quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Considerações sobre as Bienais



Considerações sobre Bienais de Livros

Neste glorioso ano de 2016, em que o país e o mundo passam por tsunamis políticos inimagináveis, eu e vários colegas que nos metemos a ser escritores passamos por experiências realmente espantosas, que vieram nos comprovar que Cultura é objeto de quinta categoria no Brasil.

Participei de três Bienais: em Belo Horizonte, em São Paulo e em Brasília. Três realidades bem diferenciadas, apesar eu ter notado algumas semelhanças, exatamente naquilo que elas têm de mais desagradável.  

Em BH, estande da Novo Século, a vendedora Raquel

Em BH, com as filhas de meu ex-aluno "Edy Murphy"

A primeira constatação é sobre os organizadores de tais eventos: não me pareceram preocupados com a cultura, com a literatura e muito menos com a possibilidade de os expositores (sejam editoras, livrarias ou autores independentes) poderem mostrar o que podiam oferecer, inclusive a preços mais competitivos do que os praticados pelas livrarias nas grandes cidades.

A começar pelas datas das Bienais. A de São Paulo encerrou as atividades num domingo, dia 4, a de Brasilia num domingo, dia 30. Mas... o pagamento do salário dos prováveis e possíveis consumidores não é feito no 5º dia útil do mês? A lógica me diz que essas feiras deviam ser realizadas na primeira quinzena de cada mês e não na última semana, quando o dinheiro já acabou, o cartão de crédito já está lotado... ou estou enganado?

A não ser que as Bienais existam para dar lucro aos organizadores, a quem pouco interessam se os expositores vão vender ou não, desde que já pagaram caríssimo pelos estandes. O público? Ora... o público... em São Paulo, um casal que fosse de carro à Bienal, teria de pagar 40,00 pelo estacionamento e 25,00 per capita, só para entrar! Ou seja, 90 reais! Para entrar! E se ficasse algumas horas por lá, precisaria comer e beber coisas caríssimas, preços muito superiores ao que se paga nos bares, mercados e restaurantes... No final do mês, tendo gasto, por baixo, 100,00 em entrada e algum sanduiche, sobraria quanto para ele comprar livros? 

São Paulo: muitas ruas, pouco público...

Ouvi expositores (editores) dizendo que não iriam mais expor nas próximas, devido ao alto custo dos estandes e da falta de apoio dos organizadores. Quem perde?

Nesse ponto, Brasilia foi show. Estacionamento e entrada grátis, ninguém pagou nada para entrar. Confesso que quando fiquei sabendo que o local da Bienal seria o estádio Mané Garrincha, fiquei pensando (por desconhecer totalmente o local) como seria isso. Mas tive a surpresa de ver que o local era mais interessante do que os das Bienais de BH e SP. Os estandes foram posicionados numa meia lua, na área que antecede as cadeiras e o gramado. Em vez de ficar entrando e saindo de ruas numeradas de A até “X”, como BH e SP, o público entrava, percorria os estandes à sua direita, chegava ao final, voltava pelo outro lado, vendo novos estandes, retornava e chegava ao ponto inicial. Um roteiro bem menos cansativo do que entrar em inúmeras ruas e se perder no meio delas...

Estádio Mané Garrincha

Planta do estádio com a meia lua de expositores

Espaços amplos em Brasília


O problema de Brasilia foi a falta de divulgação do evento. Todos os dias, quando pegávamos o taxi para ir, o motorista, invariavelmente, perguntava sobre o que estava acontecendo lá. Na entrada do estádio, nenhuma faixa com indicações (nisso SP e BH ganham disparado). Por mais incrível que pareça: apenas no último sábado e domingo é que isso foi feito! E os outros oito dias? Nada... nada...

Entrevista para a rede Record

As redes de TV estiveram por lá, em Brasília. Record, Globo, SBT, Rede Brasil – todas fizeram entrevistas, mostraram o que estava acontecendo, mas não percebi resultados do que elas mostraram. Eu mesmo dei várias entrevistas, que foram ao ar, ainda que incompletas, mas foram, assim como colegas escritores que estavam lá. Em São Paulo, não deu para perceber a presença das redes de TV ou, se o fizeram, foram apenas na “Sala de imprensa”, à qual os autores não tinham acesso. Muito legal isso!

Uma semelhança, boa, por sinal. Aliás, muito boa! De manhã e à tarde, a Bienal é dos estudantes das escolas públicas e privadas. Meninos e meninas curtindo, comprando alguns livros, dos mais baratinhos, com certeza, mas demonstrando que gostam de ler. E esse é o incentivo que precisamos. 

A conclusão que fica é, basicamente, esta: as Bienais precisam definir com clareza o seu objetivo: lucrar com os estandes ou atrair leitores para conhecer novos autores, novas obras?
Há mais observações, ficam para outro dia, e espero que autores que estiveram nas bienais também enviem suas colaborações.

Um comentário:

  1. Lembro-me que, quando morei em SP, de 1992 a 1995, a bienal era muito divulgada. A frequência das pessoas era imensa e havia uma excelente organização
    Eu acredito que todos os fatores expostos por você, são relevantes. Eu acho que a tecnologia nos distancia do cheiro de um livro. Fazer aquela viagem através das páginas lidas, manuseadas...

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