quarta-feira, 27 de novembro de 2019

A revolução dos bichos - um comentário

A revolução dos bichos
Antônio de Paiva Moura

ORWELL, George. (1903/1950). A revolução dos bichos [1945]. Tradução
de Heitor Aquino Ferreira. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. Título
original Animal Farm.

Resumo

Em uma granja pertencente ao senhor James, diversos animais
trabalhavam em regime de escravidão e eram maltratados pelo proprietário.
Liderados pelo porco Major, (Karl Marx) os animais decidiram fazer uma
revolução. Os inimigos dos bichos seriam todos aquele que andassem sobre
duas pernas, exceto os de penas. Depois de longo discurso do Major, os
animais se organizaram e expulsaram o senhor Jones da granja, deixando
de serem tratados como escravos dos humanos. Em seguida os porcos
passaram a liderar a granja porque se consideravam os mais inteligentes.
Aprenderam a ler e escrever e adquiriram poderes sobre os demais. Os
ensinamentos do Major ficaram gravados na memória dos bichos com o
nome de animismo, mesmo depois de sua morte, resumida em um
regulamento de sete itens.
O porco Bola de Neve (Trotski) teve o plano de construir um
moinho de vento, mas Napoleão (Stalin) foi contra porque isso daria
prestígio a Bola de Neve. Houve uma eleição na qual Bola de Neve teve
maioria de votos, mas Napoleão o expulsa da granja e passa a ser visto
como traidor.

Napoleão governava a granja protegido por cães que ameaçavam os
demais bichos com palavras decoradas. Napoleão constrói o moinho e
raciona os alimentos dos bichos, implantando novo regime de escravidão.
Como Napoleão fazia uso de bebida alcoólicas, o item do regulamento que
proibia bebidas foi modificado. No interesse do ditador, todos os demais
itens do regulamento foram alterados ou revogados e começa um
relacionamento com os humanos. Os porcos começam a andar em dois pés
e se mudam para a casa grande que pertenceu ao humano Jones. Alegaram
que precisavam repousar melhor porque o trabalho mental e o esforço de
governar a granja era estafante. Para manter os privilégios, os porcos eram
muito convincentes. O porco Garganta andava pela granja defendendo
Napoleão com recurso de retórica persuasiva.

Uma tempestade derrubou o moinho de vento e a culpa recaiu sobre
Bola de Neve que poderia estar vivendo em outra granja de humanos.
Alguns animais começaram a questionar que a vida estava pior do que na
época do senhor Jones. Acusados de serem seguidores de Bola de Neve,
esses animais foram mortos. O cavalo Sansão foi mandado para um
matadouro, simulando que ele iria se tratar em uma clínica.
O corvo Moisés (padre, representa o Clero) que andava sumido,
aparece prometendo aos bichos um paraíso após a morte, figurado na ideia
de além das nuvens existir uma montanha de açúcar disponível para eles.
O humano Frederick manda destruir o moinho e os animais resistem
e os mandados. Depois disso a vida dos bichos piora mais ainda e muitos
acabam morrendo. Da janela da casa grande os demais bichos vêm os
porcos andando em dois pés e jogando baralho com os humanos. Em
seguida há uma discussão violenta com murros na mesa e ficou constatada
que a causa da discórdia era o fato de humanos e porcos terem colocado na
mesa, ao mesmo tempo um as de espada cada. Os demais bichos
concluíram que já não havia mais diferença entre porcos e humanos.

Comentário.
Considerando que a fábula foi escrita no decorrer da segunda guerra
mundial há uma analogia dos conflitos bélicos e sociais daquele momento,
revelado no símbolo da destruição do moinho pelas forças humanas; o jogo
de baralho que simboliza o jogo diplomático. (tratado Ribemtrop-
Molotov) A segunda metáfora é com relação ao descaminho ou
desvirtuamento da proposta de Marx no sentido de construir uma sociedade
igualitária e democrática. Ao invés disso Stalin, ao assumir o poder na
URSS, parte para o nacionalismo e o imperialismo, com apoio de
extraordinário estamento burocrático. Os símbolos que representam essa
questão, são a expulsão do porco Bola de Neve da comunidade dos bichos;
os cães que devotam fidelidade a Napoleão em troca de afagos e algumas
migalhas de comidas; O corvo Moisés que leva consolo e resignação aos
demais escravizados. A persistência da ditadura stalinista, torna a URSS
igual às ditaduras ocidentais como as de Hitler, Mussolini, Franco e
Salazar, simbolizado no fato de os porcos passarem a andar em pé. Por fim,
o autor se revela adepto das teorias de Marx no trato que dá ao discurso
coerente do personagem Major e na atuação de Bola de Neve.

Na granja Brasil
Como a fábula de George Orwell é atemporal e atópica, podemos
interpretá-la na história contemporânea do Brasil. Nos anos de 1980 as
diversas classes sociais se uniram para exigir o fim da ditadura militar e a
humilhação às classes assalariadas. Reivindicam a realização de eleições
diretas e nova constituição da república, com a esperança de sustentação da
social democracia. Como na fábula de Orwell, 28 anos depois a classe dos
porcos, elite empresarial, dá um golpe de estado, assume o poder e muda os
regulamentos em benefício próprio. No governo Bolsonaro intensifica-se o
jogo diplomático cortejando as potencias internacionais, os porcos
dobrando-se aos interesses dos países imperialistas; aumento da repressão
policial contra as classes inferiores e redução dos benefícios conquistados
ao longo do tempo.

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