quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Revisão: o X da questão para novos autores

Errar é humano, revisar, imprescindível - pelo revisor da Texto Ideal Josias A. Andrade

Na produção de qualquer conteúdo escrito — impresso ou digital — é imprescindível a atuação de um revisor de textos. O revisor, pelo seu conhecimento e olho clínico, perceberá as falhas cometidas pelo redator. Será capaz de perceber, por exemplo, um espaço a mais entre duas palavras, identificar uma vírgula em lugar errado, sua falta ou seu uso desnecessário.

Saberá usar corretamente termos suscetíveis a dúvidas, como mau e mal; porque, por que, porquê e por quê; sessão, seção e cessão; acender e ascender; dispensa e despensa; concerto e conserto, entre tantos outros. Notará problemas de concordância verbal e nominal, distinguirá advérbios e adjetivos, saberá quando usar por e pôr; por e puser, fazer e fizer, ver e vir, insipiente e incipiente — e estará atento à repetição de palavras nas frases. Também saberá usar corretamente as orações subordinadas e deixará os textos claros e objetivos. Policiará o uso do “que”, chamado de “queísmo”, atentará para os cacófatos — alguns, engraçados; outros, maliciosos — e ainda se encarregará de dar um basta no gerundismo, nos vícios de linguagem e nos modismos disseminados pela mídia, que nos faz crer que “por conta de” e “a nível de” — membros da mesma família — são formas corretas de falar e escrever, e mais um sem-número de erros que o escritor poderá deixar passar.

Que o escritor ou o redator erre ao escrever é plenamente compreensível, afinal sua função é escrever e a do revisor, revisar. Quando cada ator tem seu papel bem definido na produção do texto, tudo funciona com perfeição e todos saem ganhando, principalmente o leitor, elemento mais importante nesse processo. Considerando que a revisão é etapa não obrigatória mas recomendável, sujeitar-se-á ao risco o autor ou editor que dela abrir mão. E o erro pode ocorrer em datas, números e informações. Isso é comum, daí ser possível achar absurdos em livros já impressos, sem revisão ou mal revisados. Como consequências advêm prejuízos com reimpressão, a situação incômoda de dar explicações ao leitor ou simplesmente ignorá-lo, como é bastante comum. Já questionei a respeito de erros em livros que li e nem mesmo resposta obtive do editor. É frustrante, mas isso é bem frequente. E o silêncio por parte do editor/autor, neste caso, pode ser interpretado como um mea culpa.

No que concerne ao revisor, deste profissional exige-se que perceba os erros e aponte soluções, pois é seu papel deixar o texto isento de quaisquer imperfeições. Para isso é necessário que use e abuse das gramáticas, tenha em mãos dicionários específicos e apoie-se em manuais de redação. Com relação aos manuais há quem condene seu uso, o que é uma grande bobagem, pois neles há dicas importantes. Os manuais, tanto quanto as gramáticas e os dicionários, devem fazer parte do ferramental do revisor. Se fossem materiais de uso do redator/autor, talvez fosse dispensável a presença do revisor.

Para concluir, há editores e escritores que veem o trabalho de revisão como despesa, quando deveriam enxergar como investimento. Mas não é só isso: entre os novos escritores, os que estão esperando a chance de publicar o primeiro livro, muitos pensam que escrever uma obra é digitar em Word, mandar para a editora e aguardar a aprovação. Ledo engano! Trabalho feito assim pode ser descartado de imediato. Errar é humano, mas para resolver estes problemas é que existem os revisores. Munidos de lápis e caneta marca-texto ou com a cara enfiada na tela de um computador, estes profissionais — que devotam verdadeiro sacerdócio à atividade — dão forma e sentido àquilo que antes parecia um emaranhado de palavras. Mas aqui vai um alerta: é preciso que o revisor seja escolhido a dedo, pois nesse meio também há os excelentes, os bons e os medíocres, mas isto é tema para outra edição.

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