Terminei a leitura deste livro de dois professores de
Harvard. Sem dúvida, o texto merece elogios, ainda que se possam questionar
alguns aspectos pontuais.
A grande preocupação dos autores é a atual liderança
política dos Estados Unidos, representada pelo presidente Trump que, segundo
eles, é uma ameaça constante à democracia norte-americana.
Fazem um bom apanhado histórico, desde a criação da
Constituição até os dias de hoje e mostram como, ao longo do período, diversas
vezes ocorreram tentativas de autoritarismo que foram devidamente bloqueadas.
Insistem em que a responsabilidade da saúde da democracia
repousa nos políticos e, essencialmente, nos partidos políticos. Não fazem
referência a pressões de empresários, de militares e de outros grupos nessa
possibilidade de desmantelamento das instituições democráticas, com uma certa
ressalva para grupos religiosos.
Reconhecem que a democracia norte-americana repousou,
durante muitas décadas, na exclusão racial e na dominação unipartidária no Sul,
e que, apenas a partir de 1965 os Estados Unidos se democratizaram plenamente.
Os autores demoram-se em analisar a ascensão de Trump, que
eles consideram uma pessoa extremamente perigosa. Um outsider totalmente sem
compromisso com a democracia.
Achei bem interessante um quadro que eles apresentam nos
primeiros capítulos, elencando os quatro elementos que compõem o pensamento
autoritário. São eles:
1.
Rejeição das regras democráticas do jogo (ou
compromisso débil com elas)
2.
Negação da legitimidade dos oponentes políticos
3.
Tolerância ou encorajamento à violência
4.
Propensão a restringir liberdades civis dos
oponentes, inclusive a mídia.
Ser identificado com um desses quatro elementos, segundo
eles, já é motivo de preocupação. E o presidente Trump se enquadra nos quatro.
Apavorante? Pois é.
Levantam hipóteses para o futuro, que não são muito
animadoras.
No capítulo final, cometeram um deslize que considerei bem
grave, quando afirmam que os governos norte-americanos, no pós-guerra fria
“usaram pressão diplomática, assistência econômica e outros instrumentos de
política externa para se opor ao autoritarismo e pressionar por
democratização”. Eu gostaria que eles tivessem citado pelo menos um país do
mundo em que isso poderia ser comprovado... A retórica era essa, a realidade
foi outra.
E uma das considerações finais é bem significativa: “Um país
cujo presidente ataca a imprensa, ameaça pôr sua rival na cadeia e declara que
pode não aceitar o resultado da eleição não pode defender a democracia de
maneira crível. Autocratas estabelecidos e autocratas em potencial se sentirão
ambos provavelmente encorajados com Trump na Casa Branca”.
O futuro dirá.
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