terça-feira, 19 de setembro de 2017

Entrevista com autor(a) - Bruna Longobucco

Vamos conhecer hoje uma autora mineira que conheci na Bienal de São Paulo. 

Bruna Longobucco é mineira de Belo Horizonte. Escritora independente há 13 anos e com 16 livros publicados. Tem obras para o público adulto, juvenil e infantil. Apaixonada por Literatura começou a escrever ainda na infância. É graduada em Comunicação Social e Direito e pós-graduada em Revisão de Texto, entre seus originais há poesias, contos, crônicas, músicas e romances.
Fanpage: https://www.facebook.com/blongobucco/






1.      Fale um pouco sobre sua trajetória de vida, antes de se dedicar à literatura.



A Literatura faz parte da minha vida desde que me entendo por gente, então é difícil falar sobre minha vida antes de me dedicar a ela. Aos 8 anos já era uma leitora assídua. Apaixonei-me por livros muito cedo e comecei a versificar aos 9. Depois vieram textos, contos e aos 16 escrevi meu primeiro romance. Enquanto eu vivia lendo e escrevendo, estudei, fiz duas faculdades, tirei minha OAB, mas os livros sempre me chamavam. Publicar foi outra história.



2.      Quando descobriu sua “vocação” para escrever?

A vocação eu descobri bem cedo, como eu disse, aos 9 anos já versificava. Do nada me inspirava. Mas só entendi como isso era essencial pra mim, quando prestei concursos públicos. Já num cargo jurídico, eu entendi que não podia viver sem me dedicar aos livros. Muita gente me julgou quando pedi exoneração. Não me importei e fui em frente.



3.      Fale um pouco sobre os livros que já publicou.

São 16 livros publicados. Contos, crônicas e romances. Os romances são os que me dão mais alegria. 

O menino que tecia sonhos, 2004;  

Além das nuvens, 2005; 



Luz do sol, 2006; 

O vale da liberdade, 2007; 


Um outro olhar, 2008; 

Sem destino, 2009; 

Meu caminho de lua, 2010; 

Centúrias, 2010; 

Duas Luas, 2011; 


Uma nova chance,  2012; 


O enigma da estrela, 2015; 


Mais que uma escolha, 2016; 


O outro lado do não, 2016; 

Um motivo pra sorrir, 2016; 


O novo mundo das letrinhas, 2016; 


O meu melhor amigo, 2017.







4.      Existe um que você gosta mais? Por quê?

Sem destino. Porque traz um universo rural que vivenciei boa parte de minha vida. E a personagem é forte, ela representa busca e reencontro, o que é parte de todos nós. 



5.      Comente sobre sua experiência com editoras. Ou você é adepta de produção independente?



Sim, posso dizer que sou adepta da produção independente. Vou explicar o motivo. Sobre as editoras, existem duas formas de publicação: As que não cobram para publicar e as que cobram para publicar. No início, quando ainda não sabia nada sobre autopublicação, a primeira e maior dificuldade que encontrei foi obter uma avaliação dos originais. O que muito se ouve é que as editoras que não cobram para publicar recebem pilhas e pilhas de livros e muitos são descartados sem análise. Eu cheguei a enviar alguns trabalhos, mas logo recebi de volta e me deu a impressão que estavam intocados. Naquele tempo eles ainda devolviam. Um dia recebi uma carta com a recusa da editora para outro autor. Ou seja, não era pra mim, mas veio no meu endereço. Nossa, isso marcou o começo da minha carreira como autora independente. Acabei desistindo das editoras não pagas, pois percebi que nem sempre existe um tratamento adequado na análise dos originais. Claro que devem existir exceções. Estou falando de uma experiência. Fato é que a partir daí decidi seguir em frente sozinha.



Antes vou falar brevemente sobre as editoras que cobram para publicar, os custos são altos. Eu já recebi orçamento que chegou a R$ 160 reais por custo unitário de um livro, acredite. Várias editoras hoje abrem espaço para publicação sob demanda, ou seja, o autor paga e publica sob um determinado selo editorial, mas os contratos para novos autores custam aproximadamente 14 mil reais, sem nenhuma divulgação e distribuição que realmente dê um retorno para o autor.  Daí, você investe muito e o livro se torna um desconhecido na última prateleira de uma livraria qualquer sem nenhuma chance de chegar ao leitor. Já passei por isso e fiquei na mesma.

Então, apesar de ter realizado alguns contratos com editoras, pequenas e grandes, acabei chegando à conclusão de que o melhor era seguir meu caminho como autora independente. Terceirizar os serviços e publicar por minha conta, sempre buscando o melhor preço e qualidade.  



6.      Nas entrevistas e bate-papos que acompanhamos pela internet, verificamos que existe uma preocupação muito grande com a revisão. Há livros sendo publicados sem revisão de espécie alguma, nem a técnica (própria da editora) nem a ortográfica/gramatical. O que você pode nos dizer a respeito? No seu caso particular, você contrata um(a) revisor(a)? Ou a editora se encarrega disso?



Hoje a gente percebe que angariar autores virou o foco de muitas editoras, porque eles pagam para publicar, trata-se de um público enorme, mas e a qualidade do que se publica, como fica? 

Eu sou autora independente, repito, mas não abro mão da qualidade do que faço, seja no miolo do livro ou na impressão. Eu sou revisora de texto há 9 anos. Fiz inclusive especialização. E mesmo assim hoje faço questão de submeter meus livros à revisão. E olha que faço isso depois de reler atentamente, mesmo minha revisora sendo muito competente. Não vou dizer que criatividade depende da técnica, não depende, mas para oferecermos nossos livros com qualidade precisamos sim nos importar com nosso texto. Vejo com tristeza essa postura de não revisar, essa despreocupação por parte das editoras e de alguns autores, muitos na verdade. Já ouvi autor falando que não revisa para economizar nos gastos de edição. É uma economia que só traz prejuízo.



7.      Outro ponto chave para os novos autores é a divulgação de suas obras. Pode nos dizer de sua experiência a respeito?



Sim, o autor quando começa nesse meio pensa que imprimir o livro é a parte mais difícil por causa dos custos de edição, mas não é. Depois vem a distribuição. Hoje quase não há distribuição de autores independentes. Então, você gastou, se envolveu e não tem como chegar às gôndolas de uma livraria. E não bastasse a dificuldade de distribuir, vem a divulgação, que também tem alto custo. E é outra barreira. Como apresentar o livro para o leitor? Sabemos que estatisticamente o Brasil é um país de não leitores. Ora, se somos um país de não leitores, imagine como é difícil um novo autor independente cativar um leitor? Porque infelizmente tanto o autor independente quanto a Literatura Nacional ainda sofrem preconceito. O que eu fiz e faço? Conquistar um leitor de cada vez. Divulgo nas redes sociais, tento ir às feiras e bienais, faço parcerias com blogueiros, e principalmente, vendo meus livros por indicação. O retorno e o carinho do leitor é a razão pela qual persisto há 13 anos como autora independente.



8.      Bienais e feiras de livros – são importantes para os novos autores?

Muito. Não importa o lugar e o público estimado, se você tem como ir vá. Eu demorei anos para interagir pessoalmente com o público. Publicava mais virtualmente e fazia lançamento para os parentes, amigos, colegas, conhecidos. Precisamos ir além do que nos é confortável. E já que não estamos na mídia, ta humildade é requisito fundamental. É no contato direto com o leitor que você vai ouvir a verdade sobre o seu livro, doa a quem doer. Não adianta eu falar sobre o que eu escrevo, mas sim a opinião de quem lê, de quem pega o livro impresso, de quem analisa a capa. Além disso, só nas feiras e bienais conseguimos esgotar nossas tiragens. Algumas não dão retorno, outras dão, não desanime, é assim que funciona.  



9.      Ouvem-se muitos comentários depreciativos sobre a literatura brasileira contemporânea. É comum ouvir-se algo do tipo “não gosto, não leio autores nacionais”. Em seu entendimento o que explicaria tal tipo de assertiva?

Só quem não lê a nossa nova literatura pode falar assim. Existe muita coisa boa chegando, mas a maioria dos poucos leitores assíduos em nosso país ainda não dão chance para a novidade, justamente por esse preconceito em relação ao que é  Nacional, ou simplesmente pela adoração do que vem de fora. Gostar de livro nacional, conhecer o que é novo, não desabona a literatura estrangeira. Cada uma tem seu lugar e é importante. Mas também não podemos esquecer que alguns leitores estão calejados por livros ruins e mal escritos que comprometem os excelentes livros recém-lançados. 



10.  A partir de sua experiência pessoal, o que poderia dizer para aqueles e aquelas que pretendem publicar livros?

Se você ama o que faz e não se imagina vivendo sem a escrita, vá em frente e seja persistente. Porém, cuidado com promessas editoriais enganosas, gastos desnecessários, da mesma forma, aprimore seu texto, leia, estude, leia mais e busque dar sempre o melhor de si no que faz.







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