Continuando a série de entrevistas que pretendemos fazer, para dar mais visibilidade aos novos autores e autoras, apresento hoje César Luis, a quem tive o prazer de conhecer na Bienal de São Paulo e maior prazer ainda em partilhar um estande com ele em Brasília e Fortaleza.
1. Fale um pouco
sobre sua trajetória de vida, antes de se dedicar à literatura.
Eu nasci e cresci
em São Bernardo do Campo – SP, fui educado em um grande colégio católico e
desde sempre fui atraído pelas artes e esportes. Os esportes ainda têm espaço
importante na minha vida, mas as artes ocupam a maior parte do meu tempo. Nos
últimos 30 anos eu me dediquei à música e às artes plásticas, mas foi a
atividade marginal de escrever que acabou prevalecendo.
2. Quando descobriu
sua “vocação” para escrever?
Descobri a escrita
escrevendo. Nos meus tempos de Faculdade de Direito comecei a escrever ensaios
sobre filosofia (o que me custou o diploma, pois a filosofia destruiu toda
ilusão que ainda me restava sobre o universo jurídico). Antes eu desenvolvia
meus pensamentos em forma de poemas e letras de música, mas foi a prosa que
mostrou o melhor caminho pra satisfazer minhas necessidades de expressão artística.
3. Fale um pouco
sobre os livros que já publicou.
Até hoje são cinco
títulos. O primeiro e o segundo (Pedras Negras e Saluh) abordam temas comumente
conhecidos como “Teorias da Conspiração”, mas não se limitam a isso. Apesar de
ir um pouco além do “normal”, esses dois livros são bastante interessantes no
conteúdo.
Meu terceiro livro
se chama The Holy Divers vol.1 – A Diáspora dos Mistérios. Foi escrito
originalmente em inglês e foi lançado no Brasil em versão bilíngue. A estória se
passa nos anos 90dC e aborda o confronto cultural entre a forma milenar de
adoração à Mãe Natureza (paganismo) e a nova ordem em ascenção conhecida como
“cristianismo”. A distorção ampla e profunda das palavras do sábio judeu
(Doutrina de Paulo) acabou por massacrar e distorcer mais de 8000 anos de
organização humana simbiótica em relação à Natureza (sem contar com o árduo
trabalho dos copistas conhecidos como zelotas Essênios que serviram à “obra do
Senhor” disseminando a doutrina do pecado e salvação por toda a Palestina. Os
antigos pergaminhos incessantemente copiados na região do Mar Morto acabou por
se espelhar por todo o mundo). É uma
estória muito bonita e repleta de revelações.
Recentemente foi
lançado “A Menina que não gostava de Cor-de-Rosa” que foi uma colaboração minha
com o escritor goiano, Carlos Pompeu (Boriska Petrovna). O livro aborda o tema da
naturalidade do sobrenatural e como a
ignorância combina com a ganância (igual queijo e goiabada).
Finalmente meu
último livro se chama “A verdade sobre a Ilha Green”. Uma estória para jovens
de 12 a 99 anos que aborda de forma clara e simples alguns problemas
fundamentais que colocam em risco a existência humana na Terra como a
exploração predatória do meio ambiente, a banalização do valor da vida entre
outros. O livro é o primeiro de três volumes nos moldes da antiga coleção
Vaga-Lume da Ed. Ática.
4. Existe um que
você gosta mais? Por que?
The Holy Divers é
meu favorito porque nele eu aprimorei minha capacidade de falar sobre coisas
complicadas de forma simples. Esse livro é o primeiro volume de uma “duologia”
dedicada a falar de forma franca e aberta sobre grandes mentiras. Desconstruir
mentiras passou a ser minha motivação como escritor e meu grande objetivo de
vida.
5. Comente sobre
sua experiência com editoras. Ou você é adepto de produção independente?
No ano de 2013
escrevi meu primeiro livro e enviei a diversas editoras. “Pedras Negras” foi
lançado em 2014 por uma editora do Rio de Janeiro, mas o trabalho de apoio foi
muito fraco (quase inexistente). Resolvi que eu poderia fazer melhor se
lançasse meu trabalho de forma independente e foi isso que fiz. A experiência
com a editora carioca me deu perspectivas e se hoje tenho cinco livros editados
é por causa desse pessoal corajoso que resolveu apostar no meu livro.
Em 2015 eu e minha
esposa montamos a Luna Editora para lançar meu material e hoje estamos
começando a lançar outros autores como o potiguar Abração França e a baiana V.
Evans. Acreditamos em um modelo de negócio do tamanho de nossa perna, quero
dizer, não temos interesse em invadir o mercado de livros, mas sim dar
oportunidade a escritores que tem vontade de trabalhar pessoalmente seus livros
junto ao leitor.
6. Nas entrevistas
e bate-papos que acompanhamos pela internet, verificamos que existe uma
preocupação muito grande com a revisão. Há livros sendo publicados sem revisão
de espécie alguma, nem a técnica (própria da editora) nem a
ortográfica/gramatical. O que você pode nos dizer a respeito? No seu caso
particular, você contrata um(a) revisor(a)? Ou a editora se encarrega disso?
Revisão de texto é
o grande pesadelo do autor independente. Eu mesmo faço as revisões dos livros
que lançamos e as falhas são um problema a ser superado. Eu mesmo faço as artes
da capa e a diagramação dos textos e confesso que ainda não descobri um método
mais eficiente para evitar erros do que a calma e a paciência. Um texto precisa
ser revisado por pelo menos três vezes
por pelo menos duas pessoas. Esse
processo leva tempo, mas é a única forma de garantir que os erros não sejam
impressos.
7. Outro ponto
chave para os novos autores é a divulgação de suas obras. Pode nos dizer de sua
experiência a respeito?
Confesso que não
vejo eficiência nos meios eletrônicos de divulgação. Na minha experiência, a
forma mais eficiente de mostrar um trabalho é estando presente em feiras e
eventos literários. É conversando e interagindo com o leitor que o escritor
iniciante conquista seu espaço.
8. Bienais e feiras
de livros – são importantes para os novos autores?
Imprescindível!!! O
escritor iniciante tem que estar nas feiras. Se alguém acha que o caminho é
estar nas prateleiras das grandes livrarias, logo vai perceber que a coisa não
é bem assim. Para chegar até o leitor, o autor independente precisa simplesmente
estar onde o leitor está. Sem esse trabalho de base, não há resultado.
9. Ouvem-se muitos
comentários depreciativos sobre a literatura brasileira contemporânea. É comum
ouvir-se algo do tipo “não gosto, não leio autores nacionais”. Em seu
entendimento o que explicaria tal tipo de assertiva?
Preconceito e falta de interesse pelo novo. Essas duas atitudes são padrão em todas as
áreas da atividade humana. Eu tenho conhecido muitos escritores talentosos nas
feiras que participo e essa é a prova cabal da visão estreita do leitor médio.
A colonização cultural do Brasil anda a plenos vapores só que não enxergamos
mais. Nunca se vendeu tanto livro neste país, é verdade, mas todos são
estrangeiros.
10. A partir de sua
experiência pessoal, o que poderia dizer para aqueles e aquelas que pretendem
publicar livros?
Revisem pelo menos
três vezes, façam uma capa bonita e trabalhem pessoalmente nas vendas. As relações de trabalho e de comércio
estão se despedaçando dia após dia e eu acredito que no futuro próximo (menos
de cinco anos) que a única coisa que vai ter valor é o trabalho autônomo e
independente das grandes corporações. Quem viver, verá.
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