quarta-feira, 24 de julho de 2019

Waldir dos Santos, o sambista operário, de Andréa Casa Nova Maia



Foram os mineiros do ouro, do ferro, dos diamantes e de outros metais e pedras que construíram a fortuna e deram o nome às Minas Gerais. Ao longo de muitos anos, homens e mulheres escravizados, assalariados e, em diversas relações de trabalho, drenaram rios e escavaram a terra em uma sôfrega busca de riquezas. A mineração teve um papel central na organização do território nacional e na criação da própria ideia de Brasil. Desde o final do século XVII, essa atividade econômica tem conectado as montanhas de Minas com a formação do capitalismo global, da Revolução Industrial europeia ao contemporâneo domínio econômico chinês. 
Esta é uma longa história de muita exploração e de descaso com vidas e com o meio ambiente, como os recentes crimes ocorridos em Mariana e Brumadinho insistem dolorosamente em nos lembrar. Mas também é uma história de lutas sociais e políticas, nas quais trabalhadores e trabalhadoras construíram comunidades e afetos, criando e ressignificando culturas e identidades. 
Em fina sintonia com os debates recentes da história social do trabalho brasileira, Andrea Casa Nova Maia nos apresenta neste instigante livro a trajetória de Waldir dos Santos, trabalhador da emblemática Mina de Morro Velho durante a era Vargas. Baseada numa densa entrevista de história oral, uma saborosa narrativa nos revela as visões de mundo de um personagem “excepcional normal”. Suas lembranças abrem janelas para a compreensão das intricadas e, muitas vezes, surpreendentes, relações entre a labuta nas minas, a vida política e a recepção do discurso varguista. Mas Waldir era também e, sobretudo, um sambista boêmio. Suas memórias desvendam a densidade da cultura operária e suas conexões com a nascente indústria cultural dos anos 1930. “Minas são muitas”, nos alertou Guimarães Rosa. Waldir dos Santos, o sambista operário: História de uma mina de ouro no Tempo de Vargas de Andrea Casa Nova Maia nos ajuda a percorrer os mundos do trabalho da mineração, uma face tão fundamental, mas ainda pouco conhecida das Alterosas.
Paulo Fontes Professor do Instituto de História da UFRJ 
Editora: Ed. Gramma Ano de lançamento: 2019

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