quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

As obras de Thaïs de Mendonça Jorge


Autora de vários livros, um, em especial que interessa a todas as pessoas que utilizam a internet para informação, enviou-nos material para divulgação. Temos uma pequena entrevista, capas e resenhas. Apreciem, sem moderação!

Entrevista
Thaïs de Mendonça Jorge
"Cheiro de lenha queimada, gosto da vida na roça: mineiridade em tudo"

Thaïs de Mendonça Jorge é doutora em Comunicação e mestra em Ciência Política pela Universidade de Brasília. Jornalista profissional, formou-se pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, e trabalhou em órgãos como o Jornal do Brasil, O Globo, Jornal da Tarde, O Tempo, Hoje em Dia; revistas Istoé, Desfile, Pais e Filhos, Ele/Ela, Manchete e na TV Brasil.
Atual Secretária de Comunicação da UnB, tem ainda longa experiência em assessoria: Banco Interamericano de Desenvolvimento, Banco Mundial,  ministérios do Meio Ambiente e de Planejamento, Orçamento e Gestão, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Foi assessora de assuntos internacionais nos ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e de Relações Exteriores e consultora da Unesco para assuntos de comunicação.
Na Universidade de Brasília, é professora na área de Jornalismo. Seu sexto livro está no prelo: "Viver o Jornalismo. A entrevista no dia a dia da profissão".

- Você nasceu em Congonhas, antiga Congonhas do Campo (MG). O que ficou de Minas em suas obras e em você?

Thaïs de Mendonça: - Ficou o cheiro de fumaça de lenha queimada, nos fogões do interior, que eu tanto aprecio; ficou o gosto pela vida tranquila da roça, embora nunca tenha vivido na roça, mas pelo tanto que andei nos rincões de Minas Gerais. Ficou a mineiridade, o "espírito de Minas" de que falava Drummond, em tudo: na sinceridade, às vezes na rudeza; no sentido de justiça, de procurar ver sempre o lado do outro; no jeito de encarar a vida de peito aberto, para o que der e vier. E também no senso de economia, de saber poupar e guardar, que, acho, veio de meus avós italianos, refugiados de guerra. Eu ainda não escrevi ficção, mas se você procurar bem verá que um certo ar mineiro está nos meus seis livros.

- Em 10 anos, você escreveu seis livros. Como é sua rotina diária?

TM: - Sou meio workaholic. Sempre fui. Comecei a estagiar no Diário de Minas, na década de 1970, por intermédio de meu tio Cyro Mendonça. E gostei da coisa. Nessa época, ainda nos primeiros anos de faculdade, eu estagiava à tarde e estudava de manhã. Com o tempo, fui fazer frilas para o Estado de Minas. Meu chefe era o Roberto Drummond, que dava a maior força para os meus textos, influenciados pelo Jornal da Tarde, por João Antônio e pelo que - nem sabíamos - foi batizado como "Novo Jornalismo". Atualmente, divido meu tempo entre a Secom da UnB e as aulas. Sou viciada em noticiário, escuto rádio, leio jornal (de papel) todos os dias. Na minha casa não tem Netflix e só há um ritual sagrado: assistir ao Jornal Nacional. Vejo todos os noticiários da noite. Nas horas vagas, pesquiso, escrevo. Tenho planos de encarar um romance.

- O romance já tem título?

TM: - Tem escopo, resumo e um começo. Ainda não me decidi quanto ao título. Uma parte da história é passada em Belo Horizonte. A personagem principal é uma jornalista.

- Você vai lançar um livro de entrevistas ainda este ano. "Viver o Jornalismo. A entrevista no dia a dia da profissão" é autobiográfico?

TM: - Não é uma autobiografia, embora tenha elementos da minha história como jornalista. Reúne entrevistas que fiz ao longo da vida, com famosos e não-famosos: Darcy Ribeiro, Caetano Veloso, Elis Regina e seu filho, Marcello Bôscoli, Sônia Braga e algumas reportagens, uma delas sobre a morte de Carlos Drummond de Andrade. É um livro para estudantes e explica como fazer uma entrevista, quais são os requisitos, como se preparar. E quais são as armadilhas, as esparrelas que o jornalista enfrenta, os erros que comete. Nesse sentido é autobiográfico: ali estão os erros que cometi, as cascas de banana em que escorreguei e que, acho, podem ser úteis (ou engraçadas).

Livros da autora

Manual do Foca. Guia de sobrevivência para jornalistas. São Paulo: Editora Contexto, 2008.

UnB 50 anos: história contada (org.) Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2012.

Mutação no Jornalismo: como a notícia chega à internet. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2013.

Notícia em fragmentos. Análise de conteúdo no Jornalismo (org.). Florianópolis: Editora Insular, 2015.

A verdadeira Dieta da Mente. 101 perguntas e respostas inteligentes para emagrecer. Com: Márcia de Mendonça Jorge e Maria Luisa de Oliveira Salomon. Brasília: Editora Casa das Musas, 2015.

Viver o Jornalismo: a entrevista no dia a dia da profissão. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2018. (no prelo)




Resenha

Mutação no dia a dia das pessoas


A notícia é um dos elementos da transformação cultural que está ocorrendo hoje no mundo. O livro “Mutação no jornalismo. Como a notícia chega à internet” coloca em discussão o tema da notícia como um objeto cambiante, no panorama das mudanças sociais que a sociedade descortina, e que envolvem a comunicação. O relato noticioso, feito de fragmentos da vida cotidiana das pessoas, é influenciado e influencia a maneira como nós nos situamos no universo.

A hipótese do livro é a de que a notícia enfrenta hoje um novo processo de mutação, com as Tecnologias da Informação e da Comunicação, e mais uma vez procura se adaptar às transformações da sociedade. As informações ganharam novas plataformas eletrônicas para se exibir, espraiando-se por terrenos com som e imagem, permitindo mensagens simultâneas e instantâneas e convocando à participação do leitor/ usuário.

Ao conquistar novos públicos na rapidez dos tweets, o relato dos fatos, interpretado pelo jornalista com a contribuição da audiência, muta: sua linguagem passa a ser curta, condensada no visor de cristal líquido do celular ou do tablet; ou longa, incrementada com muitos adereços: infográficos animados, áudios variados, e links para outros materiais. Ubíqua, a comunicação alcança as pessoas onde quer que estejam e assim ela se naturaliza e se torna parte indistinguível do mundo da vida pós-moderna.

Segundo a autora, a mutação no jornalismo é um fenômeno que se manifesta de forma súbita, porém precisa de um fator detonador. Além de ser um processo de transformação em si mesma, leva a uma série de outras mudanças que afetam o fazer jornalístico, os valores dos jornalistas, das organizações de mídia e da sociedade, e o produto: a representação social da notícia, sua apresentação gráfica e a forma de ser absorvida.

A autora trouxe o conceito de mutação da Biologia, na qual a mutação é uma repentina e aleatória mudança no material genético de uma célula, que provoca uma revolução nela mesma e em outras células dela derivadas - seja na aparência, seja no comportamento. A analogia que Thaïs de Mendonça faz é a de que, em decorrência da tecnologia, a notícia, como produto posto a serviço do público; como resultado da linha de produção das empresas midiáticas, o que envolve a própria organização e a cultura dos produtores-jornalistas; como fenômeno que lê, interpreta e informa a sociedade, sofre várias mutações.

Ela consegue identificar mutações gênica, cromossômica, somática, supressora e até pontual na história do jornalismo. "Alteração de base que ocorre dentro da sequência que carrega a informação genética", um tipo de mutação nos genes da notícia teria ocorrido, por exemplo, quando a humanidade aprendeu a falar e o conhecimento pôde ser difundido. A mutação cromossômica, no caso, poderia ser vista quando a notícia tomou a forma escrita: mudanças "invisíveis" no DNA afetaram, depois da prensa de Gutenberg, o formato como os fatos seriam comunicados.

Já uma mutação somática teria acontecido no momento em que, abandonando um passado de opinião misturada com informação, a máxima do jornalismo seria "only news, no comments" (só notícias, nenhum comentário), e bateu-se o martelo na sacralidade dos fatos. A mutação supressora teria propiciado a diferenciação entre os gêneros jornalísticos, definindo o que seria nota, notícia, reportagem, em contraposição a artigo, editorial, análise, opinião. E a mutação pontual, mais recente, propiciou a implantação do estilo pirâmide invertida que, no jornalismo, consiste em selecionar os fatos por ordem de importância e relevância.

Para mostrar como a notícias vem transformando as redações jornalísticas, a pesquisadora realizou pesquisa no UOL/ Folha de S. Paulo e no Clarín (Buenos Aires).  Com riqueza de detalhes, ela mostra como funciona um ambiente digital de elaboração noticiosa, de onde saem os conteúdos que chegarão à casa ou ao celular dos usuários sob a forma de página de site, chamada de celular ou mensagem nas redes sociais. A obra originou-se da tese de doutorado da autora, defendida no Programa de Pós-Graduação da Universidade de Brasília, e foi publicada em 2013, quando as mídias sociais estavam apenas se afirmando, mas serve para prever o que vem por aí: uma mutação ampla e generalizada em nossas vidas, com robôs trabalhando ao nosso lado e uma naturalização da tecnologia que nem conseguimos imaginar.

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