quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Comentário sobre "Como as Democracias Morrem"





Terminei a leitura deste livro de dois professores de Harvard. Sem dúvida, o texto merece elogios, ainda que se possam questionar alguns aspectos pontuais.

A grande preocupação dos autores é a atual liderança política dos Estados Unidos, representada pelo presidente Trump que, segundo eles, é uma ameaça constante à democracia norte-americana.

Fazem um bom apanhado histórico, desde a criação da Constituição até os dias de hoje e mostram como, ao longo do período, diversas vezes ocorreram tentativas de autoritarismo que foram devidamente bloqueadas.

Insistem em que a responsabilidade da saúde da democracia repousa nos políticos e, essencialmente, nos partidos políticos. Não fazem referência a pressões de empresários, de militares e de outros grupos nessa possibilidade de desmantelamento das instituições democráticas, com uma certa ressalva para grupos religiosos.

Reconhecem que a democracia norte-americana repousou, durante muitas décadas, na exclusão racial e na dominação unipartidária no Sul, e que, apenas a partir de 1965 os Estados Unidos se democratizaram plenamente.

Os autores demoram-se em analisar a ascensão de Trump, que eles consideram uma pessoa extremamente perigosa. Um outsider totalmente sem compromisso com a democracia.

Achei bem interessante um quadro que eles apresentam nos primeiros capítulos, elencando os quatro elementos que compõem o pensamento autoritário. São eles:

1.       Rejeição das regras democráticas do jogo (ou compromisso débil com elas)
2.       Negação da legitimidade dos oponentes políticos
3.       Tolerância ou encorajamento à violência
4.       Propensão a restringir liberdades civis dos oponentes, inclusive a mídia.

Ser identificado com um desses quatro elementos, segundo eles, já é motivo de preocupação. E o presidente Trump se enquadra nos quatro. Apavorante? Pois é.

Levantam hipóteses para o futuro, que não são muito animadoras.

No capítulo final, cometeram um deslize que considerei bem grave, quando afirmam que os governos norte-americanos, no pós-guerra fria “usaram pressão diplomática, assistência econômica e outros instrumentos de política externa para se opor ao autoritarismo e pressionar por democratização”. Eu gostaria que eles tivessem citado pelo menos um país do mundo em que isso poderia ser comprovado... A retórica era essa, a realidade foi outra.

E uma das considerações finais é bem significativa: “Um país cujo presidente ataca a imprensa, ameaça pôr sua rival na cadeia e declara que pode não aceitar o resultado da eleição não pode defender a democracia de maneira crível. Autocratas estabelecidos e autocratas em potencial se sentirão ambos provavelmente encorajados com Trump na Casa Branca”.

O futuro dirá.

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