Antônio de Paiva Moura
Ciro Versiani dos Anjos nasceu em Montes Claros MG, no
dia 5 de outubro de 1906. Em 1923 transferiu-se para Belo Horizonte, onde
cursou direito na UFMG, graduando-se em 1932. Durante o tempo de estudante
trabalhou nos jornais Diário da Tarde,
Diário do comércio, Diário da Manhã, diário de Minas, A tribuna e Estado de
Minas. Seis anos depois de formado foi diretor da Imprensa Oficial do
Estado de Minas Gerais. Foi professor de literatura na Faculdade de Filosofia
da qual foi um de seus fundadores. Foi no período que era colaborador do jornal
A Tribuna, que escreveu seu primeiro romance “O amanuense Belmiro” (1937) Cyro
dos Anjos tem uma longa folha de exercício de cargos no alto escalão da
República, além de altas condecorações e premiações literárias.
O romance O Amanuense Belmiro, de Cyro dos Anjos, publicado em 1937 reflete a
tendência segundo momento do Modernismo no Brasil. Belo Horizonte é uma cidade
nova que reúne intelectuais e artistas vindos de outras partes do Estado e do
país. Há produção artística em todas as
áreas: teatro, cinema, literatura, artes plásticas e música. Jornais, revistas
e rádio têm programas específicos para divulgação das produções artísticas. O Amanuense Belmiro tem ligação com essa
efervescência cultural da cidade. O tema de Cyro dos Anjos vai na contra mão da
temática do mandonismo do sertão.
O personagem principal, Belmiro
Braga é um rapaz que, na década de 1930, se transfere de Montes Claros para
Belo Horizonte, na companhia de duas irmãs já idosas, Emília e Francisquinha. Os funcionários públicos que faziam escritas
manuais eram chamados de “amanuenses”. Belmiro era funcionário da Secretaria de
Agricultura como amanuense. Daí o nome do livro. Belmiro percebe que leva vida
monótona e insignificante. Falta a ele status de família, diploma e dinheiro.
Chega a Belo Horizonte com a bagagem da cultura tradicional adquirida em sua
cidade natal e na vida familiar. Mas tenta adaptar-se a um novo modo de vida
que, ao contrário de Montes Claros, só podia conhecer e se relacionar com
poucas pessoas. Por isso, entre a repartição na qual trabalha e sua residência,
passa fazer parte de um grupo heterogêneo de pessoas, que ocupa boa parte do
tempo de sua vida.
Alguns episódios marcam a vida de Belmiro
e revelam seu caráter e sua timidez. Em um baile de carnaval, em 1935, brincou
com uma garota de máscara, mas a perdeu de vista. Mais tarde nutre uma idéia de
que a bela moça é Carmélia e passa a amá-la de forma platônica. Mas Carmélia
acaba se casando com um médico. Do grupo de amizade Redelvim é o mais próximo
de Belmiro. Seu amigo Glicério tenta conquistar Carmélia, fazendo Belmiro
sofrer. Jandira é uma mulher livre e avançada para a época, embora não
estivesse sexualmente disponível a nenhum componente do grupo. Há no grupo,
diversas tendências ideológicas como socialismo, anarquismo e reacionário, como
Silviano.
O autor coloca no personagem Belmiro
um tipo psicológico muito sintonizado com o modo de ser do mineiro: sensível,
amigo das artes e das pessoas. Enfim, um sujeito sonhador, um pequeno burguês
idealista. Entristece-lhe a condição de
celibatário, mas não tem coragem de ter gesto ousado diante das mulheres. Ele
mesmo diz: “Construí uma Carmélia cerebral que me causava devastações”. Em “O Amanuense Belmiro”. Cyro dos Anjos
explicita Minas Gerais e Belo Horizonte, por meio do personagem narrador, nos
primórdios do século XX; o papel social da mulher na sociedade, além do
contraste entre a vida rural e a urbana.
O que inscreve “O Amanuense Belmiro”
na égide modernista de Minas Gerais é a sua ruptura com o romance voltado para
a vida de grandes potentados regionais a exemplo “São Bernardo”, de Graciliano
Ramos; os conflitos armados; vida de personalidades históricas. A obra de Cyro
dos Anjos não tem o cânone do “final feliz”, nem mocinho e nem vilão, mas deixa
no leitor uma indagação sobre a alma humana; um balanço de si mesmo e do mundo.
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