quarta-feira, 15 de maio de 2019

Casa de boneca para elefantes, de Patrícia Porto

Maranhense, professora universitária, formada em Letras e Mestre e Doutora em Políticas Públicas e Educação, organizou o livro Poemas de Portinari (Funarte), publicou a obra acadêmica Narrativas memorialísticas: por uma arte docente na escolarização da literatura(2010) e os livros de poesia Sobre pétalas e preces (2013), Diário de viagem para espantalhos e andarilhos (2014) e Cabeça de Antígona (2017). Também é autora do volume de contos A Memória é um Peixe Fora D’Água (2018). Seus textos estão presentes em coletâneas poéticas e sua atuação como escritora ainda inclui a participação em vários eventos literários no Brasil e no exterior.

***
Leia dois poemas da autora no livro Casa de Bonecas para Elefantes.

perseguindo o corvo

 
nada está fora do lugar
os graves e os agudos
tocam o réquiem
de peso grama

 
nenhuma gota a mais
nada sobrando
o peso sobre a folha
um sonho profanado

 
dormir é morrer pequeno
peço que o coração pare
na miúda oração de anjo
mas o dia me espera como noiva

 
abotoando sessenta botões
nenhum fecha sangrias
não morrer todos os dias
morrer todos os dias

 
pólvora alguma será néctar

***

Êxtase

 
Tão intenso esse ruído de memória batendo os cascos na terra ceifada.
A terra onde se pode acumular da pedra um corpo de memória.
Corpo dilacerado de memória, um gosto de poema na boca.
Uma sensação fina depurada de desgaste no que se resmunga,
a descoberta tardia de que uma topada na pedra é apenas uma topada na pedra.
Vasta ideia de lembrança deitada na cama
- vestido azul, sapatos pretos, brincos de prata,
a arrumação inútil do marido, rosto sem maquiagem,
um sopro feroz de vida nas narinas.

 
Nosso tempo se foi,
murchando em flores miúdas que me cobrem os olhos.

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