromossômica, somática, supressora e até pontual
na história do jornalismo. "Alteração de base que ocorre dentro da
sequência que carrega a informação genética", um tipo de mutação nos genes
da notícia teria ocorrido, por exemplo, quando a humanidade aprendeu a falar e
o conhecimento pôde ser difundido. A mutação cromossômica, no caso, poderia ser
vista quando a notícia tomou a forma escrita: mudanças "invisíveis"
no DNA afetaram, depois da prensa de Gutenberg, o formato como os fatos seriam
comunicados.
Já uma
mutação somática teria acontecido no momento em que, abandonando um passado de
opinião misturada com informação, a máxima do jornalismo seria "only news,
no comments" (só notícias, nenhum comentário), e bateu-se o martelo na sacralidade
dos fatos. A mutação supressora teria propiciado a diferenciação entre os
gêneros jornalísticos, definindo o que seria nota, notícia, reportagem, em
contraposição a artigo, editorial, análise, opinião. E a mutação pontual, mais
recente, propiciou a implantação do estilo pirâmide invertida que, no
jornalismo, consiste em selecionar os fatos por ordem de importância e
relevância.
Para
mostrar como a notícias vem transformando as redações jornalísticas, a
pesquisadora realizou pesquisa no UOL/ Folha de S. Paulo e no Clarín (Buenos
Aires). Com riqueza de detalhes, ela
mostra como funciona um ambiente digital de elaboração noticiosa, de onde saem
os conteúdos que chegarão à casa ou ao celular dos usuários sob a forma de
página de site, chamada de celular ou mensagem nas redes sociais. A obra
originou-se da tese de doutorado da autora, defendida no Programa de
Pós-Graduação da Universidade de Brasília, e foi publicada em 2013, quando as
mídias sociais estavam apenas se afirmando, mas serve para prever o que vem por
aí: uma mutação ampla e generalizada em nossas vidas, com robôs trabalhando ao
nosso lado e uma naturalização da tecnologia que nem conseguimos imaginar.
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