quarta-feira, 1 de abril de 2020

Entrevista: Ana Luisa Beleza

Mais uma entrevista com autora da Liga dos autores mineiros. Vamos conhecer Ana Luisa Beleza:


 Fale um pouco sobre sua trajetória de vida antes de se dedicar à literatura.

A literatura sempre foi bastante incentivada na minha casa, especialmente por meus pais e meu avô, que sempre me presentearam com livros. Assim, desde pequena me vi uma leitora apaixonada. Eu aprendi a ler sozinha de tanto pedir para lerem para mim, a ponto de decorar meus livrinhos. Dos contos de fadas parti para a Coleção Vaga-lume, fui uma leitora voraz de Harry Potter e, já na adolescência, Sidney Sheldon sedimentou de vez minha compulsão por leitura. Dali em diante eu fui conhecendo cada vez mais gêneros e autores, me apaixonando pela literatura nacional contemporânea e, com isso, foi despertando também o desejo de escrever.
Paralelamente, me formei em Direito e atuo como advogada há alguns anos, especialmente nas áreas de família e trabalhista, onde, de certa forma, também conto histórias, só que da vida real

Quando descobriu sua “vocação” para a literatura?

Acho que de tanto ler, naturalmente veio o desejo de escrever. Sempre eu ficava me imaginando escrevendo os livros que amava e pensando na forma como conduziria a narrativa, até que, incentivada por amigos, aconteceu e meu primeiro livro nasceu. Acho que, na verdade, ainda me descubro escritora todos os dias.

Fale um pouco sobre seus livros.

Meus livros retratam um pouco o que eu gosto de ler. São chick-lits, que é um tipo de literatura voltada para os problemas e dilemas da vida moderna, em especial para as mulheres, muito embora não seja limitado ao público feminino. São comédias românticas leves e de entretenimento, mas com a pretensão de acolher e conversar com o leitor, como se fosse o caso de um amigo ou mesmo um caso que viveu pessoalmente.

Meu primeiro livro, “Aquela Tal História de Amor”, narra a história de Elizabeth, uma professora controladora, meio durona e fria. Ela tem certeza que o amor da sua vida está na Inglaterra até que um dia encontra um livro misterioso que começa a contar a história de amor entre ela e Murilo, um jogador de futebol que ela conhece e que é o avesso do que ela sonha. A cada encontro, uma nova página é escrita magicamente pelo livro, enquanto ela acaba se envolvendo, de fato, com o bonitão, mas sem saber se aquele sentimento é real ou manipulado pelo tal livro.


“Meu Cupido Me Odeia” é meu segundo livro, com um toque a mais de comédia, como dá para perceber pelo nome. A protagonista é Sandra Rosa Monteiro, que, por coincidência, tem o mesmo nome da musa da música de Magal, embora Rosa seja seu sobrenome. Sandra tem um amor não superado do passado, Diego, com quem namorou nos tempos de faculdade, mas uma intensa disputa pela presidência do diretório acadêmico os separou. Anos mais tarde ela o reencontra, mas enquanto Sandra está disposta a finalmente superá-lo, Diego tentará provar que mudou e que é digno de seu amor. Só que o destino reserva novas disputas para o ex-casal.


Atualmente, eu estou trabalhando em um novo projeto, ainda na primeira metade. É um romance de época, que se passa na década de 40. Foge um pouco do estilo dos outros livros, até porque aqui a comédia dá lugar ao drama. Como exige bastante pesquisa, não tenho previsão de conclusão. Também devo, em breve, iniciar uma parceria com outro escritor, colega de editora, para um livro juvenil, de aventura. Fora isso, meu bloco de notas é lotado de premissas de novas histórias, todas esperando para sair do papel.

Existe algum que seja o preferido? Por que?

Acho que pedir para escolher um é como pedir para uma mãe escolher seu filho preferido. Não tem como. “Aquela Tal História de Amor” é especial por ter sido o primeiro. “Meu Cupido Me Odeia”, por outro lado, foi divertidíssimo de escrever, me fez muito bem. O projeto novo tem me deixado orgulhosa do resultado. Enfim, acho que cada um tem seu espaço no meu coração.

Você baseia seus textos em fatos da vida real, ou são mera ficção?

Ficção, mas inevitavelmente tudo a minha volta é material para a imaginação. Até caso que eu escuto dentro do ônibus de alguma forma me inspira.

Queria saber sobre sua experiência com editoras, caso publique por elas, ou então se realiza produção independente. Quais as dificuldades encontradas?

Escrever é a parte prazerosa da publicação. Tudo que vem depois é dor de cabeça. Isso porque, infelizmente, as grandes editoras não são abertas a autores nacionais pouco conhecidos (talvez por reflexo de uma rejeição do próprio público, em geral) e as editoras menores, que abrem esse espaço, têm inúmeras dificuldades e limitações. Meus dois livros foram publicados pelo Grupo Editorial Selo Jovem, de Ribeirão Preto/SP. É uma editora que só publica autores nacionais (com algumas exceções de outros escritores de países de língua portuguesa). Todo mundo ali está no mesmo barco, então dialogamos sempre sobre as dificuldades enfrentadas, especialmente em relação à distribuição e marketing, mas não é nada fácil superar estes obstáculos.

Nas entrevistas e bate-papos que acompanhamos pela internet, verificamos que existe uma preocupação muito grande com a revisão. Há livros sendo publicados sem revisão de espécie alguma, nem a técnica (própria da editora) nem a ortográfica/gramatical. O que você pode nos dizer a respeito? No seu caso particular, você contrata um(a) revisor(a)? Ou a editora se encarrega disso?

Esse é um ponto complicado de falar, especialmente porque envolve outros profissionais. Um erro ou outro sempre vai passar, é inevitável, mas acho que nosso papel é minimizá-los, em respeito ao leitor. O problema é que isso sai do controle do próprio escritor, às vezes. A revisão, a diagramação e toda a parte técnica são itens importantíssimos, mas não dá para ficar preso somente nisso também. No fim, a mensagem do livro é sempre maior. Respondendo sobre meu caso particular, eu costumo pedir para outras pessoas lerem antes de entregar para a editora, que realiza a revisão final.

Outro ponto chave para os novos autores é a divulgação de suas obras. Pode nos dizer de sua experiência a respeito?

Sem dúvidas este é um dos maiores desafios do escritor nacional. Não dá para achar que basta escrever um livro. O marketing tem que ser uma preocupação diária do escritor. A editora, por melhor e maior que seja, não fará o trabalho de divulgação sozinha. Nem mesmo se você der a sorte de ter um agente terá menos preocupações com a divulgação. Hoje, felizmente temos a tecnologia a nosso favor, o que facilita muito. Estamos a um clique de distância de leitores do mundo inteiro.

No meu caso, eu procuro fazer parcerias com blogs, participar de eventos (a Liga de Autores Mineiros é fundamental nisso) e realizar sorteios. Gosto também de estar sempre próxima do leitor, pois não existe ferramenta de marketing melhor do que alguém que leu e verdadeiramente gostou do livro.

Algo que muito me espanta são os comentários depreciativos sobre a literatura brasileira contemporânea. É comum ouvir-se algo do tipo “não gosto, não leio autores nacionais”. Em seu entendimento o que explicaria tal tipo de comentário?

Infelizmente é uma realidade. Vejo alguns escritores adotando pseudônimos ou usando siglas para tentar entrar no mercado e furar esse preconceito. Há, de uma forma geral, uma depreciação da arte nacional. O próprio mercado é todo pró-cultura estrangeira, especialmente americana e inglesa. Vemos isso na literatura, no cinema, na televisão...  Se eles têm esse espaço é porque souberam valorizar sua arte e temos que copiá-los nesse aspecto, valorizando ao invés de depreciar o que é nosso.

Por outro lado, esse é um preconceito de quem nunca leu um livro nacional, com certeza. Temos excelentes autores no Brasil, dos mais variados estilos literários. Antes de ser escritora, sou leitora e, hoje em dia, leio muito mais nacionais do que estrangeiros, isso antes mesmo de publicar. Aliás, os autores nacionais contemporâneos me incentivaram a escrever. Os livros nacionais me deixam muito mais próxima da história até porque geralmente elas se passam em regiões que eu conheço, com personagens falando minhas gírias, usando referências que eu entendo e ainda há vantagem de conseguir conversar diretamente com o escritor e pegar um autógrafo. Só tem vantagens!

A partir de sua experiência pessoal, o que poderia dizer para aqueles e aquelas que pretendem publicar livros?


Escrever é treino, então a prática é necessária e a cada dia você evolui um pouco mais, mas sempre haverá mais a aprender.
Leia bastante. A imaginação e as palavras são instrumentos de trabalho de qualquer escritor e outras boas histórias são fontes inesgotáveis de aprendizado.
Acima de tudo, coloque amor em cada palavra que escrever. Livros passam sentimentos e quem ler poderá sentir exatamente o que você depositou ali, em cada linha.


 

Ana Luísa de Souza Beleza é mineira, de Belo Horizonte, leonina, advogada e pós-graduada em Direito Público. Seu amor por histórias vem desde a infância, tendo aprendido a ler sozinha, tamanho o fascínio que os livros lhe causavam. Nas horas vagas gosta de ler, escrever, ver séries, cozinhar, bater bapo, brincar com seus gatos e assistir a tutoriais de maquiagem na internet - às vezes tudo ao mesmo tempo. É autora dos chick-lits “Aquela Tal História De Amor” e “Meu Cupido me Odeia” e do conto "Conexão", da coletânea "O dia em que o samba parou", da Liga de Autores Mineiros.




2 comentários:

  1. "Leia bastante. Acima de tudo, coloque amor em cada palavra que escrever".

    Parabéns pela entrevista, Ana Luísa! Coerente, realista e leve. Te desejo sucesso na carreira e na vida!

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  2. Obrigada pelo espaço. Adorei participar!

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