quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Enredo revela uma amazônia desconhecida por muitos

Isaías Oliveira, 64 anos, é jornalista com 41 anos de profissão (1976-2017), nascido em Manaus (AM), tendo exercido durante 30 anos atividades de assessoria de imprensa e cargos públicos. Durante os anos 1970 militou na política de esquerda no MDB e foi articulista no jornal A Notícia, de Manaus, onde trabalhou dois períodos sob censura prévia.

Participou do movimento em defesa das artes e das tradições populares do Amazonas, com o jornalista Bianor Garcia e artistas, como os pintores Moacir Andrade e Afrânio de Castro; os poetas Jorge Tufic e Aníbal Beça; e o escritor Anthístenes Pinto.

Nos últimos anos tem se dedicado ao estudo de temas amazônicos, sobretudo a cultura e o saber tradicionais dos povos da floresta, com quem teve convívio desde a infância, nas viagens com o pai para extração de madeira nos confins da floresta; e na juventude, como membro de grupos de caça e pesca na Amazônia.

O romance “A Dimensão dos Encantados” é uma reflexão do autor encarnando dois personagens verdadeiros, pessoas que existiram no contexto da aventura e que realmente a viveram e acreditaram em tudo o que viveram, criando, a partir dessa crença, uma verdade absoluta.

Além de “A Dimensão dos Encantados”,possui finalizados “O Diário em Branco”, em revisão; e “A Casa do Fim da Rua”; e em elaboração “O refúgio do Grande Espírito da Vida”, além de poemas e contos ainda por organizar para edição. A veia poética surgiu na convivência com o poeta Thiago de Mello, em seu retorno do exílio, de quem se tornou o primeiro novo amigo no dia de sua chegada a Manaus.

“O interessante é que esse enredo revela uma Amazônia desconhecida do mundo então, e ainda não descoberta pelo homem moderno.”
Boa leitura!

Escritor Isaías Oliveira, é um prazer contarmos com a sua participação na Revista Divulga Escritor. Conte-nos, como surgiu inspiração para a escrita do romance “A Dimensão dos Encantados”?
Isaías Oliveira - Bom. Não chegou a ser uma “inspiração”, mas uma coisa até natural. Meu pai, também Isaías, foi um dos maiores aventureiros da Amazônia. E era também um exímio contador de histórias. Isso numa época – década de 1950, início de 60 – em que não conhecíamos nem rádio portátil; ele tornava-se a principal atração para os curumins da floresta.
Assim, “A Dimensão dos Encantados” acaba sendo uma história bem familiar, da nossa família: meu pai, Isaías, minha mãe, Marina, e os sete filhos. Porque todos nós, embora na época não compreendêssemos, participamos dessa aventura.

Apresente-nos a obra.
Isaías Oliveira - Eu diria que “A Dimensão dos Encantados” é um conto de duas histórias, reunidas numa única narrativa. Por meio de uma leitura paralela a gente acompanha um navegador aventureiro e um caçador perdido na mata, rememorando passagens de suas vidas antes de se encontrarem, num fim de tarde, nos confins da Amazônia, onde o caçador, já com aparência de animal e sem lembrar mais a linguagem humana, quase é abatido a tiros pelo aventureiro.
O interessante é que esse enredo revela uma Amazônia desconhecida do mundo então, e ainda não descoberta pelo homem moderno. Nela, o sobrenatural e o humano se misturam na dimensão fantástica da mente, um espaço onde o caçador, o pescador e o ribeirinho vivem a brutalidade, o medo e a magia dos encantamentos da floresta, como verdades absolutas. São homens verdadeiros vivendo uma realidade intangível.

Então, “A Dimensão dos Encantados” é uma obra baseada em fatos reais?
Isaías Oliveira - Por se tratar de uma história que lida com o imaginário fértil do homem amazônico, povoado de lendas, mitos e assombrações, não posso afirmar que os fatos são reais. Mas posso garantir que a história de vida dos dois personagens realmente aconteceu. O relato do livro saiu da mente do meu pai. As histórias de ambos, porém, foram construídas por duas mentes sintonizadas com a vivência, os costumes e a natureza da Amazônia selvagem.

Quais critérios foram utilizados para a escolha do título?
Isaías Oliveira - Aí foi inspiração mesmo. No meu roteiro seria uma crônica de viagem. Quando comecei a escrever despertou-me a constatação de que não se tratava de uma simples história de noites de “serão”. Ela retratava uma passagem de duas vidas diferentes, que se identificavam pelo ambiente em que foram vividas, uma Amazônia, ainda naqueles tempos, desconhecida, selvagem, onde índios guerreavam com brancos invasores e onças atacavam pessoas no terreiro das casas.
Nesse ambiente sem tecnologia nem meios de comunicação a distância, a mente do caboclo era povoada de medo das assombrações da mata. E esse homem acreditava de corpo e alma nos seres encantados que dominavam a sua cultura empírica. O saber tradicional, a medicina da selva, as profecias sobre o futuro provinham de espíritos que se comunicavam com pajés e feiticeiros. Na realidade, eu estava escrevendo sobre um mundo encantado...

Quais os principais personagens que compõem a trama?
Isaías Oliveira - Nós temos apenas dois personagens centrais, vivendo duas histórias paralelas. Um, o aventureiro sem nome, narrador da trama, navegando o curso de um rio com um destino certo. O outro, o caçador Berenício, vagando perdido no setentrião da floresta amazônica, cuja história é narrada na segunda pessoa. No relato de ambos se identifica uma sintonia, quase simbiose espiritual, cultural e até biológica com o meio ambiente selvagem.
Podemos dizer que são dois homens selvagens vivendo aventuras convergentes na selva. Mas não se trata apenas da história de dois homens da selva. Porque é também uma parte da história de um mundo verdadeiramente encantado, a Amazônia. Naquilo que ela tem de mais selvagem, onde se percebe a existência de um “encantamento” maior, essa coisa espiritual que transcende, permeia e ao mesmo tempo movimenta todos os mecanismos de vida da floresta.

Clique no link ou imagem abaixo para leitura completa da entrevista:

https://portalliterario.com/entrevistas/entrevistas-brasil/528-enredo-revela-uma-amazonia-desconhecida-por-muitos

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